Mestre em Comunição Contemporânea (Análises em Imagem e Som). Jornalista e professor na Universidade Anhembi Morumbi nas áreas de Estudos da Semiótica e Linguagem Audiovisual. Pesquisador e escritor, co-autor do "Dicionário de Comunicação" pela editora Paulus, organizado pelo Prof. Dr. Ciro Marcondes Filho e autor dos livros "O Caos Semiótico" e "Cinegnose – a recorrência de elementos gnósticos na produção cinematográfica" pela Editora Livrus.
Teoria da Terra Plana renasce mais uma vez em tempos difíceis
A Terra é um disco plano e cercada por um muro de gelo que chamamos de Antártida. O Sol e a Lua são apenas discos luminosos que giram sobre o plano terrestre e os planetas não existem. São apenas estrelas firmadas em uma abóboda. E a NASA esconde tudo simulando viagens espaciais e fotos da curvatura terrestre. Acredite, essa teoria que cada vez mais ocupa espaço na Internet com textos e vídeos com um crescente número de seguidores. Mas teoria da Terra Plana não é nova na era moderna. É recorrente na História em momentos de crise política e econômica, como hoje. Por exemplo, teorias da Terra Oca e Plana foram adotadas pelo Nazismo para se opor à “ciência materialista” e injetar magia e misticismo na Política por meio de sociedades secretas como a Vril e Tule, antes da Segunda Guerra. A Ciência transforma-se em fundamentalismo religioso, expressão da polarização e intolerância política do momento. Mas os terraplanistas acertam em um ponto: toda cartografia é uma representação político-imaginária.
“Boa noite, senhoras e senhores... essa noite terei o privilégio de fazer uma estonteante revelação que mudará a maneira de compreender a natureza do Universo desde Newton e Einstein, uma descoberta que mudará radicalmente a percepção do tempo e do espaço, a verdade escondida por muito tempo pelo establishment da indústria militar e espacial: a Terra é... PLANA!”.
Essa era a abertura dos shows em 1984 do músico e produtor musical Thomas Dolby promovendo seu segundo álbum The Flat Earth. Com o seu “nerd sinthpop”, bem sucedido depois do sucesso de “She Blind Me With Science” do álbum anterior, Dolby abria os shows com essa parodia que procurava ridicularizar o criacionismo e as pseudociências.
Eram os anos 1980, tempos do triunfo do neoliberalismo da era Reagan-Thatcher. Época da retomada econômica dos EUA e da Inglaterra com as medidas neoliberais e da financeirização cujo maior ícone foram os jovens yuppies e o maquiavélico Gordon Geko no filme Wall Street. Tudo ia muito bem num confiante capitalismo que acreditava que a História tinha acabado na Razão. Restava parodiar no liquidificador da cultura pop tudo aquilo que era obscuro e anti-científico.
Mas tudo mudou: a guerra anti-terror e o derretimento dos blocos econômicos como a Zona do Euro trouxeram insegurança social, desemprego, crashs financeiros e a catástrofe humanitária dos refugiados.
Resultado: a ascensão da extrema-direita anti-imigração e anti-integração, fundamentalismo religiosos e o crescimento de uma percepção conspiratória de uma suposta ordem “politicamente correta”, uma bizarra conspiração gay-feminista-sionista-comunista que exigiria uma imediata intervenção militar ou mesmo a ação de milícias de “cidadãos de bem” armados.
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Thomas Dolby |