O incêndio na casa da torcedora gremista e a intolerância construída

Os agressores virtuais de Patricia Moreira não eram militantes dos direitos humanos. Como não devem ser aqueles que incendiaram sua casa. Eram pessoas que têm por hábito linchar. Não querem justiça, querem justiçamento. Não tem a atitude e a grandeza do goleiro Aranha.

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  Por Glauco Faria Há pouco a casa onde residia a torcedora do Grêmio Patrícia Moreira foi incendiada. Ela foi a autora dos insultos racistas contra o goleiro do Santos Aranha, episódio que se tornou símbolo da luta contra o racismo no futebol e na sociedade em geral. O racismo é algo inominável, mas o justiçamento e o linchamento também são. Assim como a prática do racismo, é o tipo de atitude que desumaniza, na qual não se enxerga o outro. Patricia, assim que seu ato foi descoberto e divulgado, passou a receber toda sorte de insultos, muitos deles preconceituosos, machistas, sexistas, e que atingiam não só a ela, mas a todas as mulheres. Sua família também passou a ser alvo, já que, para uma parte da sociedade, não basta condenar alguém. É preciso que todos os que estão próximos paguem por isso. Os agressores virtuais de Patricia Moreira não eram militantes dos direitos humanos. Como não devem ser aqueles que incendiaram sua casa. Eram pessoas que têm por hábito linchar. Não querem justiça, querem justiçamento. Parte dessa sede pela agressão como forma de justiça é alimentada pela própria mídia tradicional, que incentiva esse comportamento por meio de seus e suas “Sherazades”. A mesma mídia que, nesse episódio, ao invés de aproveitar o momento e discutir o racismo, preferiu o caminho fácil da espetacularização. Nessa história, o único correto parece ser o goleiro Aranha. Denunciou quando foi preciso, registrou a ocorrência e se recusou a colaborar com a tentativa de transformar um caso triste em espetáculo, rejeitando um encontro com Patricia e destacando que a perdoava, mas que exigia que ela respondesse ao que fez legalmente. Legalmente. Parece que essa parte muitos não ouviram. São os que costumam não escutar nunca.