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Por Glauco Faria
Muitas vezes um jogador de futebol, ainda que tenha boas qualidades, pode atuar mal diversas partidas seguidas por estar fora de posição. Esta pode até não ser a analogia mais perfeita, mas o fato é que José Eduardo Cardozo parece muito mais à vontade como advogado-geral da União do que à frente do Ministério da Justiça.
E não se pode dizer que Cardozo tenha vida fácil na sua nova função. Além do pedido de impeachment na Câmara dos Deputados, enfrentou também a delação premiada de Delcídio do Amaral. Foi a campo em situação adversa. E, se o jogo virar, vai ter crédito na vitória.
Na comissão especial que analisa o pedido de impedimento de Dilma, Cardozo fez o embate político sem deixar a sustentação jurídica de lado. Em sua apresentação, seguiu a linha que Dilma tem adotado em suas últimas e agora frequentes aparições: tratou o pedido de impeachment contra ela, sem a caracterização de crime de responsabilidade, de golpe de Estado. Sustentou ainda, como muitos juristas o fazem, que as ditas pedaladas fiscais não são operações de crédito, e que tampouco os decretos de crédito suplementar descumpririam a meta fiscal de 2015.
O que saiu do roteiro já estabelecido por Dilma na parte discursiva foi a polarização com o presidente da Câmara, Eduardo Cunha. A escolha não é à toa. Força a identificação dos que apoiam o impeachment com interesses pouco republicanos do peemedebista. Que combinam com outros tão ou menos republicanos de inúmeros oposicionistas e evidencia a falsidade do argumento de que o impedimento é o resultado de uma batalha contra a corrupção. Até porque nem a denúncia aceita por Cunha trata da questão.
Nesse ponto, Cardozo também atacou a apresentação de dois dos responsáveis pela peça que pede o impeachment de Dilma, feita na semana passada, já que ambos fizeram alusão a fatos que não estão na denúncia aceita pela Câmara ou que foram rejeitadas em seu acolhimento. “A defesa não foi intimada a acompanhar. Se o fosse, faria contestações”, disse.
Ao fazer uma apresentação direta, sem ser superficial, o advogado-geral forçou ainda um contraste com parlamentares que o antecederam na sessão ou que tentaram interrompê-lo durante sua fala. Nisso, de fato, a oposição ajuda o governo. Fica mais fácil para o titular da AGU se destacar quando um dos deputados fala ao microfone agarrado a um boneco de Lula vestido de presidiário com uma ternura quase infantil.
Também por conta disso, se a apresentação de Cardozo não define o jogo, ajuda, no mínimo, a baixar a moral do lado da oposição, evidenciando o despreparo de sua tropa. Combater ao lado de Cunha e de deputados que se agarram a bonecos não deve ser exatamente o tipo de atitude que enche alguém de orgulho.
Foto de capa: Zeca Ribeiro / Câmara dos Deputados