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Muitos presidentes têm seu porta-voz informal na mídia, mesmo quando se trata de um presidente golpista isso também acontece. O de Michel Temer é Jorge Bastos Moreno, um colunista de O Globo que fez carreira contando histórias pitorescas da política de Brasília. Moreno foi muito próximo de Ulisses Guimarães na redemocratização e no governo FHC se aproximou de Antônio Carlos Magalhães. Diz-se que isso se deveu à relação que tinha com João Carlos Di Gênio, dono da Unip e do Objetivo.
Com Temer, Moreno sempre teve proximidade, mas os laços entre ambos se estreitaram muito nos últimos tempos. Foi Moreno, por exemplo, quem publicou com exclusividade a carta de Temer a Dilma, onde o atual presidente se dizia um vice decorativo.
Na ocasião, ainda tentou se dizer que o vazamento havia sido realizado por algum assessor palaciano aloprado. Mas quem conhecia um pouco da política brasiliense sabia: se saiu no Moreno só podia ter sido enviada pelo próprio Temer.
Entender essas relações pessoais e de compadrio têm sido cada vez mais importante para interpretar o governo atual. Só por isso desperdiço algumas linhas até chegar no personagem principal deste post, José Yunes.
Vejam o que Moreno escreveu a respeito da relação entre Temer e Yunes no dia 23 de abril do ano passado, quando Dilma ainda era presidente:
Sem pasta
O ex-deputado José Yunes é mais do que amigo, é um irmão de Michel Temer.
Por isso, ele mesmo não faz segredo da função que exercerá no eventual governo do vice:
— Serei um assessor sem pasta, mas que vai dizer somente verdades a ele, em tudo que eu achar que está errado.
Enfim, Yunes vai ocupar aquele “ministério do vai dar merda”, idealizado por Chico Buarque para o governo Lula."
Moreno não diz, mas Yunes e Temer se conheceram no final dos anos 50, no curso de Direito do Largo São Francisco, na USP. São amigos de quase 60 anos. Desde muito jovens. Mais do que isso, foram sócios e tem uma relação de cumplicidade que vai muito além da política. Yunes sempre se encarregou, segundo uma fonte que conviveu com ambos, das tarefas mais comezinhas para o amigo. Aquelas que só um grande amigo pode cumprir e que exigem total discrição.
Ontem, quando Yunes disse que Eliseu Padilha o havia feito de mula para receber dinheiro da Odebrechet pelas mãos de Lúcio Funaro, as placas tectônicas de Brasília se mexeram. Não à toa que Padilha já pediu licença para fazer uma cirurgia de emergência da próstata .
Só há duas possibilidades para isso ter ocorrido.
Hipótese 1:
Yunes falou em nome de Temer, porque Eliseu Padilha, que controla boa parte das relações no Congresso, poderia estar lhe chantageando ou pressionando demais.
Hipótese 2:
Yunes mandou um recado para Temer ao atacar Padilha. Do tipo, se não resolver o que quero, acabo com o seu governo.
Quem conhece a relação de Yunes e Temer aposta as fichas na hipótese 1. Mas é prudente não se descartar a segunda hipótese. Porque nada pior do que um amigo de quase 60 anos que se sente abandonado.
O fato é que a guerra interna no governo é muito maior do que a mídia tradicional está noticiando. Uma das fontes com quem o blogue conversou na condição de anonimato disse categoricamente. "Yunes talvez seja a única pessoa da confiança do Temer. Jamais faria isso sem falar com ele."
Essa é a primeira parte da matéria. Ainda há muito mais a se dizer e entender das relações de Temer, Yunes e Padilha.