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Em campanhas eleitorais quando o calo aperta é comum aparecem os salvadores da pátria com ideias que parecem geniais, mas que em geral estão mais para estúpidas. Há vários exemplos de peças que maracaram época e que entraram para a história das trapalhadas do marketing. Regina Duarte, por exemplo, virou a “eu tenho medo” em 2002 e nunca mais descolou isso da sua biografia. Serra também ficou marcado a partir dali como um candidato que apostava no vale tudo em processos eleitorais.
Um pouco depois, em 2008, Marta Suplicy começou a disputa eleitoral em primeiro lugar e sua candidatura foi perdendo força, até ser superada pela do então prefeito Gilberto Kassab, que disputava a reeleição. Num dado momento do segundo turno, um comercial explode nas telas dos paulistanos. Em resumo, ele fazia uma insinuação sobre a orientação sexual do prefeito e perguntava: “é casado, tem filhos?”. Algo absolutamente estapafúrdio e que enterrava toda a história progressista da ex-prefeita e atual ministra na defesa dos direitos LGBT.
Marta perdeu a eleição e mesmo alegando que não havia sido consultada sobre a peça antes de ela ir ao ar teve de fazer vários mea culpas.
Ontem, no final do programa eleitoral de Dilma, surge um questionamento à candidatura de Marina e a ex-senadora é comparada a Collor e Jânio. A peça é menos grotesca do que as duas citadas anteriormente, mas já flerta com um debate político desqualificado.
Inclusive porque Collor é hoje da base da presidenta Dilma e é o candidato do governo ao Senado por Alagoas. Alguém pode dizer, "mas ele não é o nosso candidato a presidente". Verdade. Mas é no mínimo constrangedor que se use um aliado como exemplo negativo para provocar um adversário.
Esse tipo de ataque pode até funcionar nas salas fechadas das pesquisas qualitativas, mas ao ganhar o debate público numa sociedade que hoje é absolutamente interconectada digitalmente ele vira meme ao contrário. E acaba desmoralizando aquele que acionou o gatilho.
A disputa entre Dilma e Marina tem espaço para ser bastante qualificada. E provavelmente não será decidida apenas na emoção, como parece ser o caminho natural neste momento. O eleitor brasileiro amadureceu e tem tomado decisões conscientes nos últimos pleitos. Até porque ele sabe que tem o que perder e só vai votar em Marina se sentir seguro. Mas ao mesmo tempo não aceitará ser chantageado e ameaçado. Principalmente o eleitor mais jovem.
Agora, ele aceita o papo reto e a conversa franca. Acha que o debate faz parte do jogo. O eleitor quer saber por que Marina pode ser um risco, se há quem ache isso. E aí cabem discussões muito mais interessantes para o futuro do país.
Por exemplo, Marina ganhar a eleição sem um projeto político claro e uma base de sustentação pode ser um risco? Sim, pode. Mas 59% do eleitorado jovem, segundo pesquisa do Instituto Data Popular, acredita que a situação do país seria melhor se não existissem partidos. Então, por que esse eleitorado se sensibilizaria com um argumento raso em relação a isso?
Será que levá-lo a pensar sobre o que significa enterrar o pré-sal e as riquezas que o país pode vir a ter com ele não é mais efetivo? Será que explicar o que pode acontecer se o país voltar a ter um projeto neoliberal e os índice de desemprego chegar ao nível europeu de 50% entre jovens não pode ser mais efetivo? Será que conversar sobre o que é entregar o Banco Central aos banqueiros não pode ser mais efetivo? Será que fazê-lo pensar sobre sua história de vida e fazê-lo perguntar se ele hoje não está numa situação melhor do que há alguns não é mais efetivo? Será que desafiá-lo a conversar com os seus pais para perguntar como era o país na década de 90 quando os neoliberais mandavam aqui não pode ser mais efetivo?
Nesta disputa parece haver um acerto de contas a ser feito com o PT e em especial com a presidenta Dilma, mas não significa que o jogo já está definido. E isso não deveria fazer com que a campanha da presidenta apostasse em uma tática quase suicida.
Ataques simples e rasos costumam ser disparados em momentos de dificuldade, mas em geral não apresentam resultados. Qualificar a discussão é sempre o melhor caminho. É mais difícil, mas com isso ao menos se mantém a dignidade.