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O ano acaba para o governo muito melhor do que se imaginava. A presidenta corria o risco de enfrentar um processo de impeachment controlado por Eduardo Cunha e Temer e ter de assistir da sua TV no Palácio do Planalto marchas de centenas de milhares de pessoas pedindo sua saída em todas as partes do país.
Esse era o cenário desejado por muitos opositores e esperado por alguns de seus assessores mais próximos.
Não eram poucos os que já estavam jogando a toalha nos últimos meses.
De repente, as manifestações contra o impeachment foram maiores do que as que pediam Fora Dilma, o Supremo Tribunal Federal organiza o processo de afastamento da presidenta dando ao Senado um papel muito mais relevante do que Eduardo Cunha e Temer queriam, Leonardo Picciani retoma a liderança do PMDB na Câmara, Renan vai para cima de Temer disputando o partido, a Procuradoria Geral da República pede o afastamento de Eduardo Cunha e, pra finalizar, Joaquim Levy cumpre o prometido e anuncia que está deixando o governo sem que nada aconteça nem pra melhor e nem pra pior na economia.
Ou seja, além das vitórias políticas, a presidenta passa a ter segurança de que mexer com aquele que se dizia o Pajé da tribo não era assim um risco tão grande. O Deus Mercado não vai acabar com todos os índios só porque o Pajé vai deixar seu posto.
E mesmo com todas as relativas vitórias políticas que teve, Dilma tem que acertar na economia se quiser garantir aos seus articuladores palacianos alguma condição de operar oferecendo expectativa de futuro para uma nova base no Congresso.
Esse é o principal problema do governo. Político algum quer ficar associado a uma presidenta que tem 14% de aprovação, num país com quase 4% de queda do PIB e com desemprego em alta.
Não há cargo que compense o risco, a não ser que haja expectativa de um futuro melhor.
Neste momento, Dilma avalia as várias possibilidades de nome para substituir Levy e que estão sendo despejadas na sua mesa. A solução caseira, por enquanto, é a que esta sendo melhor recebida por ela.
Nélson Barbosa não desagradaria o mercado e teria melhor interlocução do que Levy com os movimentos sociais e políticos da base da presidenta. Ele poderia emitir sinais de mudança, mas sem sugerir que seria dado um cavalo de pau na organização das finanças.
Ou seja, ficaria claro que o ajuste seria realizado, mas não todo de uma vez. Valeria a tese de que entre o remédio e o veneno a diferença é a dose. E que Barbosa trabalharia com doses menos fortes e de médio prazo para recuperar o país.
A solução Jacques Wagner (Fazenda) e Miram Belquior (Planejamento) também tem defensores no governo. Mas pelo que o blogue apurou, não é a tese prevalente. Porque implicaria num risco muito alto num momento desses.
No caso de Barbosa ir para a Fazenda, há dois nomes da política que podem surpreender no Planejamento: Armando Monteiro Neto, ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, ou o do senador Romero Jucá. Neto dialogaria com o setor produtivo, que está sendo inflado por Paulo Skaf, aliado de Temer, para desestabilizar o governo e ainda ampliaria o diálogo com centro político. Jucá é um dos principais aliados de Renan no Senado e um dos mais habilidosos articuladores políticos. Apesar de Dilma ter dificuldade de relacionamento com ele, sua chegada ao governo poderia mostrar boa vontade da presidenta para construir um novo caminho político.
O nome de Henrique Meirelles ainda estaria sendo defendido por Lula, mas já não empolga nem Dilma nem seus ministros mais próximos.
O receio no Planalto é que a presidenta erre no tempo da política e nomeie um segundo escalão para o lugar de Levy. Ou seja, deixe esse bonde de boas notícias passar e que outra bomba da Lava Jato jogue de novo o governo nas cordas.
Se isso acontecer, ficará ainda mais difícil convencer alguém a aceitar o cargo.
E o governo pode ter perdido sua última oportunidade de criar uma nova onda e abrir novos espaços de diálogo.
A porta aberta com a saída de Levy pode ser melhor do que as mudanças do processo de impedimento no Supremo. Mas se ela não for bem aproveitada, pode ser o fim do governo. E para que não seja, Dilma não pode desprezar os sinais que Renan lhe deu de apoio nos últimos dias.