Será o fim da carreira de Paulo Maluf?

Tribunal Superior Eleitoral (TSE) manteve decisão de negar o registro da candidatura a deputado federal do ex-governador de São Paulo. Relembre a trajetória daquele que já foi o maior expoente da direita brasileira

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Tribunal Superior Eleitoral (TSE) manteve decisão de negar o registro da candidatura a deputado federal do ex-governador de São Paulo. Relembre a trajetória daquele que já foi o maior expoente da direita brasileira Por Maíra Streit Por quatro votos a três, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) negou, na noite da última terça-feira (23), o registro de candidatura de Paulo Maluf (PP-SP) a deputado federal nas eleições de 2014. Relatora do recurso do candidato, a ministra Luciana Lóssio, com apoio de outros três ministros, manteve a decisão do Tribunal Regional Eleitoral de São Paulo, que no início do mês se colocou contra o registro de Maluf com base na Lei da Ficha Limpa. Ele foi condenado por improbidade administrativa em 4 de novembro do ano passado pela  10ª Câmara de Direito Público do Tribunal de Justiça de São Paulo (TJSP) por irregularidades nos contratos de construção do Complexo Viário Ayrton Senna, no período em que ocupava o cargo de prefeito da capital paulista. A partir de agora, Maluf ainda pode manter sua campanha, porém, os votos não serão computados pela Justiça Eleitoral. Isso só irá acontecer caso ele consiga ter a candidatura autorizada por meio de recurso no próprio TSE ou no Supremo Tribunal Federal (STF). A confirmação da impugnação de Paulo Maluf à reeleição como deputado cria um clima de incertezas quanto ao futuro de um dos políticos mais controversos da história do país. Aos 83 anos, sendo 47 marcados pela vida pública, o ex-prefeito e ex-governador de São Paulo coleciona denúncias de desvio de dinheiro público, sendo considerado por muitos um ícone da corrupção brasileira. Em 2005, investigações do Ministério Público conseguiram provar que o valor desviado de obras durante a gestão na prefeitura chegava a 500 milhões de dólares. Nessa fase, ele e o filho Flávio chegaram a ser detidos por intimidação de testemunhas, em uma tentativa de impedir o trabalho da Justiça, e dividiram cela com outros presos durante 40 dias na sede da Superintendência da Polícia Federal, em São Paulo. À época, o STF julgou que a prisão seria juridicamente ilegal, pois a saúde de Maluf era frágil demais para que ele permanecesse preso e, assim, decretou sua liberdade. No entanto, os jornais denunciaram que, apesar da “saúde frágil”, ele foi visto no dia seguinte comendo pasteis e tomando cerveja na cidade de Campos do Jordão. Dois anos antes, o político já havia conhecido a prisão em Paris, quando passou onze horas prestando depoimento no Escritório Central para a Repressão à Grande Delinquência Financeira da França. Na ocasião, os policiais interrogaram Maluf sobre suas movimentações financeiras, que haviam chamado a atenção do gerente do banco. As contas secretas no exterior e o superfaturamento de obras, além da passagem de dinheiro por redes de doleiros e laranjas logo seriam levadas a público. "Filhote da ditadura" Mas, para falar sobre os escândalos que rondaram o nome de Maluf até hoje, é preciso ir ainda mais longe e conhecer melhor a biografia do polêmico deputado. De família libanesa, o empresário e engenheiro teve como primeiro partido político a Arena, sustentáculo do Regime Militar. Em 1964, iniciou uma amizade com o ex-ministro da Fazenda Delfim Netto, que o indicou para a presidência da Caixa Econômica Federal em 1967, além de ajudá-lo a ser nomeado prefeito de São Paulo em 1969 e secretário de Transportes em 1971. Político de direita, nunca trocou de partido. A sigla é que foi mudando de nome. Passou de Arena para PDS, que depois se transformou em PPR, PPB e, agora, PP. Maluf associou-se ao populismo e à realização de grandes obras públicas, como a Marginal Tietê e o Elevado Presidente Costa e Silva, conhecido popularmente como “Minhocão”, além de outros importantes túneis, avenidas e viadutos.  Porém, foram também as grandes obras os motivos que o fizeram estar muitos anos sob a mira de investigações policiais, em diversas denúncias de corrupção, lavagem de dinheiro, formação de quadrilha e crimes contra o sistema financeiro. Em 1979, alcançou o governo do estado de São Paulo e foi eleito deputado federal por três vezes: em 1982 – com a maior votação do país até 2002, sendo superado por Enéas Carneiro -, e também em 2006 e 2010, nas duas ultimas com quase meio milhão de votos.  Foi novamente prefeito de São Paulo em 1992, mas dessa vez eleito por voto popular. Apesar da aceitação de boa parte do eleitorado, não conseguiu realizar o sonho de ser presidente da República, embora tenha tentado em 1985, quando foi derrotado por Tancredo Neves no colégio eleitoral, e em 1989. Nos debates da primeira eleição direta pós-regime militar, era chamado nos debates de "filhote da ditadura" pelo candidato do PDT, Leonel Brizola. Acabou apoiando Fernando Collor no segundo turno, em oposição ao também candidato Luiz Inácio Lula da Silva. Durante a campanha de 1989, defendeu, em um evento para médicos e estudantes, penas mais rigorosas para estupro seguido de homicídio. A frase “Tá bom, está com vontade sexual, estupra mas não mata”, proferida durante o encontro, causou grande repercussão nos meios de comunicação, como uma apologia ao estupro em vez de condená-lo, como seria o esperado. Outra saia-justa enfrentada por Maluf foi o apoio dado ao seu secretário de Finanças, Celso Pitta como o seu candidato à prefeitura de São Paulo, em 1996.  Em mais uma de suas frases emblemáticas, dizia no programa eleitoral do afilhado político: "Vote no Pitta e, se ele não for um grande prefeito, nunca mais vote em mim".  Pitta foi eleito no segundo turno e foi considerado o pior prefeito que a cidade já teve, com índices de rejeição superiores a 80%. Anos depois, se retratou, dizendo que a atitude não passou de um "erro deixado no passado". Os dois romperam os laços, mas o fato arranhou a imagem de Maluf perante os eleitores. Em 1998, um momento marcante na trajetória política de Paulo Maluf foi a campanha para o governo de São Paulo. Porém, em um debate realizado pela Rede Bandeirantes, em uma campanha de segundo turno na qual começou com sete pontos de vantagem sobre seu opositor, Mário Covas (PSDB), teve seu passado exposto pelo adversário, que insistiu na fama de corrupto, na ligação de Maluf com os militares na época da ditadura e a sua omissão diante do movimento Diretas Já. Ao final da campanha, a disputa terminou com 45% dos votos para ele, contra 55% de Covas. Insistente, concorreu novamente à prefeitura da capital paulista no ano 2000, tendo como candidatos oposicionistas Marta Suplicy (PT), Geraldo Alckmin (PSDB), Luiza Erundina (PSB) e Romeu Tuma (PFL). Ele travou um fervoroso combate com Marta e, em um dos debates, a chamou de desqualificada. Ela reagiu imediatamente com um “Cala a boca, Maluf”. Mais uma vez ele levou a pior, com 41,49%. Já a petista venceu as eleições com um total de 58,51%. Ao todo, foram dez derrotas em quase meio século de vida pública: duas em disputa pela Presidência da República, quatro para governador paulista e quatro para a prefeitura de São Paulo. De lá para cá, as contas a acertar com a Justiça foram ficando cada vez mais evidentes e o cerco foi sendo fechado contra ele no Brasil e no exterior. Em 2006, a polícia das ilhas Jersey, paraíso fiscal no canal da Mancha, bloqueou contas com aproximadamente 200 milhões de dólares de Paulo Maluf e seus familiares. Em março de 2010, seu nome foi incluído na lista de procurados pela Interpol, o que faz com que ele seja proibido de embarcar para 181 países, sob o risco de ser preso. Ele foi também um dos quatro brasileiros incluídos pelo Banco Mundial em uma lista de 150 casos internacionais de corrupção, por ter milionárias movimentações bancárias ilegais. Atualmente, é o quinto político mais rico do Brasil, segundo a revista Forbes. E, mesmo com a extensa ficha corrida, pesquisa recente divulgada pelo Ibope mostrou que, ainda assim, ele é hoje um dos líderes na corrida pelo cargo de deputado federal por São Paulo. Foto: Reprodução