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Marina é uma candidata fluída como as lágrimas que inundaram o Recife. Essa é a força de Marina: debaixo do chapéu do "novo" cabe qualquer coisa. Mas essa é também a fraqueza dela: a "não política" já deu em Collor, já deu em Janio. Em 1960 e 1989, o povo brasileiro preferiu arriscar no "novo". Vai arriscar agora?por Rodrigo Vianna Nunca dantes na história desse país, um candidato lançou-se à presidência debruçado sobre um caixão. Deu-se no Recife, com ampla cobertura da Globo, aquilo que Alexandre Cesar Costa Teixeira (blog Megacidadania) chamou de "palancório": mistura de palanque com velório. Marina apareceu sorrindo nas fotos ao lado do caixão. Concordo com a análise de Paulo Nogueira (Diário do Centro do Mundo): bobagem achar que Marina (ou qualquer um) é proibido de sorrir numa situação trágica. Mas o fato é que o palancório do Recife deu a Marina motivos reais para, simbolicamente, sorrir sobre o caixão de Eduardo. A direita brasileira tentou produzir nos últimos dias um 1954 às avessas. Uma farsa de agosto (em 54, o povção partiu pra cima da UDN e dos jornais que encurralaram Vargas, levando o presidente a suicídio). Nas redes sociais, em 2014, agigantou-se a tese de que "Dilma mandou matar Eduardo". Mais uma tese maluca, que mostra o grau de desconexão da realidade de parte dos eleitores de oposição. Milhares de "memes" foram produzidas para se criar uma onda de hostilidade à candidata petista. Quando bateu na praia, a onda era do tamanho de uma marolinha. Dilma segue do mesmo tamanho na pesquisa DataFolha divulgada nesta segunda-feira (18 de agosto). Marina cresceu, abocanhando a herança de Eduardo e mais o "não-voto", a turma da "não-política". Quem mais perdeu com a onda marineira dos últimos cinco dias não foi Dilma, mas Aécio. O resultado, por agora, é: Dilma 36% (igualzinho a julho), Marina 21%, Aécio 20% (também igualzinho a julho). Sim, garante-se o segundo turno (a verdade é que haveria segundo turno de qualquer jeito; só petistas mais fanáticos acreditavam no contrário). E, sim, a decisão pode se dar entre Dilma e Marina. O deus Elio do jornalismo brasileiro dizia o contrário em "artigo" recente: "A ideia de uma candidata a líder espiritual [Marina] reconforta o eleitor desencantado com a polaridade PSDB-PT, com seus mensalões mineiro e federal. Para o primeiro turno isso é um bálsamo. Para o segundo, uma aventura." O colunismo tucano queria Marina pra "garantir segundo turno". Hum... Faltou combinar com o eleitor. Além dos 8 pontos que eram de Eduardo, Marina capturou gente que ia anular o voto, ou que nem iria à urna. Recolheu ainda alguma coisa entre nanicos (na última sexta, um velho amigo, da turma do "contra tudo que está aí, avisava: "já não preciso votar no Rui do PCO; agora eu vou de Marina"). Cristaliza-se a impressão de que os tucanos podem sofrer a maior derrota eleitoral da história, ficando fora do segundo turno. Mas essa, por enquanto, é apenas uma possibilidade. Comentaristas gagos da Globo e da CBN, blogueiros da marginal, mervais e outros quetais estão agora divididos: alguns querem surrar Marina, desesperam-se porque o plano era que ela subisse "só um pouquinho" pra garantir Aécio no segundo turno; os mais despudorados já pensam em rifar Aécio e capturar Marina. O drama é que, se a direita cristianizar Aécio e ele cair demais, a conta não fecha. A oposição precisa de Marina e Aécio somando 40%. Além disso, Aécio desidratado significa que ele pode perder também Minas Gerais. O petista Pimentel está em primeiro na disputa pelo governo. Com Aécio fraco, em terceiro, o PSDB pode perder Minas. O que seria um desastre para a oposição. Até por isso, Aécio vai lutar uma briga que já não é para vencer, mas para sobreviver politicamente. Não está escrito nas estrelas (nem a divina providência decidiu) que Marina vai crescer numa onda avassaladora até a eleição. Mas ela tem, sim, o perfil ideal para desfazer o grande nó da eleição de 2014. Até agora, ficara claro que a erosão sofrida por Dilma desde junho de 2013 não se transformara em votos para a velha oposição. Marina não é Aécio. O discurso do "novo" pode, sim, levar a candidata do PSB ao segundo turno - com boas chances de vencer Dilma. Não seria a primeira vez que um político traveste-se de "não político" para ganhar eleição. Pode dar certo na hora de enfrentar as urnas. Mas governar são outros quinhentos. Um leitor comenta aqui no blog: "(...) com quem Marina governaria? Como o PSDB/DEM de FHC ou com o PMDB/PTB de Lula e Dilma? Eis a questão e a pergunta que deve ser feita a ela, já que o PSB é nanico e o RS [Rede Sustentabilidade] apenas um nascituro imprevisível. O último que fez isso foi Collor com o PRN. Acabou como acabou: impeachment porque não tinha sustentação no Congresso Nacional." Marina é, sim, uma candidata fluída como as lágrimas que inundaram o Recife. Essa é a força da candidatura dela: debaixo do chapéu do "novo" cabe qualquer coisa. Mas essa é também a fraqueza de Marina: a "não política" já deu em Collor, já deu em Janio. Não acho que seja justo comparar Marina a nenhum dos dois personagens. Ela representa - também - um enorme contingente de eleitores e cidadãos que buscam um novo padrão de desenvolvimento. Isso não é janismo, não tem nada a ver com Collor. O problema é que - na política e na vida - as pessoas e os partidos não são (apenas) aquilo que dizem ser. O PT podia dizer, em 89 ou até em 2002, que era socialista; mas sempre foi social-democrata. Os tucanos, ao contrário, podem bater no peito e dizer que são social-democratas, mas não passam de comandantes do ideário neoliberal. E Marina? Ela se diz o "novo". O que é isso? Saberemos logo. Este blogueiro segue martelando o que dizia em 2013: essa é eleição para dois turnos. Sempre foi. Com Marina no segundo turno, o jogo para Dilma será mais complicado. No DataFolha, Marina aparece empatada com Dilma num eventual segundo turno (mas numericamente à frente da presidenta). É preciso lembrar, no entanto, que Lula ainda vai para a TV. Dilma tende a crescer um pouco com o horário eleitoral. Quando o rio de lágrimas secar, restará a campanha e os interesses concretos. Esses é que farão o povo decidir. Em 1960 e 1989, o povo brasileiro preferiu arriscar no "novo". Vai arriscar agora?