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Por Vitor Hugo Soares, no Terra Magazine
Pelos alaridos que se espalham no País, principalmente na região Nordeste, é fácil perceber o que alguns metidos a mais sabidos que os outros tentam inutilmente ainda ocultar debaixo de sete capas rasgadas , como segredos de Polichinelo.
Respira-se entre a Bahia, Ceará e Pernambuco um clima de conflagração não declarada e mal camuflada, nestes últimos dias de nervosa agitação política de fim de fevereiro e começo de março.
Fruto não da secura do tempo, que incomoda e faz mal até a quem vive nos belos balneários nordestinos à beira mar nestes inclementes e prolongados períodos de seca braba, como há muito não se vê por esta bandas.
O abafamento do clima deve-se, acima de tudo, à antecipação da campanha presidencial – socialistas, gregos e tucanos de olhos grandes na poltrona da petista Dilma Rousseff. Ao contrário do Papa Bento XVI, a presidente da República do Brasil não pensa nem de longe em deixar tão cedo o posto no Palácio do Planalto.
Nem esconde mais que brigará com todas as forças e armas por um segundo mandato. Mas (sempre tem um mas em toda boa história de disputas políticas e eleitorais), como se verá a seguir nestas linhas semanais de opinião.
Neste caso, o principal tempero de toda a “alaúza” (como diziam os pernambucanos de Petrolina, em minha juventude na beira do Rio São Francisco) é a entrada – cada dia mais ostensiva e decidida – do governador de Pernambuco, Eduardo Campos, presidente e guia nacional do PSB, na roda gigante de prováveis candidatos à sucessão de Dilma Rousseff em 2014.
Um fato já existe e ninguém pode negar com seus segredos de Polichinelo: Há algo rondando os céus nordestinos, além dos aviões de carreira e dos urubus que, perigosamente,sobrevoamnas proximidades dos aeroportos. Andam bem movimentados os caminhos aéreos que conduzem à Salvador, Recife e Fortaleza. E os sinais do ar se refletem no solo, também com barulho.
Vamos aos exemplos, para contextualizar os fatos, como recomendam os melhores guias de redação do jornalismo.
Semana passada, logo depois de abalar as fundações dos barracos do PSB (seu partido) ao criticar ferinamente o governador Eduardo Campos, pretendente forte a candidato presidencial ano que vem, o esquentado ex-governador do Ceará e ex-ministro dos governos de Itamar Franco e de Luís Inácio Lula da Silva, Ciro Gomes, pousou na capital baiana soltando labaredas pela língua e pelo nariz.
Enquanto o governador petista da Bahia, Jaques Wagner, ainda jogava panos quentes na tentativa de amainar as feridas aberta pelo político cearense nas relações PT-PMDB, Ciro, antes de fazer palestra em um encontro com empresários na Bahia, reforçou e ampliou ainda mais as críticas de dois dias antes.
Sem perder tempo, o temido incendiário, vindo do Ceará, instalou suas baterias em ponto estratégico da Baia de Todos os Santos e disparou contra a aliança do governo Dilma com o PMDB, mirando em duas cabeças coroadas do partido de Ulysses: Michel Temer e José Sarney.
Ao repórter Nelson Barros Neto, jovem ativo e atento correspondente da Folha de São Paulo, Ciro vaticinou que será muito difícil a presidente escapar de uma coalizão para 2014 fundamentada no apoio de Renan Calheiros, e do presidente da Câmara, Henrique Alves, ambos peemedebistas.
“Se escapar (dessas alianças), eu quero o santo dela para trocar o da minha devoção. Eu não acredito que escape”, atiçou o socialista de Sobral na terça-feira , antes do evento com empresários em Salvador. O PSB, segundo ele, seguirá participando apenas “das migalhas do banquete fisiológico da coalizão PT-PMDB”, sem ter “a menor influência” no governo federal.
Não satisfeito, além de reafirmar que Eduardo Campos não tem proposta para o país, depreciou as pretensões de Marina Silva (Rede) e Aécio Neves (PSDB) para 2014. Ainda que o trio tenha “todos os dotes e qualificações pessoais” para o cargo, isso não seria suficiente, avaliou Ciro, na Folha.
Foi o suficiente para quebrar o retiro da Quaresma do ex-presidente Lula em São Bernardo, no ABC paulista. Com as roupas de bombeiro do PT e de Dilma, o ex-presidente desembarcou já na quarta-feira em Fortaleza para tentar evitar a propagação do incêndio ateado por seu ex-ministro.
Em meio à beligerância com o PSB, pela disposição do aliado em lançar a candidatura própria de Eduardo Campos à Presidência, como definiu o Diário do Nordeste, de Fortaleza, o ex-presidente Lula (que na véspera havia se comparado ao ex-presidente Lincoln, dos Estados Unidos), disse que é necessário ter “humildade” para apoiar os outros.
O conselho foi dado no final de um seminário no Ceará, Comemorativo do aniversário de fundação do PT e marcado por discursos inflamados. O primeiro resultado concreto foi uma sonora vaia dos militantes petistas no irmão de Ciro, o governador Cid Gomes(PSB) que, convidado, compareceu à festa do partido aliado, "em homenagem à presença de Lula"
O resto, a conferir, se a barulheira política no Nordeste permitir.