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Miguel do Rosário, autor do blogue O Cafezinho, foi condenado em segunda instância, sem possibilidade de recurso, a pagar R$ 20 mil de indenização ao diretor-geral de jornalismo da Globo, Ali Kamel. Com os custos judiciais, o blogueiro terá que desembolsar algo em torno de R$ 30 mil.
O episódio é simbólico por vários motivos. Rosário fez uma crítica política ao jornalista global por conta da sua função, e os adjetivos mais pesados utilizados por ele foram “sacripanta” e “reacionário”. Nada perto do que se escreve a respeito de Lula e Dilma, por exemplo, na mídia tradicional. É bom lembrar, aliás, que a Globo de Kamel emprega em um de seus canais um jornalista cuja principal obra literária se chama “Lula é minha anta”.
Entre os vários sentidos do episódio, chama a atenção a assimetria da Justiça brasileira. Em 2013, por exemplo, a revista Veja foi condenada por publicar uma nota mentirosa na coluna Radar, em 2006, na qual se afirmava que o então ministro da Secom Luiz Gushiken havia sido visto em um jantar com o empresário Luis Roberto Demarco, tendo pago sua parte em dinheiro de uma conta que teria totalizado 3,5 mil reais. Desfeita (s) a (s) mentira (s), a condenação para a publicação foi de R$ 20 mil. O mesmo valor imposto a Miguel do Rosário.
Desnecessário dizer que o alcance e o poder econômico da publicação da Abril e do autor de O Cafezinho são bastante distantes entre si. A editora disponibiliza, aliás, um sólido corpo jurídico para defender em juízo sua publicação diante da fabricação constante de assassinatos de reputação. Para Veja, com condenações desse nível, o crime compensa. Para um blogueiro que não ganha milhões em verbas oficiais como a publicação dos Civita, é algo para se perder o sono.
Outro exemplo de aberração jurídica foi quando o mesmo Gushiken venceu outra ação contra Veja, que havia sustentado que ele tinha contas secretas no exterior. Em primeira instância, o valor arbitrado como indenização havia sido de meros R$ 10 mil. Rodrigo Vianna, por dizer que Kamel fazia um “jornalismo pornográfico”, foi condenado na mesma instância a pagar R$ 50 mil ao diretor global. O TJ-SP, no entanto, elevou o valor da condenação à Veja para R$ 100 mil em março de 2014, depois que o ex-ministro havia sucumbido a um câncer.
Mas qual a razão do título desse post? É porque é necessário lembrar o que representa o trabalho de Miguel do Rosário. Alguém que batalha mesmo sem recursos para fazer um contraponto à velha mídia, trazendo informação e análise de temas como a atual crise da Petrobras. Quantos têm feito uma defesa tão intensa dos interesses nacionais, separando o joio do trigo que a velha mídia insiste em misturar nesse caso?
Por isso, não só os movimentos relacionadas à defesa da Petrobras deveriam se unir e ajudar O Cafezinho nesse momento, mas todos aqueles que lutam pela democratização da mídia, entidades, movimentos, coletivos, sindicatos, centrais, que precisam entender que fazer jornalismo envolve não somente dedicação, empenho e trabalho como custos que muitas vezes batem à porta em função de injustiças como a que sofre hoje Rosário.
É preciso, antes de qualquer coisa, uma campanha de mobilização para ajudar O Cafezinho a arcar com os custos da condenação judicial. E, depois, que se promova um intenso debate em relação à judicialização da batalha política e da comunicação que já acontece no Brasil e que tem como objetivo calar as vozes que há tempos incomodam o status quo da velha mídia.
Veja algumas formas de colaborar com Miguel do Rosário aqui.