Num primeiro momento, quando se discutia o apoio de deputados progressistas aos candidatos de Rodrigo Maia ou Bolsonaro este blogueiro defendia que os parlamentares progressistas se unissem e tivessem um candidato do bloco.
Era uma ideia de tentar manter os 100 e poucos votos mais à esquerda unidos na Câmara para negociar no segundo turno. Sabidamente, não era algo para valer.
O problema dessa possibilidade era a de conseguir manter juntos PT, PSB, PSOL, PDT e PCdoB com qualquer nome que fosse definido para liderar o processo. Haveria defecções. E este candidato poderia ver seus votos irem definhando no processo e a parte mais canhota da Câmara tenderia a ficar com pouco o que barganhar na votação final. Se houvesse 2o turno.
Essa divisão no 1o turno fortaleceria o candidato de Bolsonaro, Arthur Lira (PP-AL), que poderia comer votos pelas bordas tanto do candidato de Rodrigo Maia quanto do bloco progressista e fechar a eleição logo de cara.
É por este motivo que se trata de uma boa notícia que se tenha conseguido fechar um blocão que vai do PSL ao PT com um único objetivo, derrotar Bolsonaro, dividir de forma proporcional o poder na mesa na Câmara e nas Comissões e depois seguir a vida. Cada um com suas posições.
Este bloco fica forte o suficiente para dar tranquilidade àqueles deputados mais pragmáticos de que é possível ganhar a eleição e não se faz necessário negociar quirelas com o bolsonarismo. Que vai jogar duro, oferecendo cargos em estatais, ministérios, verbas parlamentares e outras vantagens a quem for com Lira.
Essa frente também traz outra novidade para o jogo eleitoral em 2022. É possível ir ampliando os blocos para se pensar num 2o turno diferente do de 2018 quando toda a centro-direita e direita liberal apoiaram Jair Bolsonaro na etapa final. Até mesmo os quatro candidatos do PDT que foram ao 2o turno fizeram essa opção.
Com essa construção política que antagoniza no principal palco da política com o bolsonarismo, pode se iniciar um novo momento de formação de blocos mais hetedoroxo para derrotá-lo.
No PT, por exemplo, já se começa a discutir a busca de setores do empresariado para compor uma frente mais ampla para as disputas de 22. Por outro lado, PSB e PCdoB tratam de um possível fusão e o PDT tenta uma aproximação mais orgânica com o PSD de Kassab. São movimentos que podem ir reorganizando o campo progressista em direção a um diálogo mais amplo para que a disputa de 22 não se torne um jogo do fascismo contra a direita à la Dória ou Huck.
Em relação ao PT, esse movimento de entrar na frente faz o partido virar a página do golpe de 16 e tentar a partir de agora iniciar um novo ciclo político. É um movimento que ainda está sendo feito aos solavancos, mas que já indica uma tentativa do partido de dialogar de maneira mais ampla com o antipetismo no âmbito institucional. E com isso ir buscando novas formas de fazer o mesmo com setores da sociedade que o rejeitam.
A frente no parlamento não tem relação com um enquadramento da oposição. Até porque ela é de oposição ao bolsonarismo. Não é honesto falar que isso vai levar os partidos do campo progressista a desistir das lutas nas ruas, que, aliás, estão cada vez mais difíceis de acontecer nos próximos meses já que a pandemia do Coronavírus não dá indicação de que vai arrefecer.
As lutas de rua têm dinâmicas próprias e não passam pelas disputas do parlamento. De alguma maneira todo mundo sabe disso, mas há alguns que apostam nesta confusão apenas para marcar posição. É um direito, mas não é exatamente algo sério.
Se bem sucedida a frente que se construiu ontem na Câmara pode trazer boas novas para 2021 e 2022. Por isso tem de ser celebrada como um avanço institucional num momento de tantas derrotas.