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A saída de José Eduardo Cardozo para a Advocacia Geral da União consolida uma mudança de centro político do primeiro para o segundo mandato da presidenta Dilma Rousseff. Durante seu primeiro governo, Dilma tinha como seus principais interlocutores no ministério Aloizio Mercadante, José Eduardo Cardozo, Miriam Belchior e Gleisi Hoffman. Sendo que os dois primeiros eram os mais influentes.
No início do segundo governo já havia uma expectativa de que Jaques Wagner assumisse a Casa Civil, mas Dilma preferiu manter Mercadante. Só com o aprofundamento da crise política é que ela aceitou fazer a troca.
Com a saída de Cardozo e a indicação de Wellington Cesar Lima e Silva, que foi procurador-geral de Justiça da Bahia, o ministro da Casa Civil começa a consolidar uma nova cara para o governo Dilma, muito mais parecida com ele do que com a própria presidenta.
Ao assumir a Casa Civil, Wagner buscou, junto com o ministro Berzoini, uma reaproximação com o Congresso por meio de uma postura menos arrogante e mais pragmática, uma mudança radical em relação à forma de atuar de Aloizio Mercadante. Os resultados dessa mudança de rota vêm aparecendo aos poucos, mas já construíram uma base mínima na Câmara que garantiu, por exemplo, a vitória de Leonardo Picciani na eleição à liderança do PMDB, que talvez tenha sido a maior vitória do governo no Legislativo neste mandato.
Por mais criticado que tenha sido, o acordo com Renan Calheiros no Senado passa por essa lógica. A estratégia de Wagner e Berzoini é evitar conflitos tanto quanto for possível, principalmente com aqueles que ainda se dispõem a apoiar o governo mesmo de forma crítica.
O perfil do novo ministro da Justiça parece indicar esse mesmo caminho. Wellington Cesar é um procurador garantista, segundo fontes ouvidas pelo blogue, tem a simpatia de advogados e juízes progressistas na Bahia e, ao mesmo tempo, é do Ministério Público. O que se, por um lado, desagrada os delegados da Polícia Federal, por outro abre uma porta do governo com um órgão que se transformou nos últimos tempos em uma poderosa corporação.
Wellington Cesar terá condições de discutir a função do MP em um Estado democrático como forma não só de garantir o combate à corrupção e punição contra crimes, mas também de preservar os direitos cidadãos e as garantias individuais. Além disso, como a indicação de seu nome veio de Wagner, espera-se que Wellington Cesar também faça com que o MJ retome um pouco do seu espaço político, discutindo, entre outras coisas, temas da segurança pública e do Estado, que foram abandonados no governo Dilma.
A ampliação de poderes de Jaques Wagner é vista com bons olhos tanto no PT quanto por pessoas do governo que avaliam que o perfil conciliador e a experiência política do baiano são características necessárias neste momento e podem, se bem aproveitadas, recuperar aos poucos, e sem ansiedade, as condições de governabilidade e a popularidade da presidenta. Há alguns meses já se defendia que Dilma tivesse uma atuação mais internacional e se preservasse em relação à política interna. Se a indicação de Wellington Cesar vier a dar certo, esse movimento pode se consolidar, tornando Wagner uma figura que poderia ser caracterizada como um super ministro.
Evidente que qualquer um que venha a ser considerado como uma figura forte desse governo corre riscos muito maiores de se tornar um alvo. Wagner sabe disso. E, como bom baiano, vai fazer de tudo para escapar dessa armadilha.
A saída de Cardozo do Ministério da Justiça pode até ser interpretada por alguns como mais uma baixa do governo Dilma. Mas também não pode deixar de ser entendida como mais um movimento de mudança na centralidade de poder interno. É Wagner ganhando espaço em um momento no qual o governo parece começar a acertar os passos. Os resultados das pesquisas Datafolha e MDA, se não são alvissareiros, pelo menos dão sinais de que ainda há possibilidade de recuperação.
Foto: Ascom / MP-BA