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Observem que em cada estado da federação existe uma relação umbilical entre proprietários dos meios de comunicação (rádio, TV, gravadora, editora, jornal, revista, portal, etc.) e a representação política.
Quais os representantes evangélicos que advogam em causa própria e sonham, não mais com catedrais, mas com bons negócios na área das comunicações?
Quem endossa essas empreitadas não é inocente. É um tal de cantor gospel ser contratado na condição de cabo eleitoral! “Cultos” e shows promovidos por empresários que fazem da comunicação voltada para o público evangélico um negócio promissor.
Por um lado a expansão democrática, por outro, retração da participação. A reabertura democrática do Estado disputa com estruturas denominacionais altamente hierárquicas. Cúpulas que se mantém no centro decisório pela legitimação divina. Ou seja, o Estado funciona na lógica do governo do povo enquanto os agrupamentos evangélicos na lógica monárquica (o rei governa a partir do direito divino). Estamos perante tiranias “medievas” em que a coroa (com direito a unção) passa de pai para filho.
Os fiéis que se submetem a esses cetros de pau de peroba não são vítimas. Certamente encontram os seus gozos nessas relações de poder. Calam e consentem. Votam em quem os ungidos mandam. Ausentam-se da vida civil ao entregar procuração aos seus líderes. Altamente “espiritualizados” não têm tempo para as coisas de baixo. A omissão em participar da vida pública é um ato político.
Mais uma vez a sociedade brasileira vai olhar para a Igreja Evangélica a partir da janela político-partidária eleitoral. Não me venham dizer que é pura implicância da mídia secular. As candidaturas se pronunciam nesses termos e as comunidades eclesiásticas jogam o jogo. Fica tudo junto e misturado a ponto do Ministério Público acionar candidatos que burlam o sistema eleitoral com práticas de cultos religiosos duvidosos. Os mais exaltados reclamam de perseguição religiosa.
No Estado do Rio de Janeiro duas postulações de candidaturas ao governo do Estado remetem a relação de representação evangélica: Senador Marcelo Crivella (PRB-RJ), Bispo licenciado da Igreja Universal do Reino de Deus, e o Deputado Federal Anthony Garotinho (PR-RJ), membro da Igreja Evangélica Presbiteriana. Ambos estão bem cotados nas pesquisas de intenções de voto. Ainda que os diletos homens públicos em questão não reivindiquem a posse de rebanhos de porteira fechada, é fato conhecido que suas bases eleitorais são provenientes de seguimentos da Igreja Evangélica.
No escopo deste artigo não temos como mensurar a alta taxa de rejeição a esses candidatos justamente pelas suas fidelidades a um certo tipo de mistura de religião e política. Com os recorrentes eventos em que parecem que os evangélicos têm um plano de poder, os não evangélicos se ressentem, rejeitam os políticos crentes e as suas bases aparentemente mal informadas. O pano de fundo: imposição de conceitos morais por decretos.
A máxima de Babel volta como ambição: construamos uma torre para tocar o céu e tornemos os nossos nomes célebres. Catequizar o Brasil a partir dos salões governamentais é uma péssima ideia. Realmente não encontramos bons antecedentes bíblicos nem históricos para este expediente.
Eis que surge no cenário eleitoral uma candidatura à presidência do Brasil marcadamente “evangélica”: Pastor Everaldo Dias (PSC-RJ). Vice-Presidente do Partido Social Cristão, Pastor da Igreja Assembleia de Deus, Convenção Madureira. Trata-se de um político profissional que sempre atuou nas coxias, mas agora se enche de coragem para emprestar a voz a causa de passar o Brasil a limpo. Recomendo: antes de se impressionar com o título pastoral, pesquise a vida pública do dileto candidato. Pastor Everaldo Dias foi Sub-chefe do Gabinete Civil do Governo do Estado do Rio de Janeiro quando Anthony Garotinho (2004-2006) governava o estado. Mesmo sem mandato, foi muito atuante na Comissão mais polêmica da Câmara Federal na 54º Legislatura (2011 a 2015): Comissão de Direitos Humanos e Minorias.
Talvez queiram colocar na conta dos neopentecostais a exibição audaciosa dos evangélicos na política. Enquanto os históricos seguem a linha dos ritos democráticos, supostamente, os neopentecostais profanam o espaço sagrado e avacalham o espaço público. No entanto, quem monitora a Frente Parlamentar Evangélica dificilmente conseguirá identificar a linha divisória entre os dois blocos. As práticas eleitorais fincadas no carisma midiático estão generalizadas entre as diferentes denominações evangélicas. As diferenciações deverão ser notadas no desempenho pessoal e não no “balaio” denominacional.
Noção amplamente repetida nos anos 1990 sobre os evangélicos no Brasil: as igrejas pentecostais falam muito em carisma e desprezam o caráter, enquanto as igrejas históricas falam muito de caráter e desprezam o carisma.
Honestamente, será que alguém acredita mesmo que essa dicotomia persiste? Com tristeza, da minha torre de vigia, percebo que o assunto que é comum a ambos é o poder. Refiro-me ao poder político. Quanto ao carisma, que carisma? Quanto ao caráter, que caráter?