O ministro Wagner Rosário (Controladoria Geral da União) afirmou, nesta 5ª feira (28/1), em entrevista à Rede TV, que o Painel de Compras do Ministério da Economia não informa os gastos corretos do governo federal em produtos alimentícios. Traduzindo para o bom e velho português, ele disse que o esse serviço público mente. Vejam a seguir o tamanho da loucura.
Segundo ele, os valores apresentados por produto correspondem ao total dos contratos em que estão incluídos, e não ao preço gasto especificamente com cada um.
“Os valores do pagamento [por produto] não estão especificados em cada item. Só fazem referencia à nota fiscal. Quando a repórter buscou os valores pagos, eles estavam distribuídos em todos os itens que constavam no empenho”, disse.
“Se eu comprei, em um mesmo contrato, R$ 100 de leite condensado, R$ 1.000 de arroz e R$ 1.000 de feijão, essa compra daria R$ 2.200. Com a busca que ela fez, aparecia o valor de R$ 2.200 pra cada item. Aparecia assim: R$ 2.200 de arroz, R$ 2.200 de feijão e R$ 2.200 de leite condensado. Isso porque [os valores] desses itens não estão especificados no pagamento”, afirmou.
Se isso for verdade, a contabilidade do governo federal é pior do que a do bar do Pezão, que fica numa estrada de terra de um cidade pequena do interior de Minas .
O governo tá dizendo que ele faz uma compra num fornecedor, pega um monte de produtos e na hora de cadastrar as despesas ao invés de colocar o que gastou em cada um deles, sempre lança o valor total ao lado do produto.
Convenhamos, não faz o menor sentido. É como se você fizesse uma lista de despesa em casa e colocasse seus gastos com alimentação (feijão, arroz, carne, chiclete e leite condensado) e ao lado de cada produto ao invés de preço específico dele, colocasse o total da conta do mercado. Essa explicação é absolutamente absurda e não pode ser "engolida" pelo bom jornalismo sem que haja investigação.
Há muita gente querendo transformar o escândalo do leite condensado em cortina de fumaça para a crise do oxigênio em Manaus. Bobagem. São duas crises que se somam, uma humanitária e outra que cheira à corrupção, Ambas precisam ser investigadas e apuradas.
Até agora o que aconteceu é que as empresas que forneceram os itens citados em reportagens estão fugindo da imprensa, como no caso das que venderam paçoca e chantilly para a Marinha. Ou já contrataram grandes escritórios de advocacia, como no caso da que vendeu os tais leites condensados para o Exército.
Se isso fosse tão simples de explicar, como o fez o ministro Wagner Rosário, por que não falar ou contratar um dos maiores escritórios de advocacia do país para soltar nota?
Os esclarecimentos que estão surgindo até o momento não são suficientes. O leite condensado pode ser apenas a ponta do iceberg de um grande esquema de compras envolvendo pequenos fornecedores com vínculos com um grande esquema de gente ligada ao governo. É preciso ir mais fundo nisso.