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O juiz Sérgio Moro, que foi a grande estrela do país nos últimos anos, como já se podia perceber nos detalhes, se deixou levar pelo excesso de vaidade e hoje é um pequeno pedaço do que já foi.
O vídeo gravado por ele para celebrar um ano da página do Facebook mantida por sua esposa foi a gota final. O juiz estrela disse que todo o país lhe apoiava. Uma egotrip do tamanho do mundo. Uma egotrip que não cabia nos seus ternos pretos.
Antes disso, Moro já havia recebido homenagens dos irmãos Marinho, feito foto em cochichos com Aécio, divulgado áudios de conversas de Lula e Dilma. Tudo permitido.
Seu vídeo na página da esposa foi tratado também como algo normal, mas já revelava um algo mais.
Moro estava pronto para cometer um grande erro.
Sim, amigos, no jornalismo político o difícil é olhar os detalhes. O que não foi dito. Aquela frase que ficou pela metade. Entender aquele gesto ou olhar indireto que tenta esconder algo.
E aquele vídeo de Moro me deixou intrigado. Por que um juiz o teria feito? Porque um juiz teria dito que contava com o Brasil inteiro a seu favor? Será que ele estava se sentido fraco? Será que ele estava se sentido absurdamente forte? Será que ele misturava os sentimentos?
Todas as respostas me levavam a mesma conclusão. Moro estava olhando para o infinito e sob os seus pés já não havia chão. Ele podia caminhar e cair, por qualquer coisa menor.
E não havia nada mais absurdo do que promover a condução coercitiva de um blogueiro que, no exercício do seu trabalho, havia feito uma das reportagens mais corretas deste últimos duros tempos de Lava Jato.
É irrelevante saber se Eduardo Guimarães é ou não jornalista. Porque naquele episódio ele fez jornalismo. E é por aquele episódio que ele foi coercitivamente conduzido por Moro e teve seu sigilo telefônico quebrado.
Mas Moro achou que podia passar por cima do Edu como um trator. E que isso talvez lhe garantisse mais uns pontos com a mídia amiga.
Dançou.
Não é assim, juiz.
Aqui no nosso ofício nem todos são antas. E nem istas. E muito menos antagonistas, que foram os únicos a pedir cadeia para o Edu e para todos nós.
Não funciona assim entre jornalistas com um pingo de respeito pelo ofício. A gente se destrói, mas não aceita que alguém destrua o que permite que possamos realizar o nosso trabalho.
E entre essas coisas, juiz, está no centro a liberdade. O direito a ter liberdade de escrever coisas e realizar matérias que não agradam por vezes a ninguém.
Ao mirar em Eduardo Guimarães, provavelmente vossa excelência achava que por ele ter como sua atividade de sustento a representação comercial , todos iríamos abandoná-lo. Mas não é assim. No instante em que publicou um texto de caráter jornalístico, Eduardo era jornalista. Pra mim e pra todos aqueles que conhecem jornalismo pelo cheiro a quilômetros de distância.
E aí, doutor Moro, ele teve a atenção e a solidariedade não só de nós que conhecemos sua vida dura e sua atuação sincera. Mas de tantos outros que não o conhecem e que não gostam das suas opiniões.
E suas escusas de hoje foram o retorno do que voltou.
Do que voltou da sua atitude arrogante de lhe grampear o telefone e depois autorizar que lhe levassem coercitivamente para depor, aprendendo todos os seus equipamentos.
Excelência, o senhor ficou muito menor depois disso.
O senhor ficou menor do que o Eduardo Guimarães, a quem tentou carimbar como um cagueta. Como alguém que lhe entregou sua fonte sem que sequer fossem necessários uns apertões.
Mas o texto agora publicado pelo Edu é tão preciso, tão revelador, que a sua nota sobre o caso ficará restrita a alguns veículos.
E a do Edu vai ganhar o mundo.
Anote, doutor Moro, e disso eu conheço. Não serão poucos os correspondentes internacionais que lhe procurarão perguntando sobre este sequestro do Edu, como assim define o doutor Fernando Hideo. A partir de agora seu trabalho não se resumirá apenas a Lava Jato, mas a se justificar por ter mandado a PF na casa de um pai de família, com uma filha de 29 quilos e com paralisia cerebral, sem que justificativa houvesse para lhe colocar num camburão.
A sua vaidade, doutor Moro, não permitiu nem perceber o tamanho da aberração desta ação. Mas é assim mesmo. As nossas pequenices é que nos derrotam.