Meu nome é corte de direitos, mas pode me chamar de ajuste fiscal

Lembrei muito do dicionário do tucanês, de José Simão, ao ver o exercício que o governo e alguns petistas têm feito para defender essa lambança que é cortar direitos do seguro desemprego e do pobre pescador que precisa dos recursos da época do defeso para comer

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Nos anos FHC um dos melhores analistas políticos se chamava José Simão. Sim, ele mesmo. Foi o macaco quem melhor entendeu a alma daquele governo. Com o seu dicionário de tucanês ele explicava o que a turma do PSDB queria dizer com certas frases cheias de empolação e empulhação. Fui olhar o dicionário há pouco para lembrar de algumas. Massa trabalhadora em stand up = desempregados; reposição compensatória de tarifa = aumento; nômade urbano = morador de rua; bolsa de exclusão de renda = favela; flexibilizar a legislação trabalhista = acabar com o 13º e/ou a volta do trabalho escravo. Lembrei muito desse dicionário ao ver o exercício que o governo e alguns petistas têm feito para defender essa lambança que é cortar direitos do seguro desemprego e do pobre pescador que precisa dos recursos da época do defeso para comer. Na posse da presidenta Dilma, conversava com um deputado do PT que estava puto da vida com as medidas. Seu raciocínio me parecia óbvio. Ele dizia que o governo tinha que agir privilegiando os mais pobres antes de fazer o ajuste em cima deles. E que mesmo nos casos onde houvesse um ou outro desvio, devia-se fazer vistas grossas, porque era um jeito que o pobre tinha para fazer justiça social. Ou seja, rico sonega pra depois conseguir um refis e pagar em 30 anos. E pobre não consegue nem ganhar uns caraminguás a mais por ser plantador de mandioca e apenas um pescador ocasional. E agora, o PT aprova o corte desses direitos. E junto com a mídia passa a chamá-los de ajuste fiscal. O verdadeiro ajuste seria o de cobrar os impostos devidos de grandes empresas como a Rede Globo, cujo Darf ninguém sabe e ninguém viu. Ou ir atrás de cada um desses vagabundos que está na Operação Zelotes. Ou ainda fazer de tudo para aprovar o imposto sobre grandes fortunas. Que nada. Bora comemorar a primeira vitória de Dilma na Câmara. Uma vitória de pirro e que na verdade é uma derrota para a base que lhe garantiu a eleição. Talvez o único certo dessa história toda seja o senador Renan Calheiros, que é um profissional. Esse governo é muito adolescente. E como alguns deles, meio perdido e muito metido à besta. Foto: Bob Wolfenson/Reprodução