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O que os neotucanos estão fazendo com o legado de Mário Covas é algo absolutamente estapafurdio. E isso vale para os membros de sua família. O espanhol tinha muitos defeitos, mas não podia ser acusado nem demagogo e tampouco de se render a fanfarronices para ganhar votos.
Covas disputou eleições em momentos duros da história do Brasil. Os mais novos tendem a achar que a onda conservadora começou ontem. Enganam-se. O Brasil sempre foi um país muito conservador e isso tem relação, entre outras questões, com a forma como a nossa mídia se organiza e pauta o debate nacional.
E mesmo depois da redemocratização, em 1984, várias eleições foram disputadas onde o que se tinha que derrotar era a defesa de pautas como a pena de morte.
Foi montado neste discurso, por exemplo, que o radialista Afanásio Jazadi, precursor de Bolsonaro, foi eleito deputado estadual por São Paulo, em 1986, com 558 mil votos.
Mesmo com todo o apelo desse discurso fácil, Covas não patinava nessas questões. Se no plano econômico aceitava a política de privatizações de Fernando Henrique, nos debates sociais e de direitos, mantinha-se fiel a boa parte dos seus princípios.
No governo dele em São Paulo, por exemplo, havia muito mais preocupação em tratar a questão da segurança pública a partir da lógica de direitos.
Entre outras coisas, Covas criou, por exemplo, o Proar, que fornecia tratamento psicológico aos policiais envolvidos em episódios de alto risco, como tiroteios com morte. E a Ouvidoria da Polícia, que entregou a Benedito Mariano, petista e militante dos direitos humanos.
É verdade que na gestão Covas houve uma grave crise na Febem. E que ele foi muito criticado por isso. Mas havia espaço para diálogo com a sociedade civil.
Mas por que estou dizendo isso. Por que durante toda a sua campanha, João Dória fez homenagens a Covas e continua fazendo no governo. Mas o fato é que todo a defesa simbólica do que Covas representou não vale nada para o novo prefeito de São Paulo.
Sua inspiração é em Jânio, adversário histórico do santista. Que, verdade seja dita, começou na política pelas mãos do homem da vassourinha.
Doria varre as ruas com a vassoura de Jânio e esconde a pobreza embaixo de pontes e viadutos com telas verdes numa política muito mais malufista do que Covista. Agora, vai tirar o leite das crianças das escolas públicas e acabar com o transporte gratuito e o material escolar delas.
João Doria, é verdade, dá dimensão a nova safra de tucanos. Uma geração de nanicos morais e oportunistas. Que não tem compromisso com nada que possa dizer de progressista ou de social democrata.
Ver a família Covas aceitando secundar um projeto desses, dá certa tristeza. É verdade que já faz tempo que esse pessoal entortou o bico, mas neste caso seria muito mais digno ir pescar na praia. E ir ver jogos na Vila Belmiro, sem Doria.