Acumulação, consonância e onipresença. Essas três palavras definem a atual cobertura da grande mídia brasileira aos ataques em Paris. Ao contrário da autêntica Chernobyl brasileira em que se transformou a catástrofe ambiental e humana em Mariana/MG com o rompimento das barragens de detritos da Vale do Rio Doce/Samarco. Por que essa diferença de tratamento? Há muitos motivos políticos e econômicos em não expor uma empresa privada anunciante na grande mídia. Mas também porque a essência do terrorismo é midiática para ser midiatizável. Os atentados em Paris foram praticamente um kit imprensa dado de mão beijada para as redações com personagens, histórias e roteiros prontos. Será que esse é o motivo da recorrência de relatos sobre a sensação de irrealidade em depoimentos de vítimas e testemunhas? E também o motivo da espiral de especulações sobre uma suposta Operação False Flag? E se os mais de 100 mortos não forem prova de que testemunhamos um acontecimento real?
Terminado o jogo França X Alemanha no Stade de France na fatídica noite de sexta-feira 13 dos ataques em Paris, os torcedores se dirigiram ao gramado à espera da autorização para deixar o local. Depois a TV mostrou ao vivo a multidão dirigindo-se aos corredores de saída. Cantavam a Marselhesa, agitando a bandeira da França e erguendo os punhos.
Certamente não era pela comemoração da vitória da França por 2 a 0. Informados pelos celulares sobre o que transcorria fora do estádio, o clima era de ódio, revolta e evidente desejo de revide contra os terroristas. Essa talvez tenha sido a imagem mais emblemática daquela noite, porque mostrou ao vivo o resultado imediato dos ataques terroristas, de conveniência política e geopolítica – com a maior população muçulmana da Europa e uma das sociedades mais divididas do continente, reforça ainda mais a xenofobia contra a atual onda de imigrantes fugidos da guerra na Síria e Afeganistão.
Além de criar um conveniente Estado policial reforçado pelo medo e tensão popular, reforçar o papel da França na coalização militar liderada pelos EUA contra a Síria e atingir o país mais simbólico da Europa: a terra da Liberdade, Igualdade e Fraternidade.
Terrorismo é um fenômeno midiático: não visa tomada de poder, mas a dissuasão – voltado para as ondas concêntricas da mídia objetiva produzir a percepção de pânico, tensão, insegurança, divisão e todo um conjunto de sentimentos mais baixos da psique humana. Fenômeno tão midiático que, certa vez, fez o filósofo francês Jean Baudrillard afirmar que os atentados de 2001 jamais ocorreram. Não teriam sido fatos “reais” ou “históricos”, mas fatos midiatizados.
Mesmo com imagens de vítimas sendo arrastadas deixando rastros de sangue e mortos cobertos pelos paramédicos nas ruas, é paradoxal a sensação de irrealidade relatada tanto pelas vítimas como por analistas na internet.
A “irrealidade” dos atentados
Por exemplo, em poucas horas depois dos ataques já era possível ler publicações que enumeravam inconsistências e estranhas coincidências no episódio (que abordaremos mais adiante). O que seriam evidências de que estaríamos diante de mais um evento
False Flag (Falsa Bandeira) – espécie de auto-terrorismo onde atentados são criados pelo próprio Estado para justificar determinada agenda política ou econômica. Hipótese absurda para muitos (é impensável o Estado matar seus próprios cidadãos), mas já fartamente documentada como estratégia de propaganda para criar tensão, como também veremos adiante.
Uma testemunha da chegada da polícia na casa de shows Bataclan relatou: “eles agiam como se estivessem em um filme” (
clique aqui). Enquanto isso, o jornalista do
Le Monde que mora atrás do Bataclan filmou com o celular o desespero das vítimas fugindo da sala de espetáculos. “Estava trabalhando em casa e estava passando um filme em que Jean-Huges Anglada interpreta um policial... tinha gente correndo para todos os lados... pensei nas imagens do 11 de setembro”. Uma meta-memória, sabendo-se que no próprio 11 de setembro testemunhas relataram que acreditavam que o incêndio nas torres era um efeito cenográfico de alguma produção hollywoodiana.
O depoimento do brasileiro João Lira, professor de arquitetura, também é significativo: “vi faíscas do outro lado da calçada. Juro que pensei que eram bombinhas de São João, uma girândola talvez, que poderia fazer parte de alguma brincadeira cenográfica”. O que relembra o episódio do chamado “maníaco do Shopping” em 1999 que abriu fogo em uma sala de cinema em São Paulo. Muitos acreditavam que faziam parte de alguma “pegadinha” (na época as “Pegadinhas do Faustão” da Globo estavam em evidência) referente ao filme
Clube da Luta e demoraram para tomar pé da situação e se proteger.
Em uma das ações terroristas, um policial gritou para o público em uma pizzaria atingida pelos atiradores: “corram para casa, isso não é um filme!”.
Paris X Mariana/MG
A conveniência dos atentados não é apenas política e geopolítica. É midiática. Esse talvez seja um dos motivos do porquê a Chernobyl brasileira em que se transformou a catástrofe ambiental da Vale do Rio Doce/Samarco em Mariana/MG não tenha merecido a mesma onipresença, consonância e acumulação da grande mídia brasileira – não tem o
appeal midiático e icônico de uma Paris com pessoas bonitas, cultas, de bom gosto e com uma certa ideia de civilização para aqueles que acham que a história da arte acabou no impressionismo e na
art noveau.
O chamado “Estado Islâmico” sabe disso. Como todos os atentados, visam locais icônicos que parecem seguir o velho roteiro hollywoodiano: era uma vez um lugar bonito e civilizado cuja ordem é quebrada pelo mal para depois a ordem ser reestabelecida pelos protagonistas – o Estado policial. Eles sabem que seus atentados preenchem os quesitos dos roteiros da coberturas “humanizadas” tão prezadas pelo marketing jornalístico.
Essas relatos recorrentes de irrealidade em meio a um acontecimento tão realista e violento seriam sintomas de que todos os personagens da cena de terror (vítimas, atiradores, policiais e paramédicos) estão imersos em uma ação essencialmente midiática e midiatizável?
Para tentar responder a essa pergunta vamos nos aprofundar na espécie de Deep Web das informações em torno dos atentados de Paris: estranhas coincidências, inconsistências e clichês que parecem formar um roteiro pronto e oferecido para a grande mídia como fosse um kit imprensa.
(a) O encontro oportuno do passaporte
Ou “passaporte mágico”, na ironia dos teóricos de conspirações. Nos atentados de 11/09/2001 nos EUA um passaporte foi inacreditavelmente encontrado a poucas quadras de distância do que sobrou do WTC: era do suposto sequestrador do Boeing 747 que se chocou contra uma das torres. Pouco depois do atentado ao
Charlie Hebdo, a policia encontrou o cartão de identidade de um dos terroristas no interior de um carro. E agora, encontra-se um passaporte intacto ao lado do corpo de um dos homens-bomba. Alguém realmente acredita que um homem-bomba traria um passaporte real para o seu último ato em vida?
Claro que dai puxa-se uma conexão com refugiados sírios que entraram pela Grécia – a associação de terroristas oportunistas com a falência de um país que ameaça a Zona do Euro é irresistível.
E para não perder a carona, uma repórter da Globo News encontra o que seria o fragmento de um passaporte supostamente sírio na calçada próxima ao Stade de France. E que não fora encontrado momentos antes pela perícia! Orgulhosamente, levou a suposta prova para a polícia para “ajudar nas investigações”. O que vimos depois é a repórter “tocando piano” na delegacia e tendo que recolher saliva para o fichamento do seu DNA, orgulhosa por colaborar com a “inteligência francesa”.
(b) Estranhos exercícios de simulação
Os chamados “teóricos da conspiração" vêm encontrando outra recorrência: exercícios de simulação de atentados terroristas envolvendo policiais e paramédicos no dias dos próprios atentados reais. Aconteceu em 2001 nos EUA e nos atentados a bomba no metrô de Londres em 2005.
Na manhã do dia 13 foi realizado em Paris um “exercício de ataques múltiplos”. Patrick Pellloux, médico e presidente do sindicato francês dos paramédicos do EMT (a SAMU francesa), disse numa entrevista à Radio France no dia seguinte aos ataques: “as vítimas tiveram muita sorte, pois na parte da manhã fizemos um exercício de ataques múltiplos coordenando policiais, bombeiros e paramédicos. Por isso todos já estavam envolvidos e preparados”.
Desde 2004 Pelloux publica artigos na revista satírica
Charlie Hebdo sobre as situações de um médico de emergências. Coincidentemente Pelloux estava próximo ao prédio da revista no momento do atentado do início desse ano e foi uma das primeiras pessoas a chegar ao local após o tiroteio e imediatamente ligar para o presidente francês Hollande para descrever o que havia ocorrido.
Pelloux também é ator é trabalhou em filmes como
Saint Laurent (2014),
Incognito (2009) e minisséries na TV.
Coincidências ou evidência de treinamentos para False Flag?
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