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Apelidado de Botafogo na planilha da Odebrecht, denunciado pela construtora OAS e com nome na lista de Furnas e no mensalão do DEM em Brasília, o presidente da Câmara acumula diversas denúncias no currículo
Por Renato Rovai e Fredi Vasconcelos
Rodrigo Maia (DEM-RJ), filho do ex-prefeito do Rio de Janeiro, César Maia, já é considerado na bolsa de apostas de Brasília como futuro presidente da República. Apesar de dar sinais de que continua na base de apoio de Michel Temer, sua agenda já não é a mesma. E seus amigos mais próximos já começam a plantar notas na imprensa alimentando especulações de como seria seu governo.
Entre outras dessas "plantações" surgem sinais trocados do tipo. Como presidente, Maia manteria a dupla Henrique Meirelles (Fazenda) e Dyogo Oliveira (Planejamento) pra sinalizar que a política econômica continuaria a mesma. Ou exatamente o contrário, que Maia não gosta de Meirelles e que o seu sonho de consumo para liderar a área econômica seria Armínio Fraga, que chegou a ser anunciado por Aécio como seu ministro da Fazenda caso ganhasse a eleição de 2014.
Muito se tem falado sobre o futuro governo do filho de César Maia. Quase nada está sendo dito sobre sua biografia.
A despeito de estar no seu quinto mandato como deputado federal, Maia nunca foi um parlamentar de destaque e muito menos um político com muitos votos.
Em 2012, por exemplo, tentou ser prefeito do Rio de Janeiro e teve 3% dos votos.
Isso não significa, porém, que ele não tenha uma história. E ela não é exatamente feita de grandes feitos. Ao contrário, é repleta de envolvimentos em denúncias semelhantes as que estão levando Michel Temer ao impeachment.
Maia, por exemplo, foi denunciado ao Supremo Tribunal Federal (STF) por recebimento de dinheiro ilegal por ser apontado como Botafogo (time que torce) na planilha do departamento de propinas da construtora Odebrecht. Lá há uma anotação de que ele recebeu recursos da ordem de R$ 1 milhão por caixa dois nas eleições de 2008, 2010 e 2012.
Na delação de diretores de outra construtora, a OAS, Maia também é acusado de ter recebido propina. Em inquérito da Polícia Federal, ele é apontado como tendo defendido interesses da empreiteira no Congresso, entre 2013 e 2014, em troca de dinheiro para campanha.
O próprio Jornal Nacional, da TV Globo, que hoje faz campanha aberta para que ele assuma no lugar de Temer, revelou que a PF não tem dúvida da "atuação clara, constante e direta" de Maia na defesa de interesses da OAS no Congresso Nacional. Um trecho do relatório é contundente: "com base em toda a prova colhida no decorrer da presente investigação, logrou-se êxito em confirmar integralmente a hipótese inicial aventada, qual seja, a de que o deputado federal Rodrigo Maia efetivamente praticou diversos atos na defesa de interesses da Construtora OAS, durante os anos de 2013 e 2014, tendo, em contrapartida, solicitado doações eleitorais ao presidente da pessoa jurídica, José Aldemário Pinheiro Filho [Léo Pinheiro]". No telefone do presidente da OAS foram identificadas mensagens de Maia que apontavam o caminho das propinas de R$ 1 milhão ao deputado.
Outro episódio, mais antigo, é a inclusão de Maia na Lista de Furnas, estatal de geração de energia e que teria uma “caixinha” mantida por fornecedores para caixa dois de campanhas eleitorais. No esquema, em que a estrela é o senador Aécio Neves (PSDB-MG), Maia aparece junto dos nomes do governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, e do candidato à época à presidência da República, José Serra.
Neste episódio, Maia que disputava reeleição para deputado federal em 2002 teria recebido R$ 100 mil, a valores de 2002 (veja reprodução da lista abaixo).
Outra acusação ao deputado é em relação ao "mensalão do DEM", em que acabou cassado e preso o então governador do Distrito Federal, José Roberto Arruda. O delator do caso, o ex-funcionário do governo Durval Barbosa, afirmou que Rodrigo Maia era um dos beneficiários do esquema. "O acerto do Rodrigo era direto com o Arruda", disse o autor de vídeos que levaram queda do governador.
Ou seja, o filho de César que hoje é tratado como a bola da vez para comandar o país está longe de ser alguém com reputação ilibada ou currículo invejável. Pelo contrário, é um político tradicional com inúmeras acusações. E que não fosse o nível do Congresso atual não teria qualquer chance de comandar a Casa. E mais do que isso, se não estivesse no cargo que está provavelmente nem se reelegeria para um novo mandato por conta das muitas acusações em que se envolveu nos últimos anos.
(Foto: Alex Ferreira/Câmara dos Deputados)