O prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, dá sinais de que não está mais disposto a apanhar calado. Faz aproximadamente um ano que ele se tornou o culpado por quase tudo que acontece de ruim em São Paulo. E que não é reconhecido por nada que tenha feito de correto. Até junho de 2013 ele tinha uma avaliação razoável. Após as manifestações, viu todo seu capital político ruir e nunca mais o recuperou.
Agora, o prefeito acredita estar em condições de defender o que já realizou e de apontar para o futuro dizendo o que vai poder fazer.
Esse parece ter sido o dilema vivido por Haddad nos últimos 12 meses. Primeiro, foi atropelado pelas manifestações de rua e não soube como reagir. Até porque ele e sua equipe subestimaram a capacidade mobilizadora daquele movimento e o significado daquela pauta que apontava para uma crise da mobilidade na cidade. Depois, foi derrotado na sua intenção correta de implantar o IPTU progressivo em São Paulo e quase ao mesmo tempo perdeu o seu principal articulador político, o vereador Antonio Donato. Que, sem provas, foi enredado num folhetim criado pelos criminosos da máfia da fiscalização e teve de abrir mão do cargo de secretário de Governo.
Após esse período altamente turbulento, o prefeito preferiu se dedicar à gestão. Foi à luta para aprovar, por exemplo, o Plano Diretor que depois de muitos debates hoje se torna realidade. É um plano muito melhor do que o atual e projeta uma cidade muito mais organizada e humana. Que de alguma forma já vem sendo construída pelo prefeito com a implantação de aproximadamente 330 quilômetros de faixas exclusivas para ônibus e o projeto de construir 400 quilômetros de ciclovias até o final de sua gestão. O Plano, por exemplo, prevê a existência de área rural em São Paulo (isso mesmo). E regulariza uma quantidade do nosso território para a construção de moradia social. Além de destinar pequenas áreas municipais para pequenos parques.
É um paraíso? Evidente que não. Porque a correlação de forças na sociedade paulistana e na Câmara de vereadores é muito desfavorável para tornar São Paulo uma cidade ambientalmente e socialmente responsável. Ainda temos muito que caminhar para conseguir implementar certas pautas.
Mas o atual governo, por exemplo, já conseguiu fazer com que pela primeira vez a cidade tivesse capacidade instalada de reciclar mais lixo do que produz, com a inauguração das usinas de triagem de Santo Amaro e da Ponte Pequena. Já aumentou, de acordo com dados de junho deste ano, em 18 mil o número de vagas nas creches. E fez um projeto que é de uma beleza e importância imensa, o de Braços Abertos, na região denominada de Cracolândia
Ou seja, o governo Haddad pode não ser o paraíso prometido pelo marketing eleitoral. O que aliás é muito comum acontecer. Mas está longe de ser o inferno e o desastre propalado pela mídia que lhe faz oposição.
Haddad já tem o que mostrar. E por isso faz uns 10 dias parece ter saído do seu momento mais introspectivo e decidiu ir à luta. Deu uma boa entrevista para o El Pais há uma semana e outra hoje para a Folha de S. Paulo. Passa a oferecer uma outra narrativa para o que está fazendo. E isso fará muito bem não só para ele ou para o PT. Mas para o debate acerca dos caminhos de São Paulo, uma cidade difícil e que vem sendo gestada há muito tempo de forma tortuosa.
Uma parte daqueles que votaram em Haddad pode estar desencantada. Mas uma boa porcentagem destes não sabe de muito do que foi feito neste 1 ano e meio de governo. Por isso a importância de o prefeito falar.
Capacidade gerencial e compreensão humana das necessidades do povo, Haddad já mostrou ter em várias das funções que exerceu. Agora, pode mostrar que sabe enfrentar as piores adversidades políticas Ainda há muito tempo para resgatar seu prestígio. E o caminho é esse, apresentar-se para o debate. Mostrando o que fez e apontando para o que vai fazer.