Hoje o presidente Jair Bolsonaro mostrou que sempre há mais um grau para subir na escala da barbaridade, quando usou um suicídio para tirar vantagem política após a ANVISA suspender os testes da vacina desenvolvida no Instituto Butantan, pelo fato de um de seus voluntários ter sido encontrado morto. A causa da morte? Suicídio.
Bolsonaro poderá alegar que não sabia do laudo, que só foi divulgado pela imprensa no período da tarde. Veja a alegria do presidente com a suspensão de uma vacina contra a doença que já matou mais de 160 mil brasileiros:
Primeiro, faço uma constatação factual: este comentário serve de prova cabal de que, quando Bolsonaro ganha, o Brasil perde.
Segundo, é degradante que tenhamos um presidente que fale uma sequência descabida de barbaridades com a banalidade de quem diz “hoje é terça-feira”. Mas há um culpado para a degradação moral que o país vive e não é Bolsonaro. Ele é a causa, não o efeito.
Em agosto do ano passado, o procurador e ex-chefão da Lava Jato, Carlos Fernando, disse num debate sobre a operação contra o advogado Walfrido Warde, no programa "GloboNews Painel":
"Infelizmente, no Brasil, nós vivemos um maniqueísmo, né? Então nós chegamos… Inclusive, no sistema de dois turnos, faz com que as coisas aconteçam dessa forma. É evidente que, dentro da Lava Jato, dentro desses órgãos públicos, de centenas de pessoas, existem lavajatistas que são a favor do Bolsonaro. Muito difícil seria ser a favor de um candidato que vinha de um partido que tinha o objetivo claro de destruir a Lava Jato. Seria muito difícil acreditar que…
Renata, a apresentadore, interrompe: "Você está se referindo a Fernando Haddad?"
E Carlos Fernando conclui: "A Fernando Haddad, obviamente. Então, nós vivemos este dilema: entre a cruz e a caldeirinha, entre o diabo e o coisa ruim, como diria o velho Brizola. Nós precisamos parar com isso. Nós realmente temos que ter opções. Infelizmente, um lado escolheu o outro. E, naturalmente, na Lava Jato, muitos entenderam que o mal menor era Bolsonaro. Eu creio que essa era uma decisão até óbvia, pelas circunstâncias que Fernando Haddad representava, justamente tudo aquilo que nós estávamos tentando evitar, que era o fim da operação. Agora, infelizmente, o Bolsonaro está conseguindo fazer".
E não é apenas isso. A Lava Jato, com suas fantásticas operações, prisões preventivas e conduções coercitivas aditivadas, com vazamentos oportunistas em períodos eleitorais, ou contra políticos em específico, foi a responsável pela disseminação do pensamento e do sentimento antipolítica que tomou as ruas e as mentes de milhões de brasileiros, com a perversa alcunha de “nova política”.
Foi o Ministério Público, sim. Com a sua defesa das escabrosas 10 medidas contra a corrupção, e contra a PEC 37, seguidos do uso absurdo da combinação entre delações premiadas e vazamentos.
Bolsonaro apenas capitalizou esse sentimento para si, como uma espécie de “cria” da Lava Jato.
Não por menos que, Moro, então juiz da operação, tratou de manobrar a prisão do primeiro lugar nas pesquisas durante um pleito, onde o segundo favorito era Jair Bolsonaro, e terminou ainda por fazer parte do governo do segundo colocado, beneficiando-se não só da prisão, mas por seus vazamentos.
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E não é só isso, claro! Os sucessivos ataques contra a política não só afastaram o interesse da população na política como desviaram sua atenção com a maestria de um Harry Houdini para a ótica perversa de que apenas soluções simples resolvem problemas difíceis.
Deixo também endereçado para esse mesmo MP, que possibilitou a ascensão de Bolsonaro, a última declaração deste homem vil:
“Tudo agora é pandemia. Tem que acabar com esse negócio, pô. Lamento os mortos, lamento. Todos nós vamos morrer um dia. Não adianta fugir disso, fugir da realidade. Tem que deixar de ser um país de maricas, pô. Olha que prato cheio para a imprensa, hein? Para a urubuzada que está ali atrás… temos que lutar. Peito aberto, lutar. Que geração é essa nossa? A geração hoje em dia é toddynho, nutella, zap. É uma realidade”.
Já deixo claro que, até o momento, o Ministério Público Federal sequer entrou com uma ação de improbidade administrativa contra o presidente-diretor da ANVISA! Não adianta pedir ao TCU que investigue se Anvisa sofre interferência ideológica.
É um absurdo a situação miserável que o MP impôs ao país. Não há caminho para a reestruturação do Brasil que não passe por disciplinar e desenvolver uma forma da democracia sem ter um maior e melhor controle do MP.
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Em tempo: O Ministério Público de São Paulo (MPSP) instaurou um inquérito civil, no dia 4 de novembro, para investigar uma “suposta irregularidade” da Prefeitura de São Paulo, comandada por Bruno Covas (PSDB), que faz oposição ao bolsonarismo. junto do governador João Doria. A coisa se tornou uma verdadeira “guerra das vacinas”. Conveniente, né?