Laerte, desculpe-me, mas eu entendo o Reinaldo Azevedo

Há coisas na vida que não se explicam racionalmente. Não são todos que entendem isso. Até porque os limítrofes têm imensa dificuldade para entender muita coisa. Entre elas, questões que escapam à pura racionalidade.

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Há coisas na vida que não se explicam racionalmente. Não são todos que entendem isso. Até porque os limítrofes têm imensa dificuldade para entender muita coisa. Entre elas, questões que escapam à pura racionalidade. Limítrofes e medíocres são primos-irmãos. Necessariamente não são pessoas mal informadas, mas gente que apesar de ter tido todas as chances da vida e ter acesso ao que bem entender, não consegue ultrapassar certas linhas. Eles ficam numa divisa, que, em geral, eles mesmo se impuseram. Não se arriscam a passar dali porque temem o indefinido, o desconhecido. E suspeitam que se se permitirem uma reflexão ou ação mais aguda, perderão a identidade assumida. Os limítrofes, Laerte, não conseguiriam nunca fazer algo como o Piratas do Tietê. Afinal, quem poderia viajar numa história tão realisticamente fantástica de bárbaros românticos no nosso rio mais poluído? Os limítrofes, Laerte, não sabem o que é humor. E tampouco o que é amor. Os limítrofes, Laerte, são sofredores, amargos e amargurados. Imagine, minha amiga, o quão doloroso é para alguém que não consegue olhar além das lentes dos seus óculos ver que existe um mundo indecifrável vivido por um outra pessoa que é muito mais querida, muito mais amada e muito mais feliz. Não é nada fácil. Principalmente quando essa pessoa é você. Eu já te disse, Laerte, que te acho a cara de São Paula, lembra? Sim, São Paula. Estava um pouco ansioso naquele dia e falei São Paulo. Falei sem refletir. Meio coisa de gente que ainda não entendeu que existem duas cidades, duas gentes, dois tipos de pessoas completamente diferentes a habitar este nosso canto. Quando saí dali é que me pus a refletir e pensei, que mico. Laerte é a cara de São Paula. Uma cidade mais humana, delicada, guerreira, inteligente, perspicaz, sagaz e muitíssimo bem humorada. Essa cidade é o tempo toda ameaçada por uma outra que quer nos levar ao túnel escuro do obscurantismo e do atraso. E essa cidade você não representa. Laerte, pra não me estender muito, só queria te dizer que você nos orgulha. Por isso, toma um banho de ervas, bote um galho de arruda na orelha e siga em frente. E você tem razão, amiga, sem tesão não há solução. Gratidão por existir. E não leve a mal o teu detrator. Afinal, a inveja é uma merda.