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O surgimento do Estado Moderno consagrou a separação entre política e religião. Os imperativos religiosos desgastaram-se para ordenar a vida social. O religioso passa a ser um sentido dentre outros. Obra da razão dos indivíduos: formas de organização social. O Estado moderno foi concebido a imagem e semelhança dos seus artífices. A legitimidade da ordem social passa a ser obtida não mais pelas explicações teológicas, e sim pelo ordenamento jurídico.
Dizem alguns que na chamada Idade Média o mundo jazia em densas trevas. E disse o homem: Haja luz! E eis que foi formado o Estado Moderno. A Era das Luzes teria sido a inequívoca asseveração de que o indivíduo era dono de si e senhor do seu destino. O ocaso da tutela eclesiástica sobre a vida civil.
Na contemporaneidade, a presença do fenômeno religioso na arena política soa como realidade desconcertante. Para alguns, essa intromissão chega a atordoar as estruturas do Estado Moderno.
Na eleição presidencial nos Estados Unidos (novembro de 2012) para a escolha dos eleitores entre Barack Obama (Partido Democrata) e Mitt Romney (Partido Republicano) o fator religioso é uma variável importantíssima.
Tratando-se das eleições domésticas para prefeitos e vereadores das cidades brasileiras (outubro de 2012), para onde olharmos, constataremos que o fenômeno religioso soa como argumento usual. Nas grandes capitais ocorrem os conluios entre partidos políticos e grupos religiosos. Nas cidades pequenas, de relativa proximidade dos candidatos com o eleitorado, não é incomum a presença do político nos atos de culto. Cenas hilárias de um ecumenismo eleitoral que nos faz pensar na narrativa bíblica da Torre de Babel: erguem grandes construções para tornar seus nomes célebres. Mas, efetivamente, na feira de vaidades, ninguém se entende. Símbolos cruzados.
A presença religiosa na esfera pública seria a fase do retorno da religião para o espaço político ou tal separação jamais houve na história do Brasil? O Estado Moderno estaria com as suas estruturas abaladas diante da reverência do fenômeno político ao religioso? No Brasil contemporâneo, quando uma vez mais celebramos o ritual democrático de irmos às urnas fazer escolhas, constatamos que as manifestações sociais estão impregnadas do religioso. O retorno do religioso traz desconforto às ciências sociais?