Primeiramente: peço que seja refreado o ímpeto de completar com "...e pais". O dia em que a responsabilidade pela educação dos filhos for realmente, e eu digo REALMENTE dividida, sem ser com exceções bradando em redes sociais o seu lugar de nem todo homem, aí a gente revê isso.
Sabemos que há pais e pais. Que há pais que cuidam dos filhos, e também que eles são poucos e não fazem mais do que a obrigação.
De acordo com o Censo Escolar realizado pelo Conselho Nacional de Justiça CNJ e divulgado em 2013, há 5,5 milhões de crianças brasileiras sem o nome do pai na certidão de nascimento. Não dá pra ficar de nem todo homem com esse número de abandonos.
A referência patriarcal de pai provedor - detentor do capital - opressor tem que ser combatida, é claro. Diferente do que acham alguns neoconservadores, que tratam essa ideia como resgatar o "homem de verdade", o que buscamos não é a divisão de tarefa por gênero, como, com ou sem provedor, acontece. Queremos mesmo o mínimo: que os pais dividam tarefas. Não é "ajudar". É fazer o que tem que ser feito.
Dito isso, volto ao ensino remoto em tempos de pandemia: não dá. Eu, que sou mãe solo e já trabalhava em casa, tive o volume de trabalho dobrado com emprego, traduções e aulas, e o ensino remoto - diferente, pelo que entendo, do tradicional EAD, o ensino à distância - está trazendo uma espécie de carga mental enorme, exaustiva, desnecessária.
Hoje, enquanto eu trabalhava de manhã, entre cachorros e gatos, recebi 4 emails da escola. Eu não aguento mais e estou prestes a dizer um grande foda-se e dizer para que minha filha deixe esse negócio pra lá e depois termine em um supletivo.
Penso nisso todos os dias.
Eu, ok? E eu também não tenho uma solução para este momento e este problema. Sei que a situação aqui é de privilégio, mas também de sobrecarga. Minha filha mostrou, hoje, um trabalho de 9 páginas para ser entregue amanhã, enquanto eu tirava meu horário de almoço pra tentar limpar a casa entre uma garfada e outra da comida que eu já tinha deixado pronta. Beleza, AGORA ela consegue fazer. Até duas semanas atrás, o computador que ela usa estava no conserto e simplesmente não dava pra usar o meu, posto que eu trabalho nele.
E aí?
E os outros?
De acordo com Agência Brasil, a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua - Tecnologia da Informação e Comunicação (Pnad Contínua TIC) de 2018, divulgada pelo IBGE, mostra que uma em cada quatro pessoas no Brasil não tem acesso à internet. Em números totais, isso representa cerca de 46 milhões de brasileiros que não acessam a rede. E eles?
Educação, mais do que nunca, é um privilégio. Os professores precisam trabalhar, os alunos precisam estudar e eu não tenho uma solução. Só tenho problemas. E um deles são as respostas que recebi no Twitter ao fazer um desabafo hoje sobre essa sobrecarga: uns disseram "a filha é sua", ou seja, total responsabilidade minha e zero do mundo lá fora, como se não vivêssemos mais em sociedade, outros conseguiram culpar professores, escolas, "maus" alunos, mães "relapsas" que "usam a escola como creche". Valeu, progressistada. É bem por aí, hein? Weintraub curtiu isto.
Quer dizer, se eu, que sou uma mulher empregada, com acesso, com luz em casa e comida na geladeira, estou surtando, e eu estou surtando legal, fico só imaginando as mães cujas rotinas foram ainda mais afetadas pela pandemia. Cujos filhos contavam com a merenda da escola para fazer refeições. Que estão na fila do auxílio emergencial que nunca sai. Se eu estou arrancando os cabelos e tendo crises de ansiedade, só imagino como devem estar as mais vulneráveis.
TENHAM EMPATIA com as mães.
Escutem. Não dêem conselhos não solicitados. Não dêem pitaco. Não sejam insuportáveis.
Mãe, por incrível que pareça, é gente, surta, sofre. Tirem as mães dos pedestais e tentem dar uma mãozinha.