"Eu sempre tive uma visão muito crítica do PT. Uma coisa é a liderança do Lula, que é incontestável, mas o PT hoje é muito mais uma força eleitoral do que uma força política. Não diria que é uma falsa esquerda, mas as divergências dentro do partido são tão grandes que está virando de tudo um pouco. Eu digo até que virou um PMDB de esquerda, infelizmente".
Dilma não pensa muito diferente de Araújo. Evidente que um não fala pelo outro, mas quando ele deu essa entrevista em 2012, o sinal amarelo acendeu no PT e nos círculos de amigos mais próximos de Lula. Era um sinal de que se o ex-presidente buscasse voltar ao cargo, Dilma poderia enfrentá-lo por outro partido. Naquele momento Dilma tinha altos índices de popularidade.
Lula, porém, nunca aceitou que sua candidatura fosse colocada e operação de Araújo na retomada do PDT foi um fracasso.
Mas a entrada de Ciro Gomes no PDT muda as coisas. Lupi continua mandando no partido, mas agora a sigla tem uma pessoa com força para disputar eleitoralmente a presidência em 2018. E isso pode lhe fazer abrir um pouco mais de espaço para que o PDT seja menos refém de seus desejos.
Dilma não foi à toa a essa reunião do PDT. E isso não tem só relação com o fato de a sigla ter adotado posição anti-impeachment. O recado claro era que de há pontes possíveis com o partido e com Ciro.
E engana-se quem acha que Dilma pode vir a trair Lula nesta operação. O ex-presidente sabe de toda a movimentação e tem conversado muito com Ciro.
Lula não tem vontade de ser candidato novamente ao Palácio, mas pode vir a sê-lo. E neste caso, Ciro poderia vir a ser o seu vice. Mas Lula também começa a achar que pode ser a vez de Ciro. E neste caso, o PT ofereceria um vice a ele. Que pode ser alguém do sudeste, como o atual prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, caso este não venha a se reeleger.
Nesta operação, a ida de Dilma para o PDT seria algo para depois do governo.
Mas uma tese que volta e meia ganha força é a de que se a crise se aprofundar e o PT vier a ser engolido por ela, Dilma deveria mudar de partido ainda durante este mandato e buscar construir uma nova base para governar. Atraindo setores que hoje estão na oposição, como o PSB.
O próprio Ciro já tratou do assunto. E alguns ministros também falam disso em conversas reservadas.
Independente de qual cenário vai se impor, o PDT deve ganhar filiações importantes de candidatos no país inteiro. A perspectiva de poder com Ciro e o acordo com o governo permitem àqueles que estavam insatisfeitos com o PT, por exemplo, pularem do barco, sem dar um cavalo de pau.
O PDT que parecia morto ressurge das cinzas. E pode vir a se tornar uma sigla forte. A conjuntura parece ser mais favorável ao partido do que a qualquer outro neste momento.
E isso tem a ver com a perspectiva de candidatura de Ciro, mas muito mais com os movimentos de Lula e Dilma.