Análise fria dos números: Dilma não caiu

A imprensa diz que Dilma caiu. Isso não é verdade. No segundo turno, o que caiu foi a diferença entre Serra e Dilma. Dilma caiu, sim, mas foi na reta final do primeiro turno. Isso é fato. Mas, do dia 3 para cá, não há números que apontem queda. Foi Serra que subiu. Mas pode ter batido no teto. A conferir.

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Parece agora um consenso que Lula precisa voltar com força para a campanha de Dilma. Escrevi sobre isso aqui, Brizola Neto (avisam-me os leitores) já escrevera um dia antes. E o Antônio Lavareda, em entrevista a Bob Fernandes no Portal Terra, acaba de dizer o mesmo. Dilma é Lula. Existe por causa do Lula. Esconder Lula é um erro sem tamanho. Lavareda lembra os casos de dois presidentes bem avaliados que não conseguiram eleger sucessores: Clinton (porque confiou demais em Al Gore, e subestimou a máquina conservadora dos republicanos) e Bachelet no Chile (porque não parecia se afinar com o candidato escolhido por sua coligação, o ex-presidente Frei). Lula, pelo que sei, não se encaixa em nenhum dos dois exemplos. Mais que isso, Lula é que pode falar diretamente com a grande massa de eleitores do Norte/Nordeste, e das periferias desse Brasil (massa que, apesar de todo bombardeio das últimas semanas, não abandonou Dilma). Se Lula entrar pra valer na campanha, e se fizer o discurso direto para os pobres (mostrando os riscos que uma vitória tucana traz), acredito que seja possível conter a onda pró-Serra – que nesse momento é um fato inegável. Até porque os números, apesar de preocupantes para os lulistas, não devem gerar desespero. A imprensa diz que Dilma caiu. Isso não é verdade. No segundo turno, o que caiu foi a diferença entre Serra e Dilma. Dilma caiu, sim, mas foi na reta final do primeiro turno. Isso é fato. Mas, do dia 3 para cá, não há números que apontem queda. Foi Serra que subiu. E, com isso, a diferença diminuiu. E Serra ainda tem margem para subir mais um pouco. Se as próximas pesquisas* indicarem margem mais apertada, mas com Dilma no patamar de 47% ou 48% dos votos totais (tinha 48% no ultimo DataFolha), isso significará que Serra até cresce (sobre os indecisos marinistas), mas não avança sobre o eleitorado de Dilma.  A campanha de Dilma segura-se nesse raciocínio: Serra teria um teto, e Dilma um piso. Eles podem se estabilizar em patamares muito próximos, mas com Dilma pouco acima. Em tese, faz sentido. Desde que Dilma não se desidrate. Acompanhem... Serra teve 33 milhões de votos no primeiro turno. As pesquisas feitas há um mês diziam que ele poderia mesmo herdar - no mínimo - metade dos votos de Marina: 10 milhões. Mas, ao que parece, com a campanha violenta contra Dilma Serra deve capturar quase dois terços do eleitorado de Marina (cerca de 13 milhões de votos, do total de 20 milhões que a candidata do PV obteve). Serra, portanto, pode-se consolidar em cerca de 46 milhões de votos, a duas semanas do dia 31. Não seria surpresa nenhuma. Dilma, por sua vez, teve 47 milhões de votos no primeiro turno. No segundo turno, deve conquistar pouco mais de 20% dos votos de Marina e mais uma parte do pequeno eleitorado do PSOL no primeiro turno: ou seja, cerca de 5 milhões de votos. Dilma, portanto, pode-se consolidar com algo em torno de 52 milhões de votos. Dilma 52 milhões x Serra 46 milhões =  98 milhões de votos válidos. No primeiro turno, tivemos 101 milhões de votos válidos. A diferença - para menos - estaria na parcela do eleitorado de Plínio e Marina (cerca de 10% ou 15% dos marinistas) que se recusam a votar no PT ou no PSDB. Mas esse eleitorado, talvez, também possa se decidir por um outro candidato se a campanha ficar ainda mais acirrada. Se o total de votos no segundo turno ficar mesmo pouco abaixo dos 100 milhões, os 52 milhões de votos de Dilma podem se transformar numa fortaleza difícil de ser invadida por Serra. Uma fortaleza que - em tese, repito -  garantiria a vitória. Mas é bom não criar ilusões. A stuação, para Dilma, não é e nem será fácil, até o fim!  A diferença é pequena. A questão é saber: Serra conseguirá tirar parte dos eleitores que Dilma obteve no primeiro turno? Na reta fnal do primeiro turno, o bombardeio de denúncias tirou quase 10 pontos de Dilma. Serra precisaria tirar agora mais 3 ou 4 pontos. E tarefa mais dif´cil porque  o eleitorado que ficou com Dilma até agora, em tese, é bastante fiel.  As minhas contas mostram que não basta Serra conquistar o eleitorado que foi de Marina. Ele precisa avançar sobre Dilma. Com Lula na campanha, Dilma conseguirá segurar essa margem que hoje é muito estreita? É possível. Para isso, o PT precisa (como já vem tentando) conter o avanço de Serra, mostrando a hipocrisia dos tucanos nos temas morais (já aparecem aqui e ali notícias sobre um aborto que a própria Monica Serra teria feito – isso segundo depoimento de uma ex-aluna dela) e o risco de um governo do PSDB reverter os avanços sociais obtidos por Lula. Há indícios de que essa contenção estaria começando a ocorrer. Se a estratégia do PT for bem sucedida, a diferença pode se manter muito pequena até a eleição (algo como 4 ou 5 milhões de votos), mas com um leve favoritismo para Dilma. O que pode atrapalhar a petista: atuação ruim nos últimos debates, abstenção muito alta no Nordeste e a dificuldade para conter a sangria do eleitorado popular (por conta da boataria religiosa). O que pode atrapalhar Serra: atuação ruim nos debates, o feriado de Finados (que pode levar muita gente de classe média para a praia no dia do segundo turno) e o salto alto. Os tucanos parecem tomados pela soberba (a mesma que atrapalhou Dilma no fim do primeiro turno), e já falam até em transição para o próximo governo. FHC já fala em chamar Lula para uma conversa. Sergio Guerra, presidente do PSDB, dá entrevistas como se já tivesse ganho a eleição. Encomendaram o terno para a posse? Pode ser cedo demais. === *Sobre as pesquisas, é preciso cautela: importante não brigar com os fatos e não ignorar a tendência geral (que é de crescimento de Serra), mas vale lembrar que alguns  institutos cumprem o papel de animadores de torcida; há um deles, em especial, que tem todo interesse de mostrar a situação mais favorável a Serra, para criar um clima de virada nevitável. Clima que, nesse momento, não corresponde à verdade. A eleição segue completamente indefinida.