Em entrevista ao blog, o deputado federal João Paulo (PT-PE), pré-candidato ao Senado, analisa o cenário político em Pernambuco e nacional. Segundo ele, Eduardo Campos está preferindo se aliar ao DEM e ao PSDB, adversários políticos do PT. "Para quem quer construir uma nova política isso é uma contradição", diz. Sobre Dilma, o deputado, que é ex-prefeito de Recife, acredita que é preciso "melhorar a articulação política interna no PT e na base". Confira a entrevista a seguir.
Blog do Rovai – Como está o cenário político de Pernambuco? Queria que fizesse uma análise de como está vendo a disputa, tanto do ponto de vista estadual como federal a partir desse novo momento em que o PT e o PSB passam a estar em lados opostos?
João Paulo – Do ponto de vista do estado de Pernambuco, acho que estamos vivendo um cenário muito positivo. Primeiro porque nós conseguimos garantir uma unidade interna no PT, depois de um processo de divisão e derrota em 2012. Depois de um debate intenso realizado durante três meses, o partido decidiu, por 70% de seus participantes no encontro, apoiar a candidatura de Armando [Monteiro - PTB] e o meu nome por unanimidade foi aprovado como candidato a senador. Isso tem tido uma liga muito grande, até porque Armando é uma grande liderança no estado, um senador atuante, ex-presidente da Fiesp, da CNI e goza de uma respeitabilidade muito grande de todo o setor de indústria e comércio. E a minha experiência e liderança na área do movimento popular, do movimento sindical, e, acima de tudo, dos mandatos que tive e o sucesso que foram meus 8 anos de prefeito se somam a isso. Tem repercutido nas mídias de opinião e em todas as pesquisas, que têm dado a vantagem significativa tanto para mim quanto para Armando. Essa semana tive acesso a uma pesquisa interna que mostra Armando com 30% e Paulo Câmara (PSDB) com 8%, e eu com 49% e Fernando Bezerra Coelho (PSB) com 8%. Para você ter ideia da dimensão do que estou falando. E, apesar de Dilma perder em Recife para Eduardo, em Pernambuco, pelo menos em nossa pesquisa interna, ela ganha dele por três pontos. Isso, do ponto de vista do cenário em Pernambuco, é extremamente positivo. E a nossa militância ainda não entrou na campanha. Lula ainda não entrou nessa campanha, e ele tem uma aprovação maior do que Eduardo Campos em Recife, pela pesquisa que nós temos. Acredito que com esses elementos, o PT vai ter uma vitória em Pernambuco e isso vai nos ajudar a ter uma expressiva vitória no âmbito nacional.
Blog do Rovai – Como o senhor tem avaliado os movimentos do ex-governador Eduardo Campos e essas críticas mais duras que ele tem feito ao governo federal?
João Paulo – Olha, com estranheza, com muita estranheza. Porque Eduardo foi muito ajudado pelo governo federal. Eduardo teve um apoio irrestrito de Lula, desde a entrada no ministério até a eleição dele para governador. O Lula cresceu o investimento no estado e, de uma hora para outra, ele mudou de posição, com críticas muito duras ao governo e à presidenta Dilma. Não procede o distanciamento de Lula, com essa crítica que está fazendo a Dilma, mas acho que nós estamos vendo que o cenário que ele construiu, tanto em Pernambuco, quanto no âmbito nacional, não vem se concretizando. Aécio já supera ele com quase o dobro das intenções de votos, aquela perspectiva que ele tinha de ir para o segundo turno não está se tornando visível, e isso faz perder apoios. Eles não conseguiram consolidar uma aliança que tenha um tempo no programa eleitoral que possa garantir o crescimento nas pesquisas. E, a meu ver, isso tende a fazer com que ele perca apoio tanto em Pernambuco quanto no âmbito nacional.
Blog do Rovai – Na sua avaliação, tem aí um nível de traição nesse rompimento? Ou o senhor não avalia desta forma?
João Paulo – Não, eu acho que ele fez uma opção política, de sair do palanque que deu tão certo em Pernambuco e se aliar a nossos adversários políticos. Ele está preferindo o DEM e o PSDB ao nosso campo. Para quem quer construir uma nova política isso é uma contradição.
Blog do Rovai – Isso em Pernambuco, né?
João Paulo – É. Roberto Magalhães, Jarbas [Vasconcelos], Inocêncio Oliveira, Joaquim Francisco, Marco Maciel e todo esse time que antes era considerado da direita conservadora hoje faz parte da chapa do Eduardo.
Blog do Rovai – E, no sentido da disputa pernambucana, muita gente tem estranhado essa aliança do PT com o PTB até pela origem do senador Armando Monteiro.
João Paulo – Não, veja bem, nós estamos juntos faz tempo. O PTB já participou do meu governo quando eu fui prefeito. Nós apoiamos, no segundo turno, a eleição de Eduardo, e o PTB veio a apoiar. Nós apoiamos Eduardo na reeleição. Então estamos juntos, o palanque está mantido do lado de cá. O Eduardo é que saiu e está com DEM e PSDB, com as lideranças que lhe falei agora.
Blog do Rovai – E do seu ponto de vista pessoal, o senhor foi candidato a vice na chapa de Humberto Costa, foi uma eleição muito difícil para a prefeitura em 2012 e o PT teve um resultado muito ruim, e agora? É outra eleição? Como está a relação com o ex-prefeito João Costa, por exemplo?
João Paulo – Acho que esse momento foi vencido no PT e parece que se aprendeu com a derrota. Ele está construindo a candidatura dele para deputado federal, eu estou para o Senado. Ele não criou nenhum tipo de obstáculo para meu nome, fui escolhido por unanimidade e todas as pesquisas que temos feito têm dado uma liga muito grande, talvez repetindo, num universo menor, a aliança que elegeu Lula. Eu acho que vamos ganhar a eleição aqui em Pernambuco. Quando o Lula se tornou presidente ele também se aliou a um grande empresário, o nosso José Alencar. Naquela época era um operário de fábrica, um peão. Agora é um ex-prefeito que está com aliança com quem sempre esteve do nosso lado. Então não há nenhuma contradição.
Blog do Rovai – Se o senhor tivesse que dar um conselho para a presidenta Dilma para enfrentar o Eduardo Campos, o senhor que conhece tão bem o ex-governador, o que diria?
João Paulo – Eu acho que está faltando uma centralidade maior no PT. Acho que tem que melhorar a articulação política interna no PT e na base, para que não se cometa erros que foram cometidos e que a oposição tem tentado se aproveitar para criticar nosso governo.