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O amigo Pablo Ortellado, professor da USP, escreveu recentemente o seguinte recado no Facebook:
O projeto de realizar a Copa do Mundo no Brasil foi um equívoco. Os custos sociais são altos e os benefícios incertos. O governo, no entanto, não tem mais o que fazer. Já se comprometeu e já fez a maior parte das maldades. Os protestos, por sua vez, são inevitáveis -- e, acredite, serão grandes. Para esses protestos, não há demandas atendíveis, porque remoções, lei da Copa e estádios já foram todos realizados. Só uma demanda dos manifestantes, que é transversal, pode ser atendida: uma reforma da polícia, com regulação das armas menos letais, fim dos autos de resistência e a criação de corregedorias fortes e independentes (assumindo que a desmilitarização é um processo de longo prazo). Só uma reforma da polícia pode talvez mitigar o antagonismo crescente entre manifestantes e governo. Mas, claro, isso implicaria o governo arriscar seu único instrumento de garantia da ordem: uma polícia violenta e assassina."
Eu não concordo com o post como um todo. Acho que a Copa não é assim tão deletéria ao país. Não a considero um equívoco. E acho que só por ter se tornado um espaço para a discussão de políticas públicas no Brasil, ela já tem seus méritos. Quando alguém quer padrão Fifa na educação, isso é ruim? Eu acho é ótimo.
Mas não é esse o debate que me leva a puxar o amigo Pablo Ortellado para este espaço. É que acho que ele tocou num ponto fundamental. A necessária democratização da polícia no Brasil e o fim da Polícia Militar pode ser uma bandeira comum.
Se há uma coisa que de fato torna a democracia brasileira em algo menor do que poderia ser, esse algo é a PM. Ela é hoje quase que um ente paralelo. Em São Paulo, o que se diz é que o atual secretário da Segurança Pública é o tempo todo boicotado pela tropa. E tem que ficar assumindo posições com as quais não concorda para não perder o pequeno controle que ainda exerce sobre ela.
Em Brasília, a tropa está fazendo uma tal de "operação tartaruga", que significa deixar a bandidagem deitar e rolar. Pra pressionar o governador e fazê-lo atender suas demandas.
Ao mesmo tempo, as principais vítimas do descontrole policial são os movimentos sociais. Em todos os cantos do país.
Há uma bandeira possível de nos unificar a todos. E independente do governo apoiar ou não se interessar por ela, os movimentos todos poderiam abraçá-la.
Uma reforma na polícia e o fim da militarização vale a pena. Por que não transformar isso na nossa luta conjuntural?