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Zé Dirceu se entregou ontem pra cumprir mais 30 anos prisão realizando todos os rituais que lhe foram impostos pela justiça. Mesmo assim foi jogado na porta de trás de um camburão e tratado como um criminoso perigoso. Um tratamento absurdo, ainda mais porque tem mais de 70 anos.
Ou seja, mais um lamentável episódio do golpe vivido no Brasil que é conduzido por um judiciário que trata de forma absurdamente distinta uns e outros. Aécio continua dando seus pulos no Senado, Paulo Preto foi solto e isso garantiu a tranquilidade de Serra, Alckmin e Aloysio Nunes. Temer permanece presidente a despeito de provas robustas contra ele. Mas Zé Dirceu foi novamente preso e humilhado.
E esta foto precisa ser estudada em retrospectiva, porque ela explica em boa medida o que estamos vivendo. Quando Zé Dirceu, Genoíno e João Paulo Cunha foram presos (pra ficar só nos três) no episódio caracterizado como mensalão, Lula e outros que hoje estão sendo vítimas do Estado judicial fizeram muito menos do que deveriam para defendê-lo. Este é um dado da realidade e que deve ser debatido não pra lavar roupa suja, mas para que se entenda como se processam Estados autoritários e golpes e como governos progressistas devem lidar com isso.
Dali em diante continuou-se a nomear ministros do Supremo como se estivéssemos em tempos normais, manteve-se a independência da PF e do MP sem limitá-la a controles sociais e foi mantida a lógica das alianças em termos semelhantes aos anteriores. E tudo com Zé Dirceu e outros importantes líderes do PT presos. Era o preço a pagar, diziam alguns quando questionados.
O preço a pagar na verdade é o que está se pagando hoje. E Zé Dirceu volta ao cárcere novamente sem que haja qualquer comoção ou disputa. Sozinho, jogado na parte de trás de um camburão, sem poder sequer levantar a sua mão e sair altivo na foto como o fez da vez anterior. Mas a sua altivez e dignidade não ficaram menores por isso. E provavelmente a história ainda lhe fará justiça. Mas Zé Dirceu não merecia isso.
E esta foto revela muito do que se tornou a justiça e o sistema policial brasileiro, mas também é um retrato histórico da incapacidade de resistência do campo progressista brasileiro, que permitiu Zé Dirceu ir a um calvário injusto quando foi preso pela primeira vez.