Em jantar de Gilmar Mendes a Serra, o prato da noite foi o projeto de ditadura desejada

A comemoração dos 75 anos de Serra se deu na casa de Gilmar Mendes, ministro do STF, como o leitor sabe. E participaram do rega-bofe além de Temer, Rodrigo Maia, Eunício Oliveira, Aécio Neves, Romero Jucá e alguns outros que estão em várias delações premiadas da Lava Jato. Evidente que se o Brasil não vivesse um golpe, um juiz do Supremo não teria a menor condições de se comportar desta maneira.

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Jornalista, mestre em Comunicação pela ECA/USP e doutor pela UFABC. Mantém o Blog do Rovai. É editor da Fórum.
A notícia mais importante dos jornais de hoje é a que revela o que será o próximo passo do golpe em curso se um grande movimento pelas Diretas Já não ganhar as ruas e sufocar o atual arranjo político que governa o país. José Serra, na comemoração dos seus 75 anos, teria formulado a proposta. Ele vai propor que o sistema eleitoral seja excluído do texto constitucional. Antes de continuar no tema, um parênteses. A comemoração dos 75 anos de Serra se deu na casa de Gilmar Mendes, ministro do STF, como o leitor sabe. E participaram do rega-bofe além de Temer, Rodrigo Maia, Eunício Oliveira, Aécio Neves, Romero Jucá e alguns outros que estão em várias delações premiadas da Lava Jato. Evidente que se o Brasil não vivesse um golpe, um juiz do Supremo não teria a menor condição de se comportar desta maneira. Afinal, se já é o fim da picada um magistrado oferecer um jantar para um político é absurdo pensar que esse político e todos os outros convidados estão prestes a serem julgados por este juiz. Mas tem mais, Gilmar Mendes é o presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). [caption id="attachment_18170" align="alignleft" width="430"]Nesta semana, Temer já havia se reunido com Gilmar Mendes, Eunício Oliveira, presidente do Senado, e Rodrigo Maia, presidente da Câmara. À esquerda, o deputado Aguinaldo Ribeiro (PP). (Foto: Marcos Corrêa/PR) Nesta semana, Temer já havia se reunido com Gilmar Mendes, Eunício Oliveira, presidente do Senado, e Rodrigo Maia, presidente da Câmara. À esquerda, o deputado Aguinaldo Ribeiro (PP). (Foto: Marcos Corrêa/PR)[/caption] Neste caso, é como se antes de uma final entre Corinthians e Palmeiras, o juiz do jogo oferecesse um jantar para o presidente de um dos clubes, o chefe de uma das torcidas organizadas, o capitão do time e alguns torcedores ilustres. E depois saísse dizendo que iria apitar a partida com independência. Imaginem o que diriam os analistas esportivos. No caso da festa de Gilmar para Serra, os comentaristas políticos da mídia a soldo não acharam nada demais. Mas voltemos ao tema do golpe que virá. Ao propor que o sistema eleitoral seja excluído do texto constitucional, Serra vai pavimentar o caminho para colocar uma pedra sobre qualquer possibilidade de uma eleição de fato em 2018. Será muito mais fácil, por exemplo, aprovar o parlamentarismo, que é o sonho oculto do PSDB para a elite controlar o poder sem riscos no Brasil. Mas isso não ocorrerá sem que antes se criem enormes distorções para eleições dos representantes no parlamento. Já se fala, num momento de imensa crise dos partidos, em eleição em lista fechada que daria prioridade aos atuais detentores de mandato. Isso é música para os ouvidos dos investigados na Lava Jato. Eles não precisariam de votos para se eleger, mas simplesmente estar bem colocados nas listas dos seus partidos. Ao mesmo tempo fala-se de impedir partidos menores de disputar eleições se não tiverem seus diretórios organizados numa quantidade mínima de municípios, o que fará com que PMDB, PSDB e DEM, por exemplo, recebam uma grande quantidade de candidatos de outras siglas, que minguarão. Esse pacote do golpe eleitoral será a pior reforma do governo Temer a longo prazo se vier a ser aprovado. Ela levará o Brasil a uma imensa crise onde não haverá escapatória democrática no curto prazo. Antes que isso se consolide só há um caminho, construir uma unidade popular que coloque como pontos de pauta o rechaço às reformas da previdência e trabalhista, mas ao mesmo tempo a bandeira das Diretas Já como reivindicação. E ganhar as ruas construindo uma greve geral antes que a economia dê um soluço e crie-se a falsa ilusão de que as coisas vão melhorar. O golpe não é, um golpe vai sendo, como se disse aqui nesse espaço por diversas vezes. E a bola da vez do golpe foi anunciada por reportagem de O Estado de S. Paulo neste 17 de março. Se vier a prevalecer esse jogo sujo debatido no jantar de um ministro do Supremo para os golpistas, a ditadura não será mais uma questão de tempo. Será.
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