Escrito en
BLOGS
el
Fidel morre num dos piores momentos da esquerda.
Este 2016 é um dos piores anos para a esquerda dos últimos tempos. E aí, de repente, pra completar, morre Fidel.
O líder mais importante e mítico da esquerda ainda neste pequeno pedaço do universo.
O líder que conseguiu sobreviver 49 anos no poder sofrendo todo tipo de boicotes e ataques do mais poderoso e vil país do planeta.
O líder que fez multidões ficarem horas lhe ouvindo contar histórias sobre a revolução.
O líder que conseguiu ver na década passada boa parte da América Latina sendo governada por partidos de esquerda e de centro esquerda, depois de tê-la visto sendo governada por décadas por ditaduras sanguinárias.
O líder que colocou seu povo para lutar nas independências africanas.
O líder que construiu um dos sistemas de saúde mais humanos e eficientes do mundo.
O líder que esteve e foi respeitado por todos os líderes do século XX sem precisar ter que dar a mão a um presidente americano.
O líder que agora vira mito.
Sua morte, porém, como disse na abertura deste texto, se dá num dos piores momentos da esquerda.
Em dias de vitória do discurso xenófobo, temperado com ódio e altas taxas de violência, que levaram Trump a ganhar a eleição dos EUA, que estão colocando Le Pen na França à beira de uma vitória histórica, que levou à rejeição do acordo com as Farc na Colômbia, que impôs a derrota à União Européia na Franca, que faz milhares de refugiados sírios e de outros tantos países como o Haiti, perambularem sem destino e morrerem à busca de um canto com paz e comida para viver.
Fidel também morre num dos momentos mais duros dos partidos de esquerda da América Latina. Quando o PT tem a sua pior eleitoral e seus líderes são caçados e perseguidos como bandidos por uma justiça mais do que seletiva, quando o mesmo de alguma forma também já começa a acontecer com o peronismo na Argentina, quando o legado do chavismo se desfaz na Venezuela, quando golpes como os de Honduras, do Paraguai e mesmo o do Brasil são dados sem resistência.
Fidel morre e a gente fica pensando, será uma era que vai?
Será um tipo de esquerda e de forma de lutar pelo mundo que se despede?
Será um recado para as novas gerações de que vai ser preciso fazer diferente?
Será o velho morrendo para deixar o novo crescer?
Ou será que tudo já estava morto e só estamos vivendo um rito de passagem.
E de repente depois deste rito, depois deste luto a gente vai ver outras flores brotarem por aí.
Com a força e os sonhos do Fidel mais jovem, daquele Che que o acompanhava.
Com um discurso mais leve, menos bélico e ao mesmo tempo tão empolgante e mobilizador.
Fidel morre, mas continuamos.
Orai por nós, Fidel.