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Ex-diretor da Dersa ataca tucanos e deixa bomba nas mãos de TCU e MP
Por Vinicius Mansur, na Carta Maior
O ex-diretor da empresa Desenvolvimento Rodoviário S.A. (Dersa) Paulo Vieira de Souza compareceu para depoimento na Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) do Cachoeira nesta quarta-feira (29) sem advogado e sem ter recorrido a habeas corpus que lhe ratifica-se o direito constitucional de ficar calado. “Tudo que queria era uma oportunidade de me defender”, disse.
Os maiores questionamentos a Paulo Souza - que disse não gostar de ser chamado de Paulo Preto - foram sobre a o adicional de R$ 264 milhões concedidos as empreiteiras que realizaram as obras do trecho sul do Rodoanel, em São Paulo, financiado por meio de convênio entre a Dersa e o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit), totalizando R$ 3,6 bilhões dos quais cerca de R$ 2,4 deveriam ser custeados pelo governo de São Paulo e R$ 1,2 bilhões pelo governo federal. O projeto foi licitado no modelo empreitada global, que determina que o valor inicial previsto não poderia ser acrescido posteriormente.
Em depoimento na CPMI ontem (28), o ex-diretor geral do Dnit, Luis Antônio Pagot, disse que foi pressionado por Paulo Souza para assinar um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) que concederia o aditivo de R$ 264 milhões, mas que não cedeu às pressões. Pagot disse ainda que, “em uma conversa de bêbado”, foi informado de que esse dinheiro seria usado nas campanhas dos tucanos José Serra e Geraldo Alkimin e de Gilberto Kassab (PSD), em 2010.
Hoje, Paulo Souza negou participação em qualquer negociação de verbas para campanha e as supostas pressões sobre Pagot. O ex-diretor da Dersa jogou a responsabilidade do aditivo às obras do Rodoanel para o Tribunal de Contas da União (TCU) e ao Ministério Público (MP). “Por que teve aditivo no preço global? Por uma postura técnica do TCU, que achava que o preço global tinha que fazer medições, eu dizia que não”, disse antes de explicar que foi o MP o responsável por coordenar as 11 reuniões que decidiram conceder o aditivo mediante o TAC.
Como consequência, o deputado Paulo Teixeira (PT-SP), em nome da CPMI, cobrará explicações do TCU e do MP sobre o caso.
O sumiço de R$ 4 milhões
O ex-diretor da Dersa também voltou a negar que tenha sumido com R$ 4 milhões que seriam destinados por empreiteiras à campanha de José Serra, conforme denunciou a revista IstoÉ em agosto de 2010. Segundo Souza, essa denúncia é obra de “detratores” e “ingratos”, entre eles, tucanos de “alta plumagem que não aparecem por covardia”. Instado a listar os detratores, Souza apontou o vice-presidente do PSDB, Eduardo Jorge, o ex-tesoureiro-adjunto do PSDB, Evandro Losacco, o candidato à prefeitura de São Paulo pelo PRB, Celso Russomano, o ex-deputado José Anibal (PSDB-SP), além das revistas IstoÉ, CartaCapital e Época e o jornalista Paulo Henrique Amorim.
Apesar dos inúmeros atritos com os tucanos, Paulo Souza disse que sua exoneração da Dersa, em abril de 2010, aconteceu porque o então governador Alberto Goldmam (PSDB) não simpatizava com ele.
Relações questionadas
O deputado Candido Vaccarezza (PT-SP) questionou Paulo Souza por ter declarado que era um nome das empreiteiras na gestão da Dersa e por ter afirmado que a ampliação da marginal Tietê foi uma demanda delas. Souza disse que jamais negaria que seu nome é vinculado ao mercado, mas que não trabalhou mais na iniciativa privada desde que assumiu cargos públicos, em 1990, e completou:
“O mercado da construção civil, o que eles necessitam, seja do partido PT, PSDB, PCdoB, qualquer partido, eles precisam de gestor público. Ele é a mola mestra do lucro das empresas, não tendo gestor público dificilmente eles conseguem implementar um obra.”
Em entrevista à Folha de S.Paulo, em outubro de 2010, o ex-diretor da Dersa afirmou que “ninguém nesse governo deu condições de as empresas apoiarem mais recursos politicamente do que eu”.
Paulo Souza ainda negou que tenha beneficiado a construtora Delta, empreiteira acusada de pertencer ao esquema de Carlos Cachoeira. De acordo com Vaccarezza, o maior contrato da Delta no Brasil foi firmado junto à Dersa. Entretanto, Souza afirmou que a empresa ganhou apenas 1,9% de todo o montante licitado em sua gestão, correspondente às obras de revitalização da marginal Tietê. O contrato inicial era de R$ 172 milhões, mas com um aditamento de 24,9% - a lei permite até 25% - pulou para R$ 215 milhões.
Cavendish
O ex-presidente da Delta, Fernando Cavendish, também foi convocado para depor na CPMI nesta quarta-feira. Entretanto, munido de habeas corpus, usou o direito de ficar calado.