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por Rodrigo Vianna
1) Dos três candidatos mais fortes, Aécio Neves pareceu-me o mais à vontade diante das câmeras. Foi uma surpresa, porque ele podia estar abatido depois da pesquisa IBOPE que o colocou fora do segundo turno. Aécio falou com firmeza, mas sem soar arrogante. Quando Dilma tentou colar na testa dele o FHC, Aécio não fugiu da conversa. O raciocínio dele parece mais bem encadeado que o de Dilma e Marina. É simpático. Aécio na tela mostra que muita gente no PT não faz bem quando o subestima e procura reduzir o candidato tucano a "um playboy que gosta de curtir a noite carioca". Aécio não é (só) isso. Ganhou pontos com a atuação na Band, deu esperanças à turma dele de que pode reverter o jogo ainda.
2) Dilma, quando teve chance de escolher, preferiu bater em Aécio. O PT (numa campanha dominada pela marquetagem) estava preparado para o velho debate "PSDB privatizou e gerou recessão nos anos FHC, nós fizemos melhor". Isso não ganha mais eleição: serviu até 2010, mas agora é preciso avançar numa pauta trabalhista (fim do fator previdenciário, redução da jornada, mudança da tabela do IR).
3) Dilma fugiu do debate direto com Marina. Pode ter avaliado que, se perguntasse diretamente pra Marina, estaria ajudando a cristalizar uma polarização que não interessa ao PT. Mas pareceu-me um erro. Se Dilma quiser interromper a onda marineira, precisa agir agora, dispensar os marqueteiros e fazer Política. Podia ter começado a desmontar Marina, apontando as contradições de uma "nova política" feita com banqueiros e com a chancela do sujeito (Marcio França) que é o vice de Alckmin em São Paulo.
4) Marina Silva parecia irritadiça em alguns momentos. Mas surfou bem na onda da "não política": repetiu que vai governar "com os melhores de cada partido" (uma platitude, que cola e dá voto, por mais falsa e vazia que seja). Marina, no entanto, tem dificuldades para explicar alianças concretas com banqueiros e empresários que devem dinheiro ao fisco. Incrível que Levy Fidelix tenha feito a pergunta que gerou o grande tiro no pé de Marina. Levy perguntou sobre o apoio da banqueira Neca Setúbal. Marina disse que achava um erro essa história de criticar a "elite" (!). E lascou: "Neca é uma educadora, é tão elite quanto o Chico Mendes". Marina se entregou ali, mostrou que está rendida aos banqueiros. Marina não aguenta um Levy Fidelix.
5) As perguntas feitas pelos jornalistas da Band pareciam saídas de um manual da direita na Guerra Fria: ataques aos índios, ao Estado, aos movimentos sociais. Boris Casoy e Zé Paulo de Andrade pareciam à direita de Gengis Khan. Panunzio foi mais comedido. De toda forma, constrangedor para a Band; e mais um demonstrativo de que o PT errou feio por não ter enfrentado de frente a pauta da democratização da mídia (Dilma fugiu do assunto no começo do governo, e no debate foi muito recuada ao falar do tema).
6) Dilma, depois de 4 anos, segue travada na fala. Não empolga, não cria empatia. Dilma é racional demais, uma espécie de Carlos Alberto Parreira da política: pode até ganhar, mas sem brilho. Marina é um Tite piorado: fala, fala e a gente mal entende. Aécio é um Ney Franco: gente boa, mas dá a impressão de que seria melhor tê-lo como parceiro na mesa do bar do que como presidente da República.
7) Luciana Genro (PSOL) mostrou que há espaço no Brasil para uma terceira via, pela esquerda; na França e na Alemanha, o desgaste dos partidos socialistas (PS e SPD) gerou novas legendas, fortes, com base social e cerca de 10% e 15% dos votos. O problema do PSOL é que joga fora a base social do lulismo, não dialoga com ela. Faz um discurso sectário. Mas Luciana mostrou que há uma pauta para o país, a ser tratada pela esquerda.
8) Dos sete candidatos no estúdio, quatro traziam o DNA petista: além de Dilma, Luciana Genro, Marina Silva e Eduardo Jorge vieram do PT - demonstração cabal de que o partido mais detestado pela mídia brasileira é também a legenda em torno da qual se desenhou a política brasileira dos últimos 30 anos.
Sobre os dilemas do PT, escrevo logo mais, em outro texto...