O jornalista Fernando Rodrigues, que conheci quando ainda era trotskista lá no campus da Universidade Metodista, tem desempenhado há alguns anos o papel de setorista pra questões do financiamento da mídia independente na Folha de S. Paulo, de onde, consta, foi recentemente demitido. De tempos em tempos ele busca, com informações levantadas no governo federal, prejudicar veículos que têm tido um papel importante na oxigenação do ambiente midiático. E atira na política de pulverização das verbas publicitárias, como se defendesse com isso o interesse democrático. Na prática, apenas faz o jogo dos donos da mídia tradicional.
Mas dessa vez Fernandinho, como era conhecido na universidade, jogou pesado. Ele publicou um texto a 1h58 da madrugada de hoje no seu blogue e talvez pelo adiantado da hora cometeu uma série de devaneios matemáticos. Acontece que os devaneios deturpam todos os dados e são prejudiciais apenas a um lado, o dos veículos que Fernando Rodrigues quer impedir que existam e tenham o legítimo direito de disputar verbas no mercado publicitário.
A tranquilidade abunda do lado de cá para tratar deste tema. Em primeiro lugar, porque pela reportagem de Rodrigues a Revista Fórum é o site com maior audiência de todos os citados e foi o que recebeu o menor volume de publicidade entre todos. E exatamente por isso, nenhuma linha do texto é dedicada à Fórum. Que também não entra nas contas de Rodrigues. Isso não quer dizer que não seremos solidários com os outros veículos parceiros de blogosfera. Porque eles não receberam nada a mais do que merecem. Muito pelo contrário.
Vamos às armadilhas Rodriguianas
1) A primeira coisa que se precisa explicar ao Fernando é que ele não pode pegar o volume de recursos do ano recebido por uma publicação e dividir pelos visitantes únicos de um único mês. E escolher pra isso exatamente o mês de menor audiência na internet, dezembro. Trata-se de uma clara manipulação estatística. Fernando pega, por exemplo, os R$ 618,2 mil recebidos da Caixa e do BB pelo Conversa afiada e divide por 236 mil visitantes únicos de dezembro/2103, o o que resultaria num custo por visitante de R$ 2,60. Hã? Como assim? Dividir o volume de recursos do ano todo pelos visitantes únicos de um único mês, de onde ele tirou isso? Para o leitor que não é do ramo entender seria o mesmo que dividir todo o recurso do ano arrecadado nos jogos do Morumbi pela quantidade de pessoas que foram ao estádio em dezembro.
2) Ao mesmo tempo Rodrigues pega todo o recurso recebido durante o ano inteiro pelo Terra, que teria sido de R$ 5,5 milhões, e divide...tchan, tchan, tchan pela audiência de 24,9 milhões de visitantes únicos de, segundo o texto, 2013. E não de apenas um mês. E aí chega a um custo por visitante único bem menor.
3) Em relação à Fórum, Rodrigues preferiu não fazer contas. Claro que nos deixou de lado porque já estava tarde e não com base numa certa seletividade jornalística. Mas seguindo o padrão das contas dele, Fórum que teve 470 mil visitantes únicos, segundo os dados ele, em dezembro de 2013 e recebeu ao longo do ano a impressionante cifra de R$ 58,2 mil das estatais citadas, teria um custo mesmo assim menor que o do Terra, que seria de R$ 0,21. O da Fórum seria de R$ 0,12. Mas aí a conta não foi feita. O leitor do Rodrigues não tem o direito de saber disso. Reportagem não pode ser correta, tem que ser sacana.
4) Acontece que todas essas contas valem muito pouco, porque não há lógica alguma em nada disso. O mercado não usa visitante único como base em nenhuma plataforma. Visitante único é o mesmo que leitor, ouvinte, telespectador. Ou seja, se eu for ler a Folha todo dia quando um anunciante for contratar a publicidade ele só me contará uma vez durante o mês? Se eu vejo a Globo todos os dias minha audiência é contada só uma vez durante o mês? Evidente que não. Por isso o mercado usa como referência o critério de page views na hora de comprar publicidade na internet. Isso vale para o UOL, pro Globo e pra Fórum.
5) Os veículos que Fernando Rodrigues diz ter audiência limitada, por exemplo, tem mais audiência que IstoÉ na internet. Basta ele ir lá no Alexa e comparar. Nem é necessário pedir estatísticas para empresa privada. No caso da Fórum, eu topo abrir o Analytics na frente dele (o Analytics é do Google, que não é bolivariano) pra mostrar que limitado é o jornalismo que deturpa números para forjar uma tese que não se sustenta sem fraude matemática.
Enfim, a lista poderia ser grande. Há outras muitas incoerências na matéria da Folha, assinada pelo blogueiro do UOL. E se o Fernando Rodrigues desejar, estou à disposição para debater com ele essas contas. Porque seriedade com os dados e suas correlações é o mínimo que se espera de quem diz respeitar a profissão.