Na sociedade informacional um dos indicativos que permitem avaliar quanto um país está se preparando para não perder o pé de mudanças estruturais, tanto do ponto de vista produtivo e científico, quanto cultural e educativo, é a porcentagem da população que está conectada à internet. Há muitos outros, mas este permite entender o quanto a sociedade está envolvida com as novas formas de relacionamento, negócios, processos etc.
A Coréia do Sul costuma ser utilizada como exemplo nesta área. Em 2007, 99% da população já tinha acesso à banda larga. No Brasil, segundo a mais recente pesquisa do Comitê Gestor da Internet, em 2013, apenas 51% da população tinha acesso à rede mundial. E desses só 66% à banda larga.
Comparado com a Coréia, os dados brasileiros são pífios. Mas sua tragédia não é fruto do acaso, mas de uma política desastrada que teve seu ápice no quadriênio que está se encerrando e que teve à frente do ministério das Comunicações, o petista paranaense Paulo Bernardo.
Em 2010, o Brasil tinha um Plano Nacional de Banda Larga que iria ser implementado com o fortalecimento da Telebras. O plano previa levar acesso de qualidade a uma boa parte do país que era ignorada pelas teles e ainda tinha por objetivo incentivar a indústria nacional do setor. Com a chegada de Dilma à presidência e Bernardo às Comunicações, o plano foi jogado no lixo e se transformou num arremedo onde conexões de 1 mega seriam vendidas a 35 reais. Nem isso nunca funcionou.
O resultado pode ser observado agora nos resultados da última pesquisa do CGI. Em 2010, o Brasil ocupava o quarto lugar em proporção de conectados na América do Sul e estava praticamente empatado com os primeiros, Chile Argentina e Uruguai. De 2010 para cá, o Brasil despencou. Hoje é o sexto em proporção de conectados no continente e foi ultrapassado por Venezuela e Colômbia. E está numa posição distante, por exemplo, do Chile que tinha 45% de conectados em 2010 (o Brasil tinha 41%) e que hoje chegou em 67%.
Ao mesmo tempo que retardou a conexão o desastre das políticas aplicadas por Paulo Bernardo permitiram às teles cobrar um dos preços mais altos do mundo por megabite no Brasil. Segundo pesquisa do professor Samy Dana, da FGV, o valor cobrado aqui é praticamente 100 vezes maior do que o do Japão, 50 vezes mais caro do que na Coréia do Sul e 8 vezes maior do que na Holanda.
E a pesquisa do CGI também aponta isso, que a maior parte dos brasileiros que não estão conectados tem o preço do serviço como maior impedimento. O resultado é que na Classe A, 97% da população tem acesso a Internet e na classe B, 78%. Ja na Classe C o índice cai para 49%. E nas classes D e E despenca para 17%. Ou seja, na Classe A temos índices sul-coreanos de conexão. Nas classes D e E, estamos próximos ao Quênia e outros países africanos. A opção pelo mercado e com pouca participação do Estado vigente no Brasil está sendo responsável pelo aprofundamento das desigualdades sociais. E vai ter impactos futuros bastante relevantes. Não se faz um Brasil mais justo olhando-se apenas para trás. É preciso olhar pra frente. E o que está à frente é a sociedade do conhecimento que poderia melhorar nossa educação, produção científica, negócios e mesmo a saúde. Há experiências excepcionais de atendimentos clínicos à distância para algumas especialidades tendo a banda larga como instrumento de aproximação entre paciente e médico. Num momento em que Dilma discute quem deve ser o novo ministro das Comunicações, seria muito interessante que essa pesquisa do CGI fosse levada em consideração. O ministério das Comunicações numa sociedade informacional não é para amadores. E nem para entreguistas.