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Não acredito em surto patriótico. Os recentes movimentos das Organizações Globo, além de abruptos, são suspeitos. Partiram para o tudo ou nada. Perderam a polidez típica dos que querem afirmar a imparcialidade. Tramaram e colocaram em prática um tremendo simulacro jornalístico. Subiram o tom. Os diretores do Big Brother Brasil não fariam melhor.
Suspeito que a razão do desespero tem a ver com o vil metal. Duvido que se exporiam tanto por um projeto de Brasil melhor. O Leviatã Marinho colocou a cara para fora do mar buscando a quem possa tragar. Atua com mais habilidade e efetividade nas regiões abissais. Saíram do fundo à procura de luz?
A Constituição de 1988 foi um passo promissor para o aperfeiçoamento da democracia. Imprensa livre e ampliação dos poderes do Ministério Público. Mas o que assistimos nos últimos dias não tem a ver com isso. Excessos para além do direito. Estado de exceção. Como disse o Ministro do Supremo Tribunal Federal Marco Aurélio Mello sobre a condução coercitiva do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva: “O chicote muda de mão. Não se avança atropelando regras básicas”.
Gostaria de estar tranquilo esperando a conclusão das investigações e o posterior julgamento. Mas fica nítido que para os veículos globais Lula é culpado até prove o contrário. Condenado por uma organização “acima de suspeitas”, acima da lei.
Entendo que ninguém está acima da lei e qualquer indício de ilícito deve ser apurado. Preferencialmente que as autoridades evitem ficar próximas demais de empresários que mantém interesses de negócio com o Estado. O alerta serve para o Lula em relação às empreiteiras, mas também para o Sérgio Moro. O meritíssimo juiz foi agraciado com o prêmio de personalidade do ano de 2015 do “O Globo”. Honraria entregue em mãos pelos Marinhos.
Convenhamos, os homens são ávidos por poder, riquezas e glória. Tão perigoso para os sujeitos no exercício do poder político flertar com o enriquecimento é o sujeito de toga deixar-se seduzir pela glória. O Leviatã Marinho tanto ergue quanto abate os atores da cena do poder. O Leviatã Marinho é uma das famílias mais ricas do Brasil. O Leviatã Marinho designa os premiados e escolhe os melhores entre os melhores. A ambição pela glória é fatal para quem tem a responsabilidade de julgar.
Meritíssimo juiz Sérgio Moro, toda distância é pouca. Evite a aparência do mal. Não é um pré-julgamento, apenas um conselho de um brasileiro que não quer ver o judiciário cooptado pelo quarto poder. Faz o seu trabalho sem pedaladas midiáticas. De verdade, foca na justiça ampla e irrestrita. Doa a quem doer e contrarie o grupo que for. Seja ele partidário, empresarial ou Marinho.
Esse Leviatã Marinho é a prova material de que a nossa democracia é frágil. Mesmo depois da Constituição de 1988 continuou atuando dentro da lógica que escolheu para si.
As Organizações Globo não serão acusadas de cartel, pois não precisam compor com outras empresas. É a dona incontentável da versão e das interpretações. Um escárnio a um país que se entende por livre e democrático.
As Organizações Globo foram um dos pilares do golpe militar. Além de sustentar ideologicamente o sistema, na condição de empresa de comunicação, jornalisticamente ficou surda, cega e sem memória para as atrocidades das torturas e os desvios do patrimônio público para interesses privados.
A estrutura partidária é um problema sério no nosso sistema político. Alardeiam que sem uma reforma política nosso país não alcança a maioridade democrática. Será que dá para acreditar que nesse pacote reformista muda alguma coisa na área das comunicações? Parece crime hediondo falar em regulação da mídia no Brasil. Os tentáculos dos poderes Marinho fazem parecer imposição da censura.
Esse artigo não é uma defesa do Lula. Mas confesso, se o ex-presidente contraria tanto assim esse grupo, tem a minha admiração.
Que os advogados do Lula o defendam. Que os investigadores da polícia e o Ministério Público façam os seus trabalhos. Que os juízes sigam no âmbito do judiciário sem os holofotes das câmeras. Discrição combina com justiça. Shows pirotécnicos combinam com os detentores dos direitos de transmissão dos megaeventos.
Cada coisa no seu lugar e viva a democracia no justo princípio da presunção da inocência até se prove o contrário.
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