Carta para Francisco ou como quebrar o silêncio dos homens

Desde que você chegou, a vida também fez com que o papai renascesse. Não só como pai, mas como homem.
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Pouco antes de você vir ao mundo, morreu em mim algo que trazia como referência do vovô e que ele trouxe do biso: trabalho pra mim era cumprir uma jornada fora de casa.
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Mas as modernidades e a vida conduziram-me ao chamado home office - no escritório logo ali, na edícula da nossa casa.
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Com isso, algo ancestral ganhou um novo olhar. E criou algo novo na sua consciência, vendo o papai dividir com a #mamãe (a #vovó e a tia Lu, que nos dão "aquela força") os afazeres de casa.
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Pra você, é comum um homem #cuidar, dar banho, trocar, #cozinhar, lavar louça. E é esse papai que você constrói como referência de pai.
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Dia desses, depois da jornada na edícula, te encontrei no quarto. Você me pediu para brincar. Pegou as bonequinhas fofoletes e me deu uma delas: "filha, papai, filha". E começamos, somente nós dois, a brincar de boneca.
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Fiquei observando a beleza do que está se construindo em você, carinha, ao me dar uma "filha" para cuidar e você cuidar da sua.
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Fizemos "papá", levamos à escola, uma sonequinha da tarde e um convite: "Xec igo" (Sesc, amigo).
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Eu te olhei e sorri. Uma lágrima escorreu pela beleza em podermos buscar um outro caminho. Pra mim e pra você, filho.
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Pra que você possa desenvolver sua masculinidade de forma livre, bonita, do jeito que é - e não como milênios de uma cultura violenta, machista, misógina e patriarcal querem impor a nós, homens.
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Gratidão pela oportunidade que dá a toda nossa ancestralidade, de curar essas feridas. Por me fazer renascer como homem. E por renovar em mim a fé de que algo muito especial está acontecendo em nosso planeta.
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Que esse seu olhar, ainda em construção, faça eco no coração dos milhões de homens feridos que ainda aceitam essa brutalidade em silêncio.