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Com lançamento previsto para o dia 6 de novembro, em “Interstellar” o diretor Christopher Nolan retorna às complexidades narrativas que o tornaram famoso em filmes como “Amnésia” e “A Origem”. Viagem espacial se mistura com viagem no tempo e astrofísica com relatividade geral: astronautas viajam através de um “buraco de minhoca” (wormhole) para chegarem a um universo alternativo em busca de novos planetas habitáveis, conseguindo fugir da catástrofe climática terrestre. A construção da realidade como camadas de eventos que se influenciam mutuamente, apesar de ocorrerem em tempo-espaços diferentes, se conecta a princípios gnósticos da astronomia e alquimia da antiguidade – o Princípio da Correspondência.
Título: Interstellar (2014)
Diretor: Christopher Nolan
Plot: Em um futuro próximo enquanto os ecossistemas da Terra estiverem caindo aos pedaços, agricultores verão sua lavouras devastadas e a possibilidade de ocorrer uma fome global e a extinção da própria espécie humana. Durante esse período, um ex-astronauta da NASA chamado Cooper (Matthew McConaughey) que se tornou agricultor é recrutado por um tímido astrofísico (Michael Caine) para pilotar uma espaçonave através de um buraco de minhoca que ele descobriu (possivelmente colocado ali por alguma misteriosa forma de vida) que conduz a uma outra parte do universo onde potencialmente haveria novos planetas como a Terra para serem habitados.
Por que está “Em Observação”? – Embora o plot seja simples, em se tratando de um filme de Nolan, nada é realmente simples. Desde o seu filme Amnésia (Memento, 2000) em narrativa não-linear, Nolan tem se destacado em filmes com abordagem labiríntica em que aparentemente os ingredientes da narrativa se transformam em peças de um quebra-cabeça.
Depois dos três filmes da série Batman que parecem ter obscurecido esse seu talento, em Interstellar Nolan retorna a essa sua marca: ele parece abraçar uma estratégia narrativa semelhante ao filme A Origem (Inception, 2010) – camadas narrativas que se sucedem paralelamente e simultaneamente, em fluxos de tempo diferentes, onde as camadas se influenciam mutuamente apesar da relatividade temporal. Em Interstellar os protagonistas irão a um distante planeta, do outro lado do universo e próximo a um buraco negro. Isso significa que enquanto a perigosa missão leva três horas, na Terra décadas já terão se passado. Os deslocamentos dos personagens nesse universo alternativo e a presença do buraco negro farão o tempo se tornar relativo – o que significa que uma vez de volta à nave, Cooper terá que resgatar mensagens da sua família de anos atrás.
O resultado, como sempre quando Nolan emprega essa complexidade narrativa, é um filme denso, rico em informações e sentimentos. Um filme simultaneamente sobre viagens espaciais e viagens no tempo, aplicando na prática os conhecimentos da teoria da relatividade de Einstein e as teorias científicas desenvolvidas por Kip Thorne, físico do Instituto de Tecnologia da Califórnia especialista em buracos de minhoca e relatividade geral.
Para esse blog, essas abordagens de Nolan têm um evidente potencial gnóstico: o questionamento da realidade como fosse um constructo, ou seja, uma construção artificial de mundos dentro de mundos. Isso já foi marcante no filme Amnésia, onde as linhas de diálogo colocavam em xeque a concreticidade do real e a instabilidade da percepção do mundo – como dizia a certa altura o protagonista de Amnésia Leonard: “Eu tenho que crer num mundo fora da minha mente. Tenho que crer que minhas ações permanecem tendo um sentido embora não consiga lembrar qual seja. Tenho que acreditar que quando meus olhos fecham o mundo permanece lá. O mundo ainda está lá? Está lá fora?”.
Além disso, a exploração do tema da realidade como camadas de tempo/espaço relativos e que se interagem, lembra o um dos princípios do Gnosticismo Hermético de Hermes Trimegisto: “O que está em cima é como está embaixo, e o que está em baixo é como está em cima”. É o princípio da Correspondência aplicado tanto na Astronomia na antiguidade como na Alquimia. Na verdade, um princípio hermético influenciado pela metafísica platônica (para Platão, o mundo percebido pelos sentidos é uma reprodução distorcida das formas puras existentes no mundo das Ideias).
O que esperar? – Além da complexidade narrativa que mistura relatividade geral com buracos de minhoca e astrofísica, com a sua visão abrangente o filme Interstellar convida a fazer comparações com 2001: Uma Odisséia no Espaço de Kubrick. Porém, Nolan não torna o filme tão metafísico ou simbólico como o clássico de Kubrick. Para os críticos, Interstellarseria uma versão mais simples de 2001, onde o ritmo da aventura e efeitos especiais seguem o gosto de um Steven Spielberg ou Robert Zemeckis, cujo filme Contato(Contact, 1997) é a comparação mais feita – um combo de ciência especializada com a eterna procura íntima humana da verdade para a alma.