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Wikileaks e as drogas
por Coletivo DAR
Certamente o termo mais veiculado pela mídia mundial no final deste 2010 é “Wikileaks”. Tamanha a repercussão pode levar até o nome do grupo a ser considerado uma palavra de língua inglesa. Fundada em 2006, a organização sediada na Suécia tem como missão divulgar documentos e informações secretas de interesse público, especialmente provenientes de governos, e ganhou o mundo após divulgar mais de 250 mil documentos secretos do governo estadunidense.
O conteúdo tornado público é enorme, e por isso mesmo ainda não foi totalmente destrinchado, mas só sua divulgação já levou à represálias de todos os tipos por parte do governo dos EUA e de seus aliados empresariais e de outros governos. Entre as centenas de milhares de documentos e trocas de correspondências estão informações e opiniões de todos os tipos, envolvendo diversos países e políticos. Como bem apontou o intelectual Boaventura Souza dos Santos, “A revelação, num curto período, não só de documentação que se sabia existir mas a que durante muito tempo foi negado o acesso público por parte de quem a detinha, como também de documentação que ninguém sonhava existir, dramatiza os efeitos da revolução das tecnologias de informação e obriga a repensar a natureza dos poderes globais que nos (des)governam e as resistências que os podem desafiar”.
Como não poderia deixar de ser, a questão das drogas surge em diversos momentos – o DAR traz aqui alguns destes pontos. Vale sempre ressaltar que grande parte das informações provém de relatos e opiniões de dilpomatas estadunidenses, podendo obviamente serem falsas.
Invasão do Complexo Alemão foi discutida com Consulado dos EUA
Em sua fala durante seminário sobre encarceramento em massa realizado pelo Tribunal Popular em São Paulo, Vera Malaguti Batista comentou que o que antes parecia teoria da conspiração se mostrou até pouco diante do verdadeiro exposto pelo Wikileaks. No caso da operação realizada pelo Exército no Complexo do Alemão, se não fora os documentos vazados poucos acreditariam que detalhes dela foram discutidos pelo secretário de segurança do Rio com membros do Consulado dos Estados Unidos. Segundo a Folha de S.Paulo, “José Mariano Beltrame, antecipou que faria a operação de tomada do Complexo do Alemão e previa uma ação com ‘violência traumática’”. O encontro no consulado ocorreu em 22 de setembro de 2009, e nele Beltrame já informou aos estadunidenses que a operação ocorreria em 2010. Em despacho intitulado “Doutrina da Contrainsurgência chega às favelas do Rio” revelado pelo Wikileaks, o cônsul DenisHearne afirma que a estratégia das UPPs no Rio tem pontos em comum com ações das tropas americanas no Iraque e no Afeganistão.
Ainda segundo documentos revelados, a pacificação das favelas no Rio prioriza as áreas turísticas.
Conspiração da Pfizer evita julgamento na Nigéria
A multinacional farmacêutica Pfizer testou um medicamento para meningite em crianças nigerianas de nome Trovan. 11 crianças morreram e dezenas de outras tiveram sequelas, e para evitar um julgamento a empresa jogou pesado. Como aponta matéria do portal Opera Mundi, “despachos da Embaixada dos Estados Unidos em Abuja revelaram como a Pfizer conquistou esse acordo, usando detetives para coletar provas contra membro do judiciário nigeriano e publicá-las na imprensa. De acordo com os documentos, o plano deu certo e o procurador-geral do país, Michael Aondoakaa, acusado de corrupção, abandonou o caso”. Diplomatas relatam um encontro “entre a embaixadora norte-americana Robin Renee Sanders e os advogados da farmacêutica, Joe Petrosinelli e Atiba Adams. Quase dois meses antes de o acordo se tornar público, os advogados contam à embaixadora que a negociação está praticamente concluída e que pagarão ao todo 75 milhões de dólares: “10 em custos legais, 30 para o governo do estado de Kano e 35 para os que participaram [dos testes] e suas famílias’”, afirma o texto.
De acordo com a Revista Exame,a licença para Trovan foi retirada da Europa por sua toxicidade hepática, e a administração a crianças não está autorizada em nenhum lugar.”Os parentes dos nigerianos tratados com Trovan dizem que nunca deram permissão para o experimento e desde 2001 tentam processar a Pfizer, que argumenta que não fez nada de errado e que as mortes ocorridas se devem apenas à meningite”.
Família real saudita e suas festas de arromba
Walter Maierovitch explica que na Arábia Saudita “uma monarquia absoluta, cabe ao rei, com base na chamada Lei fundamental de 1992, custodiar os lugares sagrados (Meca e Medina) e velar pelos bons costumes”. São proibidas a dança e todas as drogas, pois estas tirariam o homem de seu juízo normal. No entanto, documentos divulgados pelo Wikileaks revelam detalhes de uma festa de Helloween realizada por um membro da família real em 2009, que teria sido “regada a álcool, com cortina produzida por fumacê e muita cocaína”, nas palavras de Maierovitch.
Políticos moçambicanos supostamente ligados ao comércio de drogas ilícitas
O blog da Psicotropicus conta que em 2009 “o encarregado de negócio da embaixada norte-americana em Moçambique disse que o país ‘se tornou a segunda praça africana mais ativa no trânsito de narcóticos’, perdendo apenas para Guiné Bissau”. “O tráfico de drogas em Moçambique é controlado por duas grandes organizações criminosas chefiadas pelos moçambicanos de origem asiática Mohamed Bachir Suleiman (“MBS”) e Ghulam Rassul Moti. Outros documentos divulgados pelo WikiLeaks revelam que “MBS tem laços diretos com o presidente Armando Guebuza e com o ex-presidente Joaquim Chissano”. Além disso “Suleiman teria financiado a campanha da Frelimo (o partido do governo) e ajudou significativamente nas campanhas eleitorais” de Guebuza e Chissano”, afirma o texto da ONG carioca.
É importante no entanto a ressalva feita pelo site O País, de que “os ficheiros americanos divulgados pelo wikileaks têm em comum o facto de mencionar nomes de pessoas e associá-los a actividades criminosas, mas sem nunca apresentar provas ou ligações evidentes das pessoas aos actos”.
Tráfico influencia exército peruano
Segundo telegrama do embaixador dos EUA no Peru, Michael McKinley, o tráfico de drogas tem grande influência sobre o Exército do país andino. “Alguns soldados, quando completam o serviço voluntário em que aprendem como utilizar as armas, além de táticas militares, são “recrutados por redes de narcotráfico”, destaca o documento”, diz matéria da Folha de S.Paulo.
Irmão do presidente afegão acusado de narcotráfico e corrupção
Documentos revelados apontam que diplomatas estadunidenses acusam Ahmed Wali Karzai, irmão do presidente afegão Hamid Karzai, de “corrupto e envolvido no tráfico de drogas”. “Notas diplomáticas redigidas na embaixada americana em Cabul reafirmam, sem apresentar provas, as acusações feitas regularmente nos últimos anos pelos serviços de inteligência e meios de comunicação americanos a respeito de Ahmed Karzai, principal autoridade do conselho provincial de Kandahar (sul do Afeganistão), que sempre negou as alegações e afirmou que nunca foram apresentadas provas contra ele”, afirma a Exame.