Mestre em Comunição Contemporânea (Análises em Imagem e Som). Jornalista e professor na Universidade Anhembi Morumbi nas áreas de Estudos da Semiótica e Linguagem Audiovisual. Pesquisador e escritor, co-autor do "Dicionário de Comunicação" pela editora Paulus, organizado pelo Prof. Dr. Ciro Marcondes Filho e autor dos livros "O Caos Semiótico" e "Cinegnose – a recorrência de elementos gnósticos na produção cinematográfica" pela Editora Livrus.
Série "El Ministerio del Tiempo" vai na contramão do tempo-espaço da era global


Três Personagens Distintos
A série acompanha o recrutamento pelo ministério de três personagens em três épocas diferentes: Alonso de Entreríos (soldado condenado a morte no século XVI), Amélia Folch (feminista e primeira mulher a frequentar uma universidade da Espanha no século XIX - inteligente e com uma memória fotográfica é o cérebro do grupo) e Julian Martinez, paramédico do Samu na Madrid atual. Cada um deles vive em sua respectiva época, mas ocasionalmente são convocados para missões secretas para localizar e combater oportunistas que descobrem as portas do tempo clandestinas, e tentam mudar o passado a seu favor. Três personagens bem distintos, que criam em muitos momentos situações engraçadas e irônicas – como um soldado do século XVI poderá aceitar ordens de uma feminista do final do século XIX?
O Tempo Pós-Moderno
Exterminador do Futuro e De Volta para o Futuro dos anos 1980 foram filmes que alteraram a concepção clássica sobre o tempo no cinema. Ao contrário de séries cultuadas como O Túnel do Tempo (Time Tunnel, 1966-67) onde Philip e Doug tentam evitar sem sucesso as tragédias da História, a partir dos anos 1980 podemos voltar ao passado para alterá-lo e, simultaneamente, melhorar o presente. Mais do que isso, em filmes recentes como O Efeito Borboleta (2004) e Sr. Ninguém (Mr. Nobody, 2009) transforma-se em um hipertexto onde cada opção cria um futuro ou um passado alternativos, configurando um contínuo espaço-tempo cada vez mais complexo como uma série de universos paralelos que, potencialmente, poderiam se tangenciar ou influenciarem-se mutuamente. O que chama a atenção de El Ministerio Del Tiempo é a sua concepção do contínuo tempo-espaço que transforma a série num documento de época, um produto cultural cujo imaginário reflete a atual situação econômica espanhola e europeia. Em primeiro lugar a série parece romper com a concepção de tempo, por assim dizer, pós-moderna iniciada nos anos 1980 – um contínuo maleável, moldável e que pode se bifurcar. Ao contrário, na série espanhola o passado deve ser guardado e mantido intacto a todo custo. O Governo é o guardião da História cuja missão é caçar todos os oportunistas que tentam mudá-la. Parece que todos os passados de todas as épocas estão ainda sendo vivenciados repetidamente, ad eternum – por exemplo, um dos funcionários públicos que administram as portas do tempo sempre visita a de número 58 para reviver uma histórica vitória em uma partida do time do Real Madrid.Tempo Real e a Globalização
O tempo-espaço complexo e mutável retratado pelo cinema segue paralelo ao desenvolvimento das mídias digitais, a linguagem hipertexto e a Internet – tecnologias que foram as ferramentas fundamentais para a Globalização e a integração do sistema financeiro mundial. Se o historiador francês Marc Ferro estiver correto de que toda produção cinematográfica é um documento histórico por carregar consigo mentalidades, costumes e o universo simbólico do período em que foi produzido, podemos considerar que isso é mais do que um paralelismo – sobre isso leia FERRO, Marc. Cinema e História, São Paulo: Paz e Terra, 1992. Os seminais Exterminador do Futuro e De Volta Para o Futuro refletiram a concepção tempo-espaço da financeirização da sociedade – a hegemonia dos mercados financeiros (o chamado “turbo-capitalismo”) produziu a virtualização monetária, a integração em tempo-real das praças financeiras que produziu fluxos voláteis e cenários de engenharia financeira cada vez mais complexo.
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