Improvável que o presidente da Câmara dos Deputados trate a regulação da mídia no Brasil como algo necessário. Pelas suas relações com o coronelismo eletrônico, as possíveis mudanças legislativas no setor da radiodifusão seriam para deixar tudo do mesmo jeito.
Interessante que há alguns anos o deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) era sistematicamente combatido pelo jornalismo político das Organizações Globo. Digo, sistematicamente. Tudo levava a crer que para além das “notícias” existiam razões não publicáveis. Ilações à parte, é impressão minha ou em política doméstica, como no sistema internacional, aliados ou inimigos não são eternos? Tudo depende do interesse da ocasião.
Pelo que me consta, a turma atual de Eduardo Cunha (PMDB-RJ) é formada por Eduardo Paes (PMDB-RJ), Luiz Fernando Pezão (PMDB-RJ), Sérgio Cabral Filho (PMDB-RJ) e Jorge Picciane (PMDB-RJ). Tudo leva a crer que a fidelidade política ao ex-governador Antony Garotinho (PR-RJ) é coisa do passado.
Nem o deputado Miro Teixeira (PROS-RJ) conseguiria ser tão apropriado para trancar a pauta no que se refere às propostas de novo marco regulatório como o seu colega Eduardo Cunha (PMDB-RJ).
Cunha foi eleito presidente da Câmara com 267 votos. Sua base de sustentação política nesta eleição já foi amplamente caracterizada como a busca de “independência” do Legislativo frente ao Executivo. Mas quero recuar na indagação: qual a base eleitoral do Cunha? Talvez a resposta de bate-pronto seja: setores das igrejas evangélicas.
Genérico demais. Portanto, impreciso. Ofereço dados antes de arriscar uma resposta. Resultados das quatro eleições de Eduardo Cunha para a Câmara (Fonte: Tribunal Superior Eleitoral – TSE). Chamo sua atenção para o aspecto progressivo.
2002: 101.495 votos
2006: 130.773 votos
2010: 150.616 votos
2014: 232.708 votos (sendo o terceiro candidato com o maior número de votos absolutos).
Qual a base eleitoral de Eduardo Cunha? Não lidera nenhuma igreja na condição de pregador como muitos dos seus colegas da Frente Parlamentar Evangélica. Também não canta música gospel como os Senadores Magno Malta (PR-ES) e Marcelo Crivella (PRB-RJ). Longe de ter a verve do Silas Malafaia.
A multiplicação dos votos do Cunha e a constância no cenário que reclama a representação política evangélica como estampa devem-se à estrutura midiática montada e consolidada pelo ex-deputado Francisco Silva a partir da Rádio Melodia 97,5 FM-RJ.
A propósito, antes mesmo de desfilar nos salões de Brasília, Cunha foi Subsecretário de Habitação do Governo do Rio de Janeiro em 1999 quando Francisco Silva (PDC-RJ) era o secretário nomeado pelo então governador Antony Garotinho (PDT-RJ). Quando Francisco Silva deixou o cargo acusado de irregularidades, não deixou Cunha desabrigado, o indicou para a Presidência da Companhia Estadual da Habitação – Cehab – Rio de Janeiro, RJ, 1999-2000.
A amizade de Silva e Cunha vence a prova do tempo. Viveram juntos momentos difíceis, mas superaram. Cena de violência de uma grande metrópole não poupa autoridades, ainda que estejam saindo da casa do governador do Estado. Foi publicado no Jornal Folha de São Paulo de 3 de outubro de 2000, Aliados de Garotinho sofrem emboscada:
“O deputado federal Francisco Silva (PST) e o ex-presidente da Cehab (Companhia Estadual de Habitação) Eduardo Cunha foram vítimas de uma emboscada na madrugada de ontem, na zona portuária do Rio. O deputado, dono da rádio evangélica Melodia e um dos principais aliados do governador Anthony Garotinho (PDT), recebeu um tiro de raspão na testa e foi medicado na Clínica São Vicente, na Gávea (zona sul). Eduardo Cunha, afastado do governo no início do ano depois que foram denunciadas irregularidades em licitações da Cehab, saiu ileso. No momento do crime, por volta da 1h, Cunha e Silva tinham acabado de deixar a residência do governador, o Palácio Laranjeiras, onde segundo Garotinho estavam gravando um programa para a rádio Melodia. O carro do deputado federal foi seguido por quatro homens em duas motos, que fecharam o veículo e dispararam vários tiros. Segundo a mulher do deputado, Adjanira Silva, foram mais de 20 tiros, que deixaram marcas na lataria do carro, um Hilux. ”
O fato, amplamente noticiado na ocasião, foi interpretado pelas vítimas como tentativa de assalto e deram o assunto por encerrado. Coube ao então governador justificar que o encontro não teve motivação política. Silva, na condição de proprietário, e Cunha, como diretor, saíram do Palácio das Laranjeiras após gravarem com ele o programa A Paz do Senhor Governador veiculado pela Rádio Melodia 97,5 FM-RJ.
Foto: Luis Macedo/Agência Câmara