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Por: Dríade Aguiar, do Facebook
Você que vai ler este texto provavelmente não me conhece. Eu sou a Dríade Aguiar e tenho 23 anos. Sou negra e nasci na periferia de Cuiabá. Hoje moro na Casa de Brasília, vivendo o Fora do Eixo, grupo ao qual pertenço desde os 16. Por dois anos morei na Casa de São Paulo, onde conheci e convivi por quase um ano com a Beatriz Seigner. A quem eu já tive como uma amiga. Faz vários dias que estou escrevendo este texto. E pensando se devo ou não publicá-lo. Depois de tudo que tenho visto nos últimos dias, decidi que não vou ficar mais com essa angústia guardada só pra mim. Eu sou uma das escravas do Fora do Eixo. A Beatriz não, ela é alta, branca, bonita e vem de uma família de elite. Por isso ela pode escolher. Ela sabe o que quer. E por isso pode dizer que eu sou apenas uma escrava que segue ordens de um líder de uma seita. Por isso talvez em breve ela apareça na capa da Veja, como a moça corajosa que denunciou os bárbaros do Fora do Eixo. E salvou os escravos que agora poderão ser seus assalariados, no máximo assistentes de sua direção. Tô impressionada como algumas pessoas passaram a nos atacar a partir de um relato repleto de invenções fraudulentas de alguém que eu ja achei que foi parceira. De alguém com quem trabalhei lado a lado por quase um ano de graça, sem receber nada dela, fazendo planos de comunicação pra divulgar seu filme e ajudando a agendar exibições. E ao mesmo tempo, quando ela ficava tempo o suficiente perto, dividindo pensamentos, ouvindo música, fazendo rango e planejando junto. A Beatriz entrava na nossa casa na hora que bem entendia. E ficava o quanto desejava. Quem conhece nossas moradias coletivas sabem que elas são abertas, que tem sempre um monte de gente nelas. Que todos podem entrar e sair a qualquer momento. Aliás, a Beatriz não fala no texto dela, mas ela teve uma relação com um dos moradores. Não era um namoro, era um outro status, mas teve. E agora ela e a Laís vêm dizer que quem mora na casa do Fora do Eixo só pode ficar com quem é de lá. Como assim? Ela não era da casa e ficava com um morador de lá. Mas isso não interessava dizer. O que importavam era nos transformar em monstros. Como alguém pode ter guardado tanta mágoa e não se incomodar nem um pouco em mentir loucamente pra acabar com um projeto? Um projeto de vida. Sim, eu vivo no Fora do Eixo porque eu quero, porque gosto, porque tenho feito coisas que nunca faria se não estivesse nele. Já li muitas vezes o seu texto Beatriz. Umas quinze, vinte vezes. E sempre paro no ponto onde você nos chama de escravos pós-modernos. Se alguém escravizou alguém nessa história foi você. Eu investi minha força de trabalho, trabalhei pra você sem cobrar nada pensando que éramos parceiras, que estava construindo algo pro cinema e pros cineclubes brasileiros. Você tem coragem de dizer na minha cara que eu não dei um duro danado para divulgar o seu trabalho? Tem coragem de dizer na minha cara que não éramos parceiras? Tem coragem de dizer na minha cara que eu não fiz um plano de comunicação que levou o seu filme a ser exibido em lugares que ele nunca iria passar nem perto? Eu adoraria poder te dizer um monte de coisas frente a frente. Se você é tão corajosa assim pra nos difamar, pra nos chamar de escravos, porque você não aceita um debate franco sobre o nosso projeto de cultura? Porque não expõe de forma clara sua lógica financista de cultura? Porque não diz claramente que se acha artista e que por isso tem que ganhar muito mais que eu pra manter seu status quo? Beatriz, você poderia ser mais honesta. Poderia dizer que tudo que você decidiu “denunciar” não tem a ver só com o que fazemos ou com o que você diverge das nossas propostas. Tem a ver com outras questões subjetivas. E você misturou tudo pra tentar acabar com um projeto. Você está sendo mimada e egoísta, Beatriz. Pense nisso. E como você tá dizendo que não debate com o Pablo, que tal debater comigo? Que sou apenas uma escrava. Uma escrava pós-moderna. PS: Está garantido o direito de resposta a Beatriz Seigner. Aliás, desde domingo à noite a cineasta decidiu organizar sua frotilha de ataque a reputações contra mim e ao Antonio Martins por termos feito uma entrevista que ela não gostou. E para a qual foi convidada. É uma pena que um debate sobre cultura tenha chegado a este ponto.