Acompanhar a vida de Sharon é percorrer a criação do Estado de Israel e sua expansão territorial em suas diferentes fases. Suas carreiras militar e politica, demonstram claramente como essas duas dimensões se articulam no Estado israelense. Desde as chamadas guerras árabes israelenses (1948, 1956, 1967 e 1973), à invasão do Líbano, em 1982, até a expansão dos assentamentos em territórios palestinos nas décadas de 90 e 2000.
Sua carreira politica começa já em sua vida militar. Filiado ao partido Likud, teve vários cargos ministeriais entre 1977-1992 e 1996-1999. Em 1983, o governo de Israel constituiu uma Comissão que o responsabilizou pelos massacres ocorridos nos campos de refugiados palestinos no Líbano (Saabra e Chatila), quando então ficou conhecido como “Açougueiro”. Mas em 2000, volta de maneira triunfal tornando-se do líder do partido. E de 2001 se torna primeiro-ministro Israel, cargo que ocupa até 2006.
Pode-se dizer que foi o responsável direto pela Segunda Intifada (Al-Aqsa), que teve início em setembro de 2000, quando fez uma provocativa visita a Mesquita Al-Aqsa ou Monte do Templo, para os judeus. Em 2005, iniciou o processo de dos colonos judeus da faixa de Gaza. Qual foi a contribuição que ele deu para Paz na região? Creio que o historiador Avi Shlaim resumiu, como ninguém, o principal problema que envolve a criação do Estado Palestino: a apropriação de terras e a construção da paz são simplesmente incompatíveis.Infelizmente, o Estado de Israel escolheu a terra e Ariel Sharon representou como ninguém essa tradição politica que, segundo Avi Shlaim, esta alicerçada em um dos principais fundadores do sionismo revisionista, Zeev Jabotinsky . Em artigo escrito em 1923, intitulado “A Muralha de Ferro (nós e os árabes)”, Jabotinsky defende a ideia de que o uso de meios pacíficos por Israel depende da atitude dos palestinos em relação ao sionismo e não da atitude do sionismo em relação a eles.
No entanto, é interessante notar que o próprio Jabotinsky reconhecia que a sua proposta de expandir da ocupação da palestina pelos judeus, protegida por uma “muralha de ferro” era fortemente marcada pela lógica do colonialismo. Segundo suas próprias palavras: “Todo povo nativo irá resistir aos colonizadores estrangeiros enquanto perceber qualquer esperança de se livrar do perigo da ocupação.”
Em 2002, o governo de Ariel Sharon resolveu materializar o sonho da Muralha, iniciando a construção de um muro cercado por postos de controles do Exército separando Israel da Cisjordânia. Ou seja, Ariel Sharon levou adiante como ninguém o que para Jabotinsky era uma utopia.
Por que ele está sendo tratado como uma das lideranças políticas mais importantes do nosso tempo? Você acha que ele merece esta distinção?
Bem, para responder a essa pergunta é preciso perguntar quem e quais os critérios estão sendo utilizados para julgá-lo como um líder. A grande mídia aborda o tema da pior forma: Bom para os judeus, ruim para os palestinos. Um relativismo que nos coloca diante de armadilhas perigosíssimas que tem por consequência polarizar o problema entre judeus e palestinos e não de opções políticas ideológicas. O ex-presidente Bush não hesitou em qualificá-lo como “um homem da paz", quando ele se tornou primeiro-ministro. Mas de que Paz estamos falando? Tentando apagar a imagem de “açougueiro” e destacar o seu pretenso pragmatismo a mídia passou denominá-lo de "the bulldozer”. Um “bulldozer” maquiavelicamente sagaz, sem dúvida nenhuma. Um bom exemplo é o que ocorreu na Faixa de Gaza. Sharon apresentava a retirada de Gaza como uma grande contribuição para a paz baseada em uma solução de dois estados. Seria o momento da “redenção do Açougueiro”. Deve ter ficado satisfeito quando extrema direita israelense criticou-o por entender que se tratava de uma verdadeira humilhação para as Forças de Defesa Israelenses. Com isso, ele se deslocou para as forças políticas de centro no espectro partidário em Israel, fundando o Kadima. Mas, no ano seguinte ficou claro a sua tática. Por volta de 12 mil colonos judeus se estabeleceram na Cisjordânia, reduzindo ainda mais a possibilidade de um Estado palestino independente. Esse é o seu legado, sempre que falar de paz num dia, promova a ocupação de territórios palestinos no outro.