Datena, Russomano e Doria Jr candidatos em 2016? É a mídia, estúpido!

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Junto com o midiático Celso Russomano, somam-se para as próximas eleições à prefeitura de São Paulo os televisivos José Luiz Datena e João Doria Jr. Cientistas políticos vêm interpretando esse fenômeno como crescimento do conservadorismo de uma cidade que em outros tempos elegeu Maluf, Celso Pitta e Ademar de Barros. Ou como reflexo do “vácuo político” decorrente da judicialização da Política feita pela Operação Lava Jato. Mas haveria algo mais, um projeto que estaria sendo gestado e que tornaria São Paulo o laboratório de uma experiência de vanguarda: a midiatização total da vida pública. Esses personagens midiáticos representam a quintessência do imaginário paulistano: justicialismo, meritocracia e consumo. Mas desta vez, sem intermediários: diferente dos políticos, ainda presos na cena teatral, Datena, Russomano e Doria Jr. vivem na cena midiática -  pelo menos sabem ler um teleprompter e se posicionam bem diante das câmeras. 
O blogue Cinegnose vem considerando em postagens recentes que São Paulo é um enclave conservador dentro do Brasil. Exemplos disso seriam os protestos e resistências a medidas civilizatórias globais, como a construção das redes de ciclovias e a redução da velocidade dos carros. E, o que é pior, protestos que muitas vezes associam essas medidas a um suposto totalitarismo bolivariano cuja solução final seria um golpe militar.
Mas, temos que dar a mão à palmatória. Na verdade, São Paulo está na vanguarda. Um exemplo desse vanguardismo estaria na praça ecologicamente correta chamada de Praça Victor Civita – sincronicamente localizada ao lado da decadente Editora Abril, da sucateada Sabesp e do fétido Rio Pinheiros. Como esse blogue observou em outra oportunidade, a praça é mais do que um símbolo da sustentabilidade: é o símbolo da vanguarda de um projeto que pretende se expandir para todo o País – por meio do sucateamento deliberado do Estado, tornar escasso todos os bens tidos como universais (água, educação, energia etc.) para, depois, serem entregues à regulação do mercado como simples mercadorias (sobre isso clique aqui).
Eis que São Paulo exibe para o País mais uma prova do seu espírito vanguardista: a pouco mais de um ano das eleições municipais, dois personagens midiáticos sem vida orgânica partidária e sem experiência política entram na cena como candidatos, à espera de confirmação, para a prefeitura municipal: José Luiz Datena (âncora de programa policial) e João Doria Jr. (apresentador do programa Show Business). Somam-se a outro candidato midiático que participou do último pleito: Celso Russomano, do PRB-SP. [caption id="attachment_1346" align="aligncenter" width="588"]Praça Victor Civita: exemplo do “laboratório vanguardista” de São Paulo Praça Victor Civita: exemplo do “laboratório vanguardista” de São Paulo[/caption] Por que vanguarda? Porque depois de décadas de um trabalho diário (da grande mídia brasileira e mundial) de desconstrução da Política e da figura do político (cuja espetacularização do Judiciário com a Operação Lava Jato é mais um episódio), a grande mídia vislumbra a possibilidade de mandar às favas os intermediários – para quê ter o trabalho em pautar e roteirizar políticos se as própria estrelas televisivas podem assumir o protagonismo?

Política: do teatro à mídia

Que a Política sempre foi um palco teatral, não é novidade para qualquer cientista político. Porém, com a instituição da chamada “Sociedade do Espetáculo” (nos termos propostos por Guy Debord) a Política deixou de ser teatral para tornar-se midiática – balões de ensaio, factoides ou pseudoeventos passaram a ser a prática comum de políticos para buscarem o foco das câmeras. A mise en scène teatral foi substituída pelo timing midiático da logística das coberturas e horários de fechamento das redações.
Mas apesar da espetacularização da política, ainda a figura do político exige os protocolos parlamentares, o rito das plenárias e discussões, o corpo-a-corpo com outros políticos nos bastidores e com os eleitores nas campanhas. O político ainda deve um tributo às suas origens cênicas no palco do teatro. [caption id="attachment_1347" align="aligncenter" width="588"]Políticos ainda estão presos à cena teatral  Políticos ainda estão presos à cena teatral[/caption] Por isso, ele ainda se mostra desajeitado diante do aparato midiático que ao mesmo tempo promove e desconstrói a Política: a performance canastrona nos vídeos, os ternos com cortes ultrapassados, a dificuldade em ler um teleprompter, os olhos injetados para as câmeras pedindo votos, o déficit telegênico. Tudo isso apenas reforça na mente do espectador a suspeita que a própria mídia alimenta: políticos são tão confiáveis (e canastrões) quanto um vendedor de carros usados.

Chega de intermediários!

Depois do incansável trabalho em desmoralizar não apenas o político, mas a própria Política, a grande mídia ensaia entrar para a fase decisiva de seu projeto histórico – a midiatização total da vida pública. Deputados midiáticos eleitos, como o comediante Tiririca, o cantor Sérgio Reis, o apresentador Wagner Montes, entre outros, são ainda o estágio inicial e folclórico desse projeto.
Principalmente no momento atual da política brasileira onde, pela incompetência da oposição parlamentar em se apresentar à sociedade como projeto alternativo ao PT, a grande mídia teve que pautar e levar a reboque os opositores ao Governo Federal, parece que há uma espécie de cansaço midiático: chega de intermediários!
Há muito tempo a mídia vem construindo a percepção na sociedade de como a democracia representativa e o parlamento são lentos, obsoletos e corrompidos. Quando a grande mídia fala em “jornalismo comunitário” e de “prestação de serviços”, na verdade ela se alvoroça em provar subliminarmente, através de seus repórteres estrelas que supostamente ouvem as reivindicações por uma construção de uma passarela ou sobre a necessidade de canalização de um córrego, o quanto os canais representativos parlamentares são ineficientes diante a rapidez ao vivo midiática. [caption id="attachment_1348" align="aligncenter" width="588"]Jornalismo comunitário supera a representação parlamentar Jornalismo comunitário supera a representação parlamentar[/caption] Para a grande mídia, uma pesquisa por amostragem sobre os índices de popularidade de um presidente ou governador vale muito mais do que o resultados de eleições majoritárias.
Nesse contexto, compreende-se a experiência vanguardista das próximas eleições em São Paulo. Se tudo der certo, será o modelo de midiatização integral da Política.
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