Por que a Globo tornou novela o processo Kafkiano contra ativistas do Rio

A Globo investiu dezenas de minutos numa investigação é repleta de inconsistências que leva em consideração até P2 que acha que Bakunin é um black bloc

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Há uma narrativa em curso que vem sendo construída pela TV Globo e que busca catalizar a opinião pública contra um grupo de ativistas que foi acusado de  formação de quadrilha e ação criminosa pelo Ministério Público do Rio de Janeiro.  A investigação é repleta de inconsistências e de diz-que-diz.  Leva em consideração desde P2 que acha que Bakunin é um black bloc , até acusações de quem declaradamente afirma fazê-lo por vingança. Mas então por que cargas d´água que a Rede Globo decidiu fazer um novelão usando desde o Jornal Nacional até o Fantástico para contar essa história? Por que de repente aqueles que num primeiro momento eram vilões do Merval, do Jabor e do Willian Wack e depois se tornaram heróis, agora voltaram a ser mais do que vilões, mas criminosos que precisam ser presos e se possíveis amargar longos anos na cadeia. Mesmo sem que haja provas contundentes contra quase todos eles. Em primeiro lugar, a Globo não perdoa. Ela percebeu que uma das palavras de ordem mais mobilizadoras das ruas em 2013 foi contra a emissora. E mais do que isso, ficou irritadíssima porque seus repórteres tiveram de sair disfarçados para trabalhar. Quem ousasse ir com microfone da emissora ou qualquer coisa que  identificasse que trabalhava na empresa dos Marinhos, corria riscos. Este blogueiro, ao escrever isso, não está saboreando este tipo de ação. Sempre foi e continuará sendo contra qualquer tipo de violência. É humanista e pacifista e não liga a mínima de ser chamado de babaca por conta disso. Em segundo lugar, a Globo sabe fazer contas. A direção da emissora percebeu que criminalizar as Jornadas de Junho  e torná-la em algo historicamente relacionado à esquerda e ao crime pode ser uma boa estratégia eleitoral no curto e no médio prazo. Tanto que depois das matérias da Globo, o PSDB soltou uma nota pedindo a prisão daqueles manifestantes que foram parar em Bangu. Aliás, no mesmo dia em que esse pessoal foi preso, também foram presas pessoas acusadas de atuar contra Aécio na internet. Os mandados de prisão por duas investigações que não tinham nenhuma relação foram expedidos no mesmo dia. Em terceiro lugar, porque a Globo não tem limites. Quando se coloca numa batalha, ela só enxerga os objetivos. Não se preocupa com o que terá de fazer para atingi-los. A emissora apoiou incondicionalmente a ditadura militar e não deu um pio enquanto centenas de jovens eram torturados e assassinados. Ela tinha claro que a parceria com aquele regime lhe tornaria um império. Agora, a Globo sentiu que amadurece um projeto de democratização das comunicações e mesmo que ele tenha sido retirado do plano de governo de Dilma que foi ao TSE, o PT e Lula estão convencidos de que é algo urgente. Por isso, a direção da emissora vai apostar tudo em Aécio Neves. Talvez mais do que apostou em outras oportunidades em Serra e Alckmin. Além disso, ela também percebeu que há riscos de ser derrotada em casa. No no Rio de Janeiro, onde talvez vá se dar a disputa ao governo mais renhida, com quatro candidaturas relativamente embolas e com chances de vitória (Garotinho, Crivella, Pezão e Lindberg), a emissora só tem um candidato em que pode confiar plenamente, Pezão. Garotinho se comporta como um inimigo da emissora, Crivella é da IURD e por consequência da Record e Lindberg é do PT. A narrativa que criminaliza ativistas no Rio também busca um efeito local. A tentativa é fazer crer que só o atual governo tem condições e pulso para lidar com esse “grupo de vândalos”. Se para atingir seus objetivos a Globo tiver de fazer essas pessoas apodrecerem na cadeia, não titubeará. E por isso, essa ação contra eles ainda está longe de ser um caso encerrado. Mais do que isso. Pode ser como o assassinato do príncipe Francisco Ferdinando, do império austro-húngaro, durante sua visita a Saravejo. O que parecia algo menor, levou à 1ª Guerra Mundial. Este processo Kafkiano que está sendo contado como uma novela das nove  não é o fim de uma história. Tá mais com cara de ser o começo. Com um governo menos permeável às críticas pela esquerda, isso pode ser a regra e não exceção. A Globo também sabe disso. E por isso está investindo tanto nesta história.