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Há muito tempo o PT defende financiamento público e voto em lista fechada. Seus dirigentes consideram que isso moraliza as campanhas e fortalece os partidos. Ou seja, por um lado candidatos não teriam de sair por aí pedindo recursos para se eleger e por outro o voto deixaria de ser algo tão personalista e um tanto quanto mais programático.
As pessoas que defendem o voto em lista em geral tem como argumento principal que esse sistema fortaleceria os partidos.
É uma tese que tem seu charme. Mas ainda é algo a se comprovar, porque a lista fechada tem o risco de transformar a vida pública em algo quase impermeável.
O Brasil tem uma quantidade exagerada de partidos políticos e eles estão longe de representar pedaços de opinião. A maioria funciona como organizações privadas.
Um líder ou uns líderes saem atrás de assinaturas, conseguem viabilizar a legenda e depois passam a fazer o que bem entendem com ela.
Entre outras coisas, porque a nossa legislação permite que nos municípios e estados esses partidos funcionem ad eternum com comissões provisórias. Que podem ser desmontadas pelo presidente nacional da legenda se ele achar que é hora de passar o partido local para outro grupo.
Ou seja, antes de começar a discutir a lista fechada o mínimo a se fazer seria moralizar o funcionamento das máquinas partidárias. E a aprovação de uma legislação neste sentido é algo improvável.
Mas tudo isso poderia ser pensado e discutido em situação normal de temperatura e pressão. Ou seja, se o Brasil não tivesse um Congresso que foi parte ativa de um golpe contra a democracia.
Neste momento debater a reforma política é quase um escárnio, porque boa parte do atual Congresso, depois de derrubar Dilma, só tem um interesse, tentar criar a melhor legislação eleitoral para garantir o mandato e o foro privilegiado por mais quatro anos no caso de deputados e oito no de senadores.
A parcela da população mais atuante nas redes já se deu conta disso. E a mídia tradicional também. É um sentimento que extrapola o Fla x Flu. E vem se consolidando uma quase unanimidade contra a lista fechada, que tende a se tornar o bode na sala para tirar o foco de debates mais importantes como derrotar a reforma da previdência e a trabalhista. Não vai se falar de outra coisa no país quando este debate da lista fechada vier à tona.
E o pior de tudo isso é que não vai haver muito espaço para uma discussão de conteúdo. Todos que vierem a se posicionar a favor do tema tendem a ser tratados como ladrões do voto popular.
Se tem um momento que esse debate da reforma política não deveria ser feito é agora. Se for para fazê-lo, deveria se lutar por uma Constituinte exclusiva para debater o tema. Eleita também em 2018.
Dar a este Congresso essa tarefa é o mesmo que, plagiando um ex-presidente, colocar a raposa para tomar conta do galinheiro. E defender que a raposa tome conta do galinheiro quando se vive de criar galinhas é, com todo carinho, burrice.