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por Rodrigo Vianna
A China resolveu reclamar do Brasil. Uma autoridade diplomática do país asiático diz que Lula prometeu reconhecer a China como "economia de mercado", mas que na prática isso não correu (o que atrapalha o ingreso chinês na OMC - Organização Mundial do Comércio).
A pressão dos chineses talvez seja uma boa chance para o Brasil rever a maneira de se relacionar com a potência asiática. Até porque descobrimos recentemente - graças aos Wikileaks, divulgados pela agência de notícias "Pública" - o que a China pensa do Brasil: depois de prometer apoiar o pleito brasileiro de ocupar uma cadeira no Conselho de Segurança da ONU, os chineses saíram dizendo aos EUA que o Brasil "não tem ´capacidade e influência´ para ser líder e que as ambições do país excedem seu verdadeiro peso no cenário internacional".
A parceria comercial com a China, é fato, ajudou o Brasil a resistir bem à crise de 2008. Mas tem uma consequência perversa a médio prazo: desindustrialização!
Meses atrás, escrevi um texto sobre isso: "A fama de Pochmann e o pernil de Delfim". Aqui, um pequeno trecho: "o Brasil corre o risco de se perder na fórmula fácil da “fa-ma”. Não se trata do Big Brother Brasil. Mas de algo mais sério. A “fa-ma”, diz Marcio Pochmann (presidente do IPEA), é a mistura de fazenda com indústrias maquiladoras (como as existentes no México).O Brasil tem um parque industrial sofisticado – construído a duras penas, desde a era Vargas. Nossa indústria parece ter resistido às ondas de abertura recentes. Mas tudo tem limite."
O Brasil não consegue concorrer com os chineses. Uma pessoa amiga, que vive de exportar calçados e roupas brasileiras, disse-me essa semana: "estou no limite, não temos mais preço, estamos perdendo mercado; estou pensando em vender o imóvel em que funciona a empresa e aplicar o dinheiro no banco".
[caption id="attachment_8788" align="alignleft" width="150" caption="Vamos proteger nosso mercado, ou fechar nossas fábricas?"][/caption]
Se esse é o quadro entre os exportadores, imagine o que não acontece com as indústrias brasileiras. A Azaléia, por exemplo, anuncia que pode fechar a fábrica na Bahia, para reabri-la em Nova Délhi, na Índia, como você pode ler aqui.
É gravíssimo.
O blogueiro Eduardo Guimarães - que sobrevive da venda de autopeças brasileiras para outros países da América latina - é outro a martelar: o quadro é dramático para a indústria brasileira. Não conseguimos mais competir.
O que podemos fazer? Centralizar o câmbio.
O que é isso? Controlar a entrada e saída de divisas. Economistas liberais têm coceira quando ouvem falar nisso. Mas é a saída.
E o controle teria múltiplas funções. Vejamos.
Os juros altos no Brasil atraem dólares atrás de rendimento fácil. Isso faz o real ficar forte demais frente ao dólar. Resultado: nosso produtos ficam caros, perdem mercado aqui dentro para os chineses, e também não conseguem competir lá fora. Não é à toa que dependemos , cada vez mais, da exportações de produtos primários. E só.
Quase cem anos depois de empreender um esforço gigantesco para se industrializar, o Brasil corre o risco de fazer o caminho inverso: seremos, de novo, uma grande fazenda exportadora de alimentos, ferro e outros produtos primários?
E há outro risco no horizonte. Se houver quebradeira na Europa - hipótese cada vez mais provável - as empresas e fundos que têm dinheiro no Brasil correrão pra tirar tudo daqui e, assim, compensar os prejuízos nas matrizes.
O controle de câmbio pode evitar essa corrida maluca que - no limite - faria a crise européia contaminar também os bancos e a economia brasileira.