Gilmar Mendes foi grampeado

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Em pleno exercício da Presidência do Supremo Tribunal Federal (entre 2008 e 2010), o Ministro Gilmar Mendes foi vítima de escuta telefônica em investigação nada convencional. A conversa era com o então Senador Demóstenes Torres (DEM-GO). Que absurdo! Não fosse o Ministro inflexível e implacável os arapongas cresceriam e no futuro teriam até a audácia de grampear a Presidência da República. Gilmar Mendes condenou veementemente os abusos do Ministério Público nas investigações criminais. As demarcações das terras indígenas eram ponto de pauta no Supremo, mas, para Mendes, poderiam esperar, pois o que tinha pressa para demarcar eram as fronteiras entre a Polícia Cívil e o Ministério Público. Os abusos da garotada do Ministério Público foram freados não com a criatividade, mas com os limites estabelecidos pela Constituição Federal. Imagina, usurparem as competências da Polícia! A liberdade republicana! Ah, como alivia viver num Estado de Direito em que os membros do Supremo Tribunal Federal pensam assim como o magistral Gilmar Mendes: “O tribunal tem tentado coibir os abusos cometidos com base no vazamento de informações. Sabemos que há muito pré-julgamento a partir da análise das informações colhidas. A polícia, em algum momento nesse contexto, virou um pouco juiz. Dizia o que se dizia e o que não se dizia, qual era a intenção das pessoas. Nós já vimos muitas vezes revelados que isso não era verdade. Eu tenho a impressão de que é necessária uma nova lei sobre intercepção telefônica.” Brasileiros e brasileiras, enquanto Gilmar Mendes for membro da Suprema Corte estaremos seguros. Nada como um Judiciário democrático que zela pelos direitos e não se deixa pautar por “vontades” exógenas. Viva o bom senso!!! Entre 2000 e 2002 foi o Advogado Geral da União (AGU). Indicado pelo Presidente da República, Fernando Henrique, ocupou a sua cadeira no STF a partir de 28 de maio de 2002. A coerência desse reputado jurista chega quase a previsibilidade quanto aos seus votos. Simpatia, para ele, é quase amor cego. Enquanto que antipatia vira ódio mortal. Mas convenhamos, com a capa preta a imparcialidade é garantida por conta do seu compromisso com a justiça e com a verdade. Muitos homens públicos são suscetíveis à fama midiática. Deixam-se influenciar pelas notícias fantasiosas. Alguns morrem de medo da Rede Globo. Mas com Gilmar Mendes é diferente. Homem experiente que não treme quando está no campo jurídico, quer ouça as vaias ou os aplausos, tanto dos promotores dos espetáculos midiáticos, como das torcidas organizadas. A capa preta tem um poder que os simples mortais jamais saberão definir. Vejam a coragem desse homem: “O Ministério da Justiça está trabalhando um novo conceito. Certamente vamos avançar um pouco, sempre com essa preocupação de por um lado continuar no combate à impunidade e por outro preservar os direitos e garantias individuais: não fornecer esse excessivo poder a ninguém, não tornar a polícia um superpoder, como vinha ocorrendo nessas relações. Com as revelações que nós sabemos: práticas de chantagens, a troca de favores, inclusive com a mídia. Tudo isso me parece que, em função dessa crise, poderia ser pelo menos submetido a um dado controle.” Talvez eu esteja errado, mas quem grampeou o Presidente da Suprema corte estava tentando protegê-lo dos chantagistas. Há males que vêm para o bem. Entre os três poderes, o Judiciário deste país é a instituição mais limpa. Conhecemos os escândalos em torno do Executivo e do Legislativo, mas do Judiciário... pouco ou nada ouvimos sobre escândalos de corrupção. Eis o porquê justifica a fúria do magistrado: “De alguma forma, eu tenho a impressão de que se modelou uma superpolícia ou uma superagência de espionagem, que parecia estar acima do bem e do mal. E, depois dos episódios que nós passamos a conhecer, parece-me confirmar esse juízo. Por desmandos administrativos, descontrole, falta de autoridade, o fato é que nós tivemos esse coquetel explosivo produzido, independentemente das intencionalidades. O fato é que ao colocarmos isso em xeque, essa armação que era de barro se quebrou.” A Biblioteca do Supremo Tribunal Federal guarda relíquias maravilhosas. O conteúdo deste artigo foi obtido em fonte confiável. Em tempo, a situação é tão absurda que não consegui falar sério. A melhor forma de abordá-lo foi através da ironia. Fonte: Entrevista do Ministro Gilmar Mendes no Correio Braziliense/DF, 14 de dezembro de 2008, concedida aos jornalistas Luiz Carlos Azedo e Denise Rothemburg. Título: Gilmar Mendes diz não a sigilo em investigação. (Disponível em: http://www.stf.jus.br/arquivo/biblioteca/PastasMinistros/GilmarMendes/Entrevistas/2008_dez_14.pdf. Consulta: 20/03/2016). Há muito tempo atrás um camarada disse que “A história se repete, a primeira vez como tragédia e a segunda como farsa.” Nunca entendi direito essa frase... Foto de capa: Carlos Humberto / SCO / STF