Abel Ferreira, treinador do Palmeiras, me processou por um artigo escrito no portal UOL, onde eu trabalhava. No texto eu respondi a declarações do treinador após o jogo em que o Palmeiras eliminou o Atlético-MG da Libertadores, em 2021. Ele disse, então, que os jogadores brasileiros possuem talento, mas falta a eles disciplina e mentalidade forte. Disse se orgulhar de ser português, que seu país tem o melhor jogador do mundo (alguém conta que não é verdade?) e que o presidente de Portugal é o mais "titulado" do mundo. Depois, em outra ocasião, quando o zagueiro Renan, do Palmeiras e emprestado ao Bragantino, envolveu-se em um acidente automobilístico, disse que faltava educação aos jovens brasileiros, como se jogadores europeus nada fizessem de errado.
Eu perguntei se Abel sentia orgulho da atuação colonialista de Portugal na África, inclusive com guerras contra Angola e Moçambique, que buscavam a liberdade. Perguntei se ele tinha orgulho do que a Bélgica fez no Congo, com a morte de tanta gente. E disse que ele se comportava como os padres jesuítas ensinando aos índios. Que nos tratava como botocudos. Grosso modo, é o resumo do que escrevi. Ele entrou com uma ação contra mim e ganhou na primeira instância. Recorri.
O Ministro Flávio Dino recorreu a argumentos parecidos para responder à uma mulher portuguesa que atacou uma brasileira em um aeroporto de Portugal. Sua porca, volte para seu país, eu sou portuguesa de raça, esbravejou a xenófoba europeia. Dino afirmou que aceitaria a repatriação dos brasileiros que estão em Portugal, desde que trouxessem com eles, o ouro que Portugal levou de Ouro Preto. Falou também que, se a brasileira estava invadindo Portugal, como disse a portuguesa, era um caso de reciprocidade porque Portugal também invadiu o Brasil.
Será que Abel Ferreira vai processar Flavio Dino como fez comigo. Afinal, ele disse que seus antepassados eram invasores e que levaram o ouro brasileiro para além mar.
Esperemos.