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Não tenho provas, mas tenho convicção.
Conheço essa linguagem de algum lugar...
Lembrei!
“Ora, a fé é a certeza das coisas que se esperam, a convicção de fatos que se não veem” (Hebreus 11.1). Não tenho provas, mas sei que o autor é um tal de Paulo de Tarso. Conheço as controvérsias sobre a autoria do livro, mas dane-se, estou convicto que tenho razão.
O Ministério Público Federal (MPF) fez uma confissão de fé.
O texto bíblico citado é talvez a melhor síntese da definição de fé. Não é porque vejo que creio. Creio e pronto.
O MPF inovou. Esculachou com a doutrina do direito criminal que reza que o benefício da dúvida é a favor do réu. Em pleno Estado moderno de direito, primeiro acham o culpado para depois procurarem a culpa. E olha que os The Powerpuff Boys estão procurando as provas há um bom tempo.
Estão com tanta certeza que não param de procurar a culpa. Haja fé! Sabe o que a garotada da Força Tarefa da Lava a Jato faz nas horas vagas? Caça Pokémon.
Encontrar a culpa do Lula virou uma ideia fixa. Aqueles que começaram a caçada devem estar comentando: o danado é tinhoso e mais esperto do que pensávamos, mas temos tempo, lembrem-se que estamos em início de carreira. Quem achar primeiro ganha bônus para a vida inteira além de se notabilizar como o melhor jogador!
Voltando à inflexão do texto bíblico: ora, ora...
Ora, registra-se que no horário nobre do tempo televisivo do dia 14 de setembro de 2016, os meninos do MPF fizeram a confissão de fé seguida da declaração de inocência do Lula. O show da fé protagonizado por um grupo do judiciário que acredita na doutrina da eleição: implacáveis com os predestinados para o crime e complacentes com os predestinados para a salvação.
Ora, desconfio que os doutores notáveis são petralhas infiltrados no tenebroso poder judiciário. Deram uma notícia ao Brasil daquele jeito só para fugir da censura da Globo.
Ora, estou convicto que os donos do poder festejaram a bombástica notícia capaz de obscurecer por completo a cobertura da cassação do Dudu Cunha. Mas a mensagem que os patriotas do MPF queriam deixar para os brasileiros é que não encontraram nada contra o Lula. Driblaram a censura.
Ora, esses rapazes “bem-intencionados” são a prova concreta que o judiciário brasileiro está tão avacalhado quanto o quadro de juízes da Confederação Brasileira de Futebol (CBF). Os caras lutam contra as evidências e desmentem as imagens. Constroem versões estapafúrdias e ainda desfrutam do arbítrio de expor a súmula do jogo em um PowerPoint chinfrim.
Ora, a nossa perplexidade é que o debate hoje no Brasil está mais para a realidade dos Estados eclesiásticos medievais do que para o Estado Democrático de Direito.
Valdemar Figueredo
Twitter: @ValdemarDema2
Foto: Reprodução